Dia de neve,
tecnicamente dizendo. Na verdade, estamos sem aula por um tempo graças à
nevasca que chegou aqui em Ontário.
Quando a neve abaixou, me agasalhei bem e
saí rumo à praça, eu não estava aguentando mais ficar trancada em casa depois
de três dias sem sair por causa da neve e o tempo frio não era nenhum incomodo,
pelo contrário, até me agradava.
Passei a mão tirando uma fina camada de neve
do banco que acumulou no pouco tempo entre sei lá quem limpar e eu sentar. Abri
meu “O Ladrão de Raios” na página 176 e comecei a ler esperando Percy encontrar
com a Medusa e acontecer tudo que eu já sabia, talvez por ser a segunda vez
lendo. Não importa, eu gosto, mitologia grega me atrai, posso dizer que é a
única matéria de história que eu realmente me interesso e importo, apesar de
não gravar muito bem os nomes dos deuses.
- Posso me sentar?
-
À vontade.
- Percy Jackson? Não
está meio grandinha para isso?
- Não se tem idade para
ler Justin – o olhei. – Isso não é Chapeuzinho Vermelho.
- É bom? – fechei o
livro e o pus no meu colo segurando.
- Eu gosto, mitologia
grega me agrada.
- Poderia até tentar
ler, mas não curto muito leitura.
- Eu sei – abri o livro
de novo e tentei recomeçar a ler. – Talvez se você parasse de jogar vídeo game
quando está estudando, se interessasse mais.
- Onde viu isso?
- Tem imagem por toda a
internet, basta procurar.
- Deve ser disso que a
minha mão estava falando então.
- Vou confessar que você
deu uma ideia para suas... como é o nome? – parei de ler de novo, na verdade,
nem sei mais se estava lendo alguma coisa.
- Beliebers?
- Esse troço aí – voltei
para o livro e descobri que eu não fazia à mínima ideia de onde eu lia.
- Uma má ideia seria!?
- Não, uma boa. Nem todo
mundo curte estudar – desisti do livro de uma vez segurando ele em meu colo e
me virei para o Justin. – O que você veio fazer aqui?
- Talvez o mesmo que
você.
- Não vejo nenhum livro
em suas mãos.
- Você só veio aqui para
ler?
- Não, ninguém suporta
três dias trancados em casa.
- Tenho que concordar,
mas para falar a verdade estou até feliz.
- Claro, teve que adiar
as viagens por causa da neve. Acertei o motivo?
- É sim, posso ficar
mais tempo em casa, pena que foi literalmente em casa – ri, mas logo fechei a
cara, senti algo estranho como se estivesse sendo observada. Não gostei nem um
pouco daquilo. – Que foi?
- Nada, nada, acho.
- Então ta – Justin
continuou falando alguma coisa que eu não consegui prestar atenção, a sensação
de que estava sendo observada continuava, eu olhava para os lados e
principalmente para uma pequena barreira de arbusto um pouco perto de nós
procurando algo. – Lua!?
- Hã? Oi? Que foi?
- Você ouviu alguma
coisa que eu disse?
- Desculpa Justin, mas
ouvi não. To com uma sensação muito estranha.
- Que sensação?
- Parece que estou sendo
observada, que estamos sendo observados e isso está ficando cada vez mais forte
– ele franziu o cenho me encarando, talvez por alguns segundos estivesse me
achando louca, mas depois olhou por trás de mim.
- Droga.
- O que?
- Droga, droga! Vem! –
ele me puxou pelo braço, levantando e me carregando junto.
Quase meu livro cai no chão. Começamos a
correr para sei lá onde.
- Onde estamos indo?
- Eu não sei. Põe o
capuz.
- Para que?
- Põe o capuz! – resolvi
não discutir.
Pus o capuz com a mesma mão que segurava o
livro, por isso tive certa dificuldade. Ele corria desesperado e me puxava
junto, sendo que eu não estava entendendo nada.
Logo ele subiu o capuz também e olhou pela
quarta vez para trás, resolvi olhar também e me arrependi.
Não pude contar exatamente e até preferia não
conseguir contar, três paparazzi já são o suficiente para me apavorar ainda
mais, o pior, é que eu tinha certeza que não eram apenas três.
Podia ser qualquer outra pessoa, mas por que
paparazzi? Por que não podia ter outra pessoa com o Justin agora, tinha que ser
justamente eu?
Desespero.
Sabe aqueles momentos em que você pensa que
nada pode piorar, mas é aí que piora mesmo? Parece que esses momentos adoram
acontecer comigo nas piores situações possíveis, como agora.
