(...)
Meus pais ficaram comigo até que eu parasse de
chorar, o que não demorou muito. Nunca fui do tipo de pessoa que chorava por
muito tempo, podia até fazer isso várias vezes até a dor passar de pouquinho a
pouquinho, mas não por horas.
Depois fui para o meu quarto, tomei um banho
para relaxar, meu corpo estava muito tenso. Coloquei um pijama, bati na cama e
dormi quase imediatamente. Chorar me dá sono, e apesar do banho – que
geralmente faz acordar –, aliviar o que eu estava sentido só com umas boas
horas de sono.
Senti lábios, não sabia se era sonho ou se
realmente estava acontecendo, mas esses se encontraram com os meus, eram
macios... correspondi e tive certeza que era real. Por que Justin viria no meu
quarto agora? Provavelmