Pov's Houston
Confesso que esse tempo todo ocupada com meu
relacionamento com Justin, andei meio afastada dos meus amigos, mas não é por
mal e nem só pelo Bieber. Eu juro.
A questão é: me afastei de alguns porque
estava de saco cheio. Amo meus amigos e sou prestativa com eles, tento estar
junto, mas eu também tenho as minhas preocupações e eles não me ouvem quando
tento ajudar.
As coisas estão assim: Halle e Luka ainda estão
juntos, ou não. Hayley gosta dele e não acreditou quando eu disse que esse
“amor verdadeiro” que ela diz sentir por ele, vai passar se terminarem, então,
fica por aí fazendo besteiras, ficando com outros caras na frente do Luka, já
bebeu além da conta por muitas vezes... eu cansei de conversar, de tentar por o
juízo dela no lugar, e em uma dessas vezes nós brigamos sério. Ela queria – e
ainda quer – usar o Chris nessa onda de vingança por ele ser quem Luka mais
detesta até hoje e isso não vou permitir. Conheço Chris há dois anos e Halle
quase a minha vida toda, mas vou proteger o meu tigrinho nem que isso destrua a
minha amizade com ela ou com qualquer outro. Ele se tornou importante demais
para mim, meu melhor amigo, na verdade, é meu irmão e o amo demais, faço de
tudo para cuidar e protegê-lo.
Quem fizer mal a Christian Beadles, vai se ver
seriamente comigo.
Sem contar que, Chris está afim da Makena – e
vice-versa –, mas está confuso – palavras do próprio.
Karol não tem falado muito comigo, logo, não
tenho falado muito com ela, a verdade é que, parece que ela foge de mim, como
se fosse uma ladra com medo de que eu a prenda por algum crime, algum erro
dela, mas não sou uma policial e eu jamais a julgaria por algum erro, ela sabe
disso. Não entendo essa fuga.
Com esse aborrecimento com a Halle e o
afastamento da Karol, além do tempo que passo com Chris e Justin – ou só com
Chris –, tenho saído bastante com Kyle. Nós normalmente andamos de moto pela
cidade, depois paramos no porque e tomamos sorvete, coisas assim. Ele é um cara
realmente legal e o pai dele nos empresta a moto, assim cada um anda com uma,
Kyle com a do pai dele e eu com a do Kyle. Nós conversamos sobre tudo, ele me
disse que é afim da Hayley e que acha o Luka um babaca, e me pediu desculpas
por isso, mas concordei, Luka está um babaca, diz que ama a Hayley, mas está
longe de ser um bom namorado como já foi um dia. Halle está sofrendo, Kyle vê,
Luka também, Kyle gostaria de ajudar, Luka não faz questão.
Sou Team Harry Kyle.
Taylor anda ocupado com a natação, mal tem
tempo de respirar, pretende ganhar uma bolsa com os resultados. Megan e ele
vivem brigando, mas esses sim realmente se gostam. Falando na Megan, ela também
anda super ocupada com as cheerleaders e as notas, também está se importando
desde já com a universidade.
Ah é, esse ano tem a questão da universidade.
Quem é da parte dos esportes tem que se preocupar desde já por questão de
bolsa, mas para nós, meros mortais, não é tão assim, a maioria vai pagar pela
vaga e não lutar por gratuidade.
Halle e Karol sempre ficaram entre os 5
melhores da turma, isso desde que as conheço, provavelmente, as duas vão tentar
vagas em faculdades renomadas no Canadá ou até fora como Harvard, e é capaz de
conseguirem , apesar de que essas universidades normalmente aceitam
pouquíssimos candidatos. Eu não faço a mínima ideia do que Luka quer da vida,
sequer sei se vai para uma faculdade e, caso vá, um curso que quer fazer. Sei
que Karol pretende ser advogada e Hayley arquiteta, Tay provavelmente vai
tentar algo como Educação Física, Megan quer ser publicitária, Justin já tem
uma carreira sendo seguida, provavelmente não fará faculdade, Chris ainda é
novo para pensar na faculdade – então nos resta aproveitar esse único ano
juntos na escola e o ensinar a sobreviver por aqui.
E eu... realmente não faço a mínima ideia de
qualquer coisa relacionada a faculdade.
Mais para o meio do ano letivo nos inscrevemos
na OUAC (Ontario Universities' Application Centre), e fazemos um teste, de
acordo com a nossa nota desse teste e, talvez, uma entrevista, a faculdade irá
nos aceitar, ou não. Mas, alunos que podem contar com bolsas de esportes ou que
pretendem ir para uma faculdade renomada, precisam de um excelente histórico
escolar além do OUAC. Isso para quem ficar em Ontário. Quem for tentar vaga
para de intercambista ou ir para qualquer outro lugar mesmo no Canadá, são
outros testes.
Bom, eu não sou a melhor aluna da turma, mas
sou mediana, sempre dizem que posso ser melhor porque sou muito inteligente e
essa coisa toda, mas a verdade no geral é que odeio estudar, ou seja, não faço
o mínimo esforço, mas passo na maioria das vezes sem aperto – na maioria, não
todas. De qualquer jeito, eu deveria pensar em qual faculdade seguir, mas estou
embolada demais no meu presente para decidir meu futuro, de qualquer jeito, é
provável que meus pais abordem esse assunto mais dia ou menos dia. Espero que
aí sim eu consiga tomar uma decisão, mas enquanto isso, melhor voltar para o
problema dos meus amigos.
Resolvi aproveitar essa viagem do Justin para
fazer alguma coisa – e não ficar morta enfiada dentro de casa, comendo, mexendo
no computador e vendo televisão com a casa toda escura. Quero me reaproximar
dos meus amigos, deixar tudo bem resolvido, talvez, não me intrometer, mas
tirar essa sensação estranha de afastamento que rola entre Karol, Hayley, Luka
e eu.
Melhor começar com o mais afastado: Luka
Brass.
Peguei o celular e tentei ligar para ele,
ainda pensando no que dizer. Enquanto tocava incansavelmente, tive uma ideia
que me empolgou de verdade.
-
Ora! Que milagre!
-
Oi Luka, melhor deixar a ironia só por minha conta – acho que ele riu do outro lado.
-
Qual é Lua, vamos ser sinceros, é um milagre.
-
Ok, talvez realmente seja, por isso to te ligando. Quero me redimir.
-
Lá vem!
-
Posso?
-
Pode.
-
O que está fazendo agora?
-
Jogando Medal of Honor.
-
Não me surpreendo que esteja no vídeo game.
-
Não reclama que você também curte!
-
Não to reclamando oras, só to dizendo que não me surpreendo – pode até não parecer, mas estávamos
nos divertindo com a conversa. – Que tal
voltar aos velhos tempos Luka?
-
Qual o plano?
-
Me encontra na praça daqui a meia hora? Não esqueça de levar o skate!
-
A minha amiga está de volta! –
ele gritou e eu ri. – Demorou!
-
A gente se vê então amiguinho.
Desliguei já voando
escada a cima. Procurei uma roupa mais confortável: Short jeans escuro, blusa
justa preta e por cima, camiseta larga rasgada nas mangas e na gola e amarrei
uma blusa de frio na cintura para caso esfriar ou ventar muito – o que era
possível nessa época do ano. Para finalizar, calcei meu all star mais
confortável e surrado, depois peguei a cadeira da escrivaninha do meu quarto,
coloquei na frente do armário e subi nela, me estiquei até chegar ao topo do
guarda-roupa e tentei a todo custo pegar meu velho skate. Sim eu poderia cair
dali e sofrer um sério acidente, mas consegui descer viva e com o skate na mão.
A parte de trás da
prancha – no caso deck [n/a: no Brasil se chama “shape”] –
estava totalmente arranhada, o desenho estava praticamente destruído, mas ainda
poderia ser ver alguns pedaços em cores preta e rosa. A lixa – a parte de cima
do deck – estava meio gasta e as rodas muito arranhadas e gastas.
Definitivamente eu precisava de um skate novo,
mas tem um detalhe: agora tenho carro. Sem contar que, desde que fui para Nova
York, mal ando de skate, ele praticamente voltou do mesmo jeito que foi.
Peguei o celular e enfiei no bolso no short e
as chaves de casa em outro quando saí.
Na calçada, coloquei o skate no chão e fui
andando, eu ainda levava jeito, mas fiquei confiante demais. No meio do caminho
tentei uma manobra e quase fui com tudo no chão, então decidi continuar apenas
andando até me acostumar de novo, já que fazia tempo que eu não andava.
Quando cheguei à praça, Luka já estava lá, ele
sorriu para mim e logo começamos a andar. Nós apenas descemos na piscina,
fizemos algumas manobras e rimos, conversamos sobre coisas legais do passado e
do presente. Rimos mais. Era como se nunca tivemos problemas. Depois fomos ao
parque e compramos cachorro quente – o que foi meio difícil de comer, andando e
segurando o skate – enquanto ainda agimos como antigamente.
Mas nada mais era como antigamente, o presente
tinha coisas intensas que uma hora ou outra iria fazer o assunto pesar, era
inevitável. Então, depois de um ataque de risada por ele estar com mostarda na
ponta do nariz, nos encontramos sem assunto e o ambiente pareceu pesar.
- Lua... sei que o que está
acontecendo entre Halle e eu...
- Luka – o interrompi –
não quero falar sobre isso, já brigamos muito por causa desse assunto, tanto eu
com você, quanto eu com Halle, quanto você e Hayley. Poxa! Somos amigos há
anos! É errado estarmos assim. Sei que também tenho a minha parcela de culpa no
fato de termos nos afastados, ando tão preocupada com Justin, com nosso
relacionamento e a mídia, a escola e com diversas outras coisas, que mal tenho
tempo para mim, então me afogo em casa me dando um tempo de silêncio, achando
que estou fazendo bem. Enfim – resolvi terminar enquanto ainda parecia falar
coisa com coisa – só quero que a gente fique bem, não como antes, mas bem no
agora.