A minha sorte era que o capuz da blusa era
grande o suficiente para tampar bem o meu rosto, batia em cima dos meus olhos,
mas não atrapalhava a visão. Assim, talvez, as várias fotos que aquelas pessoas
tiravam de nós dois não revelasse que a garota correndo com Justin, era eu. Meu
medo era que tivessem conseguido fotografar meu rosto lá no parque, mas
procurei não pensar muito nisso. Era realmente o meu maior medo e parecia que Justin
também se preocupava, porque, uma hora ele parou e eu quase desequilibrei, mas
fiquei firme. Ele olhou de um lado e de outro, mas ficou parado ali mesmo, a
única reação foi me abraçar e eu não pensei duas vezes em enterrar meu rosto em
seu peito para acabar com qualquer chance deles tirarem fotos mais “objetivas”
de mim.
Podia perceber os flashes, eram mais fortes
do que uma câmera digital normal. Não era apenas uma, não era flash suficiente
para apenas três câmeras, qual é!
- Para onde vamos agora?
Estamos rodeados – a sensação que eu tinha era que ele mexia a cabeça de um
lado para o outro procurando uma saída para nós dois de um jeito preocupado,
mas isso sua voz já denunciava.
Ele também estava assustado, talvez não tanto
quanto eu, talvez mais ou menos, mas assuntado.
Tentei me acalmar, esquecer um pouco do
desespero e ver se raciocinava. Comecei pela respiração atualmente ofegante e
procurei dar um juízo as minhas ideias.
- Já sei!
Corri sem largar a mão dele um segundo
sequer, ou seja, carreguei junto comigo o puxando.
Acabou que os paparazzi ficaram para trás de
nós, então a minha frente estava livre, mas não era seguro levantar o capuz,
apenas ajeitei o suficiente para que eu pudesse enxergar um pouco melhor.
Eu podia sentir os flashes até de olhos
fechados e as pessoas da rua – pelo menos as poucas que observei – olhavam
aquilo boquiabertas, como se fosse o evento do ano graças à chuva de luzes
brancas que saiam das maquinas profissionais daqueles caras.
Virei em uma esquina e entrei na primeira
loja, quase derrubando Justin pelo puxão surpresa. Fui até o balcão e procurei
falar rápido, mas menos ofegante possível.
- Precisamos nos
esconder.
- Vão para os provadores
– ela mal terminou de falar e eu já corria carregando Justin comigo para uma
das cabines na lateral de loja.
Ficamos em estado de
choque por um tempo olhando um para cara do outro e ofegando, até que voltamos
a Terra e separarmos a nossas mãos desviado o olhar.
- Minha mão está suada –
comentei a esfregando na minha calça jeans.
- A minha também. Foi...
- A adrenalina, o
desespero, a surpresa, o medo. Tudo.
- Foi isso, exatamente
tudo.
- Droga! Meu livro! –
senti o desespero todo voltar quando vi que não o segurava mais. – Que merda!
- Será que você deixou
cair?
- Espero que não,
realmente espero que não. Imagina se aqueles caras encontram? Não. Não.
- Tem pelo menos seu
nome ou algo assim?
- Já passei da idade de
por nomes em livros.
- Isso quer dizer que
não. Mas calma, se quiser eu compro outro para você depois.
- Não cara, você não
entende. Aquele livro era meu! Eu comprei, quero ele, não sou muito fã de
substitutos.
- Certo. Certo. Mas
calma, até estar seguro lá fora, não podemos fazer nada – fechei os olhos e
tentei respirar fundo.
- Eram quantos? – olhei
para Justin.
- No começo eram quatro
depois apareceram mais nove – cheguei a xingar mentalmente por isso, se tinham
13 paparazzi, com certeza, pelo menos, algum tirou uma foto me identificando.
- Inferno – de tudo o
que eu havia pensado, “inferno” foi o mais leve que eu encontrei para dizer.
Eu olhava para tudo, menos para ele, desde a
minha aparência – e as minhas botas mais brancas do que preta por causa da neve
– pelo espelho ao detalhe do pano da cortina vermelha que tampava o provador.
Encostei a cabeça na
divisória e respirei fundo, louca para sair dali.
- Fiquei assuntada e,
com muito medo – confessei.
- Também fiquei – o
olhei.
- Mas você deve está
acostumado com ataques de paparazzi.
- Até que estou, mas não
assim. Realmente fiquei com medo.
- Por que se está
acostumado? Pior foi para mim! O medo de que pudessem tirar foto que me
reconheça ainda está em mim.
- E é disso que eu tenho
medo. Nunca precisei esconder ninguém, mas estou com você. Não me importo com
que tirem fotos de mim, mas eu estava preocupado contigo.
- Isso me lembra uma
coisa, tal coisa que nunca entendi muito bem.
- Que coisa seria?
- Por que você nunca
disse que eu era eu? Sabe, que a Favorite Girl que tanto fala sou eu?
- É isso que você quer?
Que o mundo todo saiba quem é você?
- Não! Não.
- Eu sabia disso, ou
melhor, imaginava. Sem contar que não seria certo dizer que você é a garota que
eu amava, ou melhor, que é a garota que amo, a minha verdadeira Favorite Girl
se nem ao menos juntos estávamos – ele começou a acariciar o meu rosto e deu um
curto passo para frente, a questão é que a cabine já era pequena então ele
ficou próximo até demais.
- Acho que eu devo
agradecer por isso – praticamente sussurrei, nem preciso explicar o porque.
- E eu sei um jeito.
A última visão que tive
antes de fechar os olhos foi dele observando o meu rosto e principalmente minha
boca já que nossas testas estavam quase grudadas em algum momento.
- Acho que é seguro
sairmos – virei o rosto e saí pela cortina vermelha de pano pesado, tirando a
minha blusa de frio e jogando no pé de uma arara, para qualquer coisa, não me
reconhecerem.
Fui até o balcão e pus
meus braços sobre o mesmo falando com a moça que estava tomando conta da loja
de roupas.
- É seguro sair?
- Acho que sim, o
alvoroço da rua acabou – quando me virei, ainda com um dos meus braços sobre o
balcão, vi Justin chegando mais perto com uma expressão muito frustrada.
- Justin, essa é
Angelie, ela é prima da Karol, a loja é da mãe dela e bom, parece que a Sra.
Clark te deixou em uma encrenca em Angel.
- Que nada! Ainda bem
que ela pediu para eu ficar aqui, se não teria perdido toda a diversão – rimos,
mas Justin ainda continuava com uma expressão frustrada.
- Prazer em conhecer
você Angelie.
- Relaxa, me chama de
Angel e o prazer é com certeza todo meu – ele nem sequer a cumprimentou, se a
olhou por cinco segundos foi muito, preferia me encarar um pouco zangado
enquanto eu sorria tranquila. – Quando Karol me disse que conhecia e era amiga
do Justin Bieber eu nunca acreditei, mas é verdade mesmo né!? – ela sussurrou
para mim. Ri.
- É sim. Bom Bieber,
melhor ir embora, não?
- Também acho. Vamos?
- Como assim “vamos”?
- Ué, nós dois rumo a
nossas casas. Entendeu o “vamos”?
- Bom, entendo que você
vai, eu fico e antes que proteste, número um: não estou a fim de ser seguida
por paparazzi de novo, foi adrenalina suficiente por um dia; número dois: vou
subir e falar um pouco com a Karol, tenho outros amigos se não sabe.
- Ah que se dane! Não
estou a fim de discutir com você e nem sequer fazer coisa parecida. Tchau. Foi
bom te conhecer Angel – ele foi falando e andando em direção a porta super
zangado. A fala foi encerrada pelo barulho da porta se fechando.
- O mesmo – Angel
respondeu, mas já estávamos o vendo passar pela fachada da loja pelas grandes
janelas de vidro ao lado da porta.
Apenas ri da situação.
- O que houve lá dentro?
Por que ele saiu tão zangado?
- Nada demais, ele só
estava irritado por causa dos fotógrafos. Então Angel, vou subir – bati no
balcão com a palma da mão e me afastei indo para uma porta ao lado de onde a
garota de cabelos negros e olhos verdes estava.
- Ah! Lua! – a olhei. –
Acho que isso é seu – ela levantou um livro de capa verde com o desenho de um
garoto dentro da água segurando o um chifre de Minotauro quebrado e em letras
douradas grandes dizendo: “O Ladrão de Raios”.
- Meu livro! –
praticamente gritei, depois peguei de sua mão e fiquei encarando, com os olhos
brilhando provavelmente, aquela capa meio esverdeada.
Mal abri a porta e voltei correndo para a
arara onde tinha deixado a minha blusa de frio e depois corri de volta para a
porta cinza subindo as escadas enfim.-----------
Cara, o número de visualização é alto, mas só tem UM comentário!? Como assim????? Por que?? Vocês não me amam mais é isso? D:
Ta, parei de drama.
Mas cara, cadê?