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Amém! Sua casa é toda... bonitinha, sabe? Bonitinha, diferente de Nova York.
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Estamos em Stratford Joe, aqui tem 35 mil habitantes e não 8 milhões.
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Prefiro Nova York, esse lugar me parece tão... – ele pôs as mãos na cintura e
respirou fundo pensando na palavra certa – parado – me encarou.
Sentei no sofá e respirei fundo mais uma vez,
passando os dedos no rosto e me sentindo já sem paciência e cansada. O dia
tinha sido bom, a semana inteira, eu enfim tinha me visto livre de Nova York,
para agora Nova York vir até mim novamente.
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Você ainda não me disse o que veio fazer aqui, Joe – preciso nem comentar que
eu estava mais do que séria.
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Vim ver você – ele sentou do meu lado.
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Para que? A gente não tem mais nada e faz tempo! – o olhei.
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Mesmo assim, queria matar as saudades – ele disse com a voz suave, no caso, uma
suavidade do jeito Joe Thompson. Pôs a mão no meu queixo, mas desviei o rosto,
incomodada com a proximidade.
Ele
tirou a mão do meu queixo devagar, sem falar nada, eu não me movi até que ele
se afastasse.
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O que aquele merdinha estava fazendo aqui? – perguntou num tom mais rude.
Fechei os olhos com firmeza, percebi que não
ia conseguir esconder a história toda dele por muito tempo.
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Vamos dizer que somos amigos.
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Não foi isso que ele me disse. – Silêncio. – Lua, o que aquele cara estava
fazendo na sua casa quando eu cheguei!?
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O que te interessa a minha vida, Joe? – Levantei com rapidez, o encarando com
severidade. Ele sabia ser mau, e eu também. – Nós terminamos há muito tempo! Não devo satisfações da
minha vida para você, entendeu bem? – Respirei fundo. – Vai ficar quanto tempo?
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Pelo menos o final de semana – foi seco.
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Caso já não tenha um lugar pra ficar, nós temos um quarto de hospedes. Se for
ficar, pode levar suas coisas lá pra cima. É a primeira porta à direita.
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Vou aceitar.
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Então sobe, vou ligar pra minha mãe.
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Aproveita e liga pro seu amiguinho, vai, vai dar satisfações e pedir desculpas.
Não é uma coisa que a Lua que eu conheci faria, mas não sei quem estou vendo na
minha frente mesmo.
Subiu, sem nem mesmo me dar chances de
resposta, de qualquer jeito, não responderia.
Fui até a cozinha e liguei pra minha mãe.
- Filha! Que horas vai voltar? Justin vai
vir com você?
- Oi mãe. Ele disse que ia sim, mas
aconteceu um... imprevisto.
- O que houve? Ele teve algum
compromisso? Mas você vem?
- Mãe, temos visita.
- Visitas? Quem?
- Visita, no singular, mãe.
- Mas quem é Lua?
- Lembra do Joe?
- Não vai me dizer que...
- Ta se instalando no quarto de
hospedes nesse exato momento.
- Lua, Lua...
- Mãe! Eu te juro, não vou fazer nada.
- Mesmo? Me promete de verdade?
- Sim, sim. Ele só vai ficar aqui pelo
final de semana, Justin também.
- Preciso me preocupar?
- Só se ver a policia passando – riu. – Avisa ao papai, por favor?
- Claro! Vou ligar pra ele agora
mesmo. Até mais tarde filha, vou tentar voltar pra casa mais cedo.
- Eu agradeceria.
Desligou.
Aproveitei que Joe ainda estava lá em cima e
liguei para Justin, provavelmente não ia o ver o resto do dia, precisava falar
alguma coisa, dar alguma satisfação.
- Novas?
- Algumas.
- Boas ou ruins?
- Tem como ser boa? – ele ficou em silêncio. – Ele vai ficar para o final de semana.
- Todo esse tempo?
- Justin, é só até segunda, no máximo.
Depois disso tudo acaba e nunca mais!
- Assim espero.
- Justin...
- Não precisa falar nada Lua, deixa
pra lá. Vamos ao hospital ainda?
- Acho que nem dá agora, se não você
sabe quem teria que ir também.
- Ótimo, até isso esse cara estragou – fechei os olhos e respirei fundo
pela milésima vez na última hora, quando os abri, Joe estava na minha frente.