- Por que nada pode ser
como antes? – ele mais resmungou para si mesmo do que perguntou, mas respondi
mesmo assim.
- Porque não somos mais
como antes – ele perdeu o interesse na calçada e me olhou, parando de andar,
então eu parei também.
- É bom ter minha amiga
de volta – ele me abraçou.
- É bom ter meu amigo de
volta – correspondi o abraço.
Quando fui para Nova York, Luka era um garoto
magricelo de cabelo preto caído na testa – não chegava a ser como o do Justin –
que parecia mais novo do que seus 17 anos e com olhos azuis intensos e alegres.
Agora que estou de volta e perto dos seus 19 anos, Luka ainda tinha cara de
criança se não fosse a barba rala, mas era tão corpulento que não parecia ter
sido tão magro, seu cabelo estava cortado e jogado para cima e seus olhos eram
espertos e atentos, como de um adulto irresponsável.
- Hey cara! Tenho que
sair mais com você, tu só pega gata! – nos afastamos e olhamos o garoto a nossa
frente.
- Não! Eu não estou
pegando ela! – Luka respondeu meio rindo. – Gabe, essa é a minha amiga, Lua.
Lua, esse é Gabe, um amigo meu, a mãe dele trabalha com a minha sabe – assenti
para Luka e fiz um aceno com a cabeça cumprimentando o cara na nossa frente.
- Então quer dizer que
essa gata ta livre? – Gabe sorriu.
- Cara, eu não... – Luka
tentou corrigi-lo, ele sabia que eu iria com sete pedras na mão por ele ter me
chamado de “gata” por duas vezes e que “livre” não era bem como eu estava
naquele momento. Mas só dessa vez, Luka estava errado.
- E se eu tiver? –
respondi, provocando, intrigada com o garoto.
Ao olhar para ele, sabia que Gabe não era boa
coisa. Talvez pelo cabelo tingidos de loiro esbranquiçado, tatuagens, ou pelos
seus olhos cinzas firmes e sorriso arteiro, ou simplesmente pelas roupas largas
e rasgadas nas mangas. Talvez foi por isso que eu me interessei.
- Talvez nós pudéssemos
dar uma voltinha – ele apontou para um carro, um pouco atrás dele, estacionado a
beira do parque, sendo que, não podia estacionar ali.
- Uau! – foi o que
consegui dizer sobre o carro, estava mesmo impressionada, não sei por onde
começar explicar o porque, então, é melhor dizer que o carro parecia ter saído
de qualquer um dos filmes de “Velozes e Furiosos”.
- Impressionada? –
perguntou convencido.
- E tem como não ficar?
– me aproximei do carro.
- Cuidado para não...
- Cara – Luka o
interrompeu –, acredite em mim, ela sabe o que está fazendo.
- Vai dizer que a gata
entende de carro? – olhei pela janela, aquilo tinha até turbo!
Em resposta a ele, apenas sorri.
- Duvido – Gabe disse
cruzando os braços.
Encarei isso como um desafio e então, comecei
a dizer tudo o que tinha no carro e a perguntar coisas como: “quantos
cavalos?”. No final, o sorriso satisfeito e convencido dele só aumentou, mas
seus olhos me encaravam como se eu fosse um prêmio.
- Acho que vou ter que
tirar minha proposta de darmos uma volta de carro.
- Mas por que? – fiz
bico. – Eu ia adorar dirigir essa beleza – sorri convencida como ele, mas com
um ‘ar’ superior.
Gabe riu.
- Nenhuma garota encosta
no meu carro, ok? Mulher não sabe dirigir, só iria estragar tudo.
- E você está errado de
novo – Luka respondeu rindo.
- Aposto que dirijo
melhor do que você, Gabe.
- Aposta? – ele pareceu
se interessar por essa palavra. – Podemos ver isso qualquer dia desses, pode
ser?
- Com certeza.
- Beleza então. Na hora
certa eu te encontro – me afastei para ele entrar no carro, fui até o lado do
Luka que estava na calçada, na direção do pneu dianteiro. – Tchau gata, foi um
prazer te conhecer.
Logo Gabe sumiu das nossas vistas e então,
Luka resolveu quebrar o silêncio.
- Você ta doida?
- Talvez um pouco!
- Esse cara é...
- Sujeira? Eu notei.
- Mas então...
- Deixa comigo Luka, sei
o que to fazendo.
- Lua... – ele tentava
me repreender, mas ele se envolvia com esse cara também, Luka não podia muito
falar de “erros”, por estar cometendo vários e logo se tocou disso, então
respirou fundo e repetiu: – Não somos mais como antes.