- Preciso desligar.
- Ele está aí perto, né?
- Exatamente.
- Isso vai dar algum problema?
- Não se você confiar e mim. Você
confia em mim? – Silêncio.
– Você confia em mim? – repeti
tentando não falar o nome dele.
- Confio.
- Então vai dar tudo certo. Agora
tenho que desligar.
- Não esquece que te amo.
- Nunca.
Desliguei.
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Até quando vai me manter aqui achando que sou idiota para não sacar que há
alguma coisa entre você e aquela menininha?
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Que eu saiba, não sou lésbica.
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Se não quer me contar, é porque tem muito mais coisa do que eu imaginava – não
Joe, não é hora de bancar o detetive. – Vocês estão namorando mesmo, não é?
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Não – E realmente não estamos.
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Mas evidentemente ele gosta de você – fiquei quieta. – Hum. To vendo que também
gosta dele.
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Joe, cala a boca.
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Agora eu tenho certeza que gosta dele.
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A onde você quer chegar?
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Quero que me conte sua relação com aquele cara.
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Chamou ele de “cara”, que avanço!
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Você não vai conseguir esconder de mim.
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Já disse que não devo satisfação da minha vida para você.
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Você gosta dele, você está com ele.
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Se deu pra adivinhar tudo, para que quer eu responda alguma coisa?
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Obrigado Lua, agora sei que estou certo – sorriu sínico, sua especialidade.
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Quer saber? Vai para o inferno e não volte nunca mais – ele riu.
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Agora sim estou começando a ver a garota que conheci!
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Vai se... – me interrompi, não por educação, mas porque resolvi não perder a
linha.
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Onde nós paramos? Ele gosta de você, você gosta dele. Ele disse que vocês são
namorados, já você disse que são amigos. E aí?
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Não estou namorando o Justin.
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Será que se eu ligar para ele, é isso que vai dizer?
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Fica a vontade – ofereci meu celular, o máximo que Justin faria era desligar na
cara dele. Ou contaria tudo, mas resolvi arriscar.
Achava que Joe não iria pegar o celular, mas o
desgraçado pegou.
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Ok. – pegou meu celular, mexeu e colocou em cima da mesa tocando no viva voz.
- Lua?
- Peeeeeeeeeeen! Resposta errada! Mas
ela está escutando –
Joe disse.
- O que você quer?
- Quero saber o que há entre vocês,
porque não me contam nada. Deve ser muito sério... Lua só sabe ser hostil, não que
eu não goste, sabe, adoro ver ela zangada, fica tão gata – Justin xingou. – Ou! Só ela fica gata, então vamos nos acalmar.
- Você chama a minha namorada de gata,
e ainda quer que eu me acalme? Ah, claro.
- Namorada? Então você realmente me
confirma que são namorados?
- Claro que sim! Já disse.
- Sim, mas, Lua me disse que eram só
amigos.
- Amigos?
- Sabe que não estamos namorando,
Justin.
- Ah, você está ouvindo.
- E você sabe que não estamos
namorando.
- Não ainda.
- Wow! Então ele confirma que não estão
namorando. Muito bem, já damos o primeiro passo. Agora o segundo: se não estão
namorando, o que rola entre vocês?
- A gente se ama – Justin respondeu.
- Own, que lindo, mas se fosse só isso eu já
teria visto essa carinha linda da Lua em todas as capas de revista junto com essa
cara de menina que você tem – esse jeito esnobe... como aguentei isso tanto
tempo? Me dá ódio! E só pensar que isso me atraia há pouco tempo atrás...
- Joe!
- Que foi Lua? Sabe que eu estou
dizendo a verdade, ninguém já viu esse seu lindo rosto – ele se inclinou pra frente para
trocar meu rosto, mas recuei com meu maxilar firme.
- Não encosta em mim – rosnei.
Nesse momento ouvi o telefone desligar, mas
não dei muita confiança, Joe me olhava penetrante, eu encarava aqueles olhos
azuis com raiva por ele estar fazendo todo esse circo, já ele continuava com o
sorriso de canto de boca.
E quando eu pensava que não tinha como piorar
mais, Justin invade a minha casa, xinga Joe do que lhe vem a cabeça e comete a
burrice de lhe meter o soco na cara. Joe, obviamente, revida e Justin quase
cai, mas volta a tempo de o segurar pela gola da jaqueta de couro preta antes
que ele o bata de novo. Joe segura a camisa dele também.
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Nunca mais encosta nela! – Bieber cuspia as palavras, com ódio saindo pelos
seus olhos.
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Você acha que pode comigo seu imbecil? – Joe disse entre dentes.
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Encosta nela mais uma vez, só mais uma, que você vai descobrir se eu posso ou
não com você.
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Eu tenho certeza que não pode comigo.
Joe o empurrou e eu sabia onde isso ia parar
caso não os interrompesse mesmo correndo o risco de levar um soco. Teríamos
sorte se Justin não fosse parar num hospital.
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Para! – gritei, minha voz saiu grossa o que indica que não foi alto o
suficiente, era a raiva saindo do fundo da minha garganta.
Corri e parei entre os dois, não cheguei a
tempo de evitar que Justin levasse o segundo soco, mas gritei mais algumas
vezes e parei a mão do Joe quando ele ia dar o terceiro – o que levaria Bieber
ao chão, com certeza. Soquei o maxilar do Joe, eu não tinha tanta força e
jamais ganharia uma briga com ele, nem seria louca de tentar, mas sabia que
seria o suficiente para que parasse. Funcionou uma vez.
Ele olhou para mim.
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Te ensinei bem.
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Mais do que imagina.
Joe e eu sempre nos olhávamos nos olhos, sempre
tivemos uma relação muito intensa, não como a que existe entre Justin e eu, mas
era forte, destruidora e magnética. Joe me transformou numa garota que eu não
sou quando estou com Justin, mas essa garota sempre volta quando estou com ele.
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Lua – olhei para Bieber, que acabara de se levantar atrás de mim, pareceu
querer cuspir, mas lembrou que estava na minha casa. Talvez sentiu o gosto de
sangue na boca. – Sai da frente, eu vou acabar com esse cara!
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Não, você vai para casa! – ele olhou para mim incrédulo. – Me escutou, Bieber,
vá para casa! Você não vai acabar com ninguém, muito menos na minha casa! Vai embora! – Mais uma vez
ele olhou para Joe, que sorriu sarcasticamente, o que o fez avançar, mas eu me
pus na frente.
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Seu imbecil! Você não ganhou isso! Nunca vai ganhar! Ela é minha! – Justin
gritava enquanto eu tentava segurá-lo – Ele sempre
vai ser minha! Como sempre foi.
Joe parou de sorrir.
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Sempre – repetiu com os olhos movendo de um lado para outro. Estava pensando
alguma coisa, importante demais para ligar para um cara que queria entrar na
luta com ele.
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Justin! Vai embora – o empurrei até a porta, segurei sua camisa, abri a porta
com uma mão e tentei jogá-lo para o lado de fora.
Fechei a porta.
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Você é maluco? – tentei usar um tom mais baixo. – Joe ia acabar com você!
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Eu ia acabar com ele!
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Não! Não ia! Eu conheço o Joe, ele ia fazer você ir parar em um hospital!
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Ele ia também!
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Não ia! Ele já fez isso várias vezes, você não é o primeiro que ele bate.
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Nem doeu.
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Os dois primeiros podem não ter doído, mas com o terceiro você ia parar no
chão, então ele ia chutar sua barriga até sua visão ficar turva e você cuspir
sangue. – Justin respirava ofegante ainda, muito mais do que eu, a adrenalina
nele era maior do que em mim. Mas pareceu se acalmar conforme eu falava. – Já o
vi fazer isso outras vezes Bieber, jogo físico com ele não resolve nada!
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Bom saber que era com esse tipo de cara que você se envolvia longe de mim.
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Não vamos começar com isso...
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Não vamos, para mim já acabou. Você me expulsou da sua casa.
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Pro seu próprio bem!
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Você me expulsou Lua! A mim! E não a ele! Você deveria tirar
esse cara da sua casa! E ao invés disso é a mim que manda embora! Talvez você
mereça esse tipo, Houston.
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Justin – ele levantou a mão como um “basta”, virou as costas e foi se afastando
de mim. – Justin! – era como se eu não tivesse falado nada.
Respirei fundo, tentando não deixar isso me
abalar, ainda tinha um outro cara para enfrentar. Encostei a mão na maçaneta e
contei até três, e então abri a porta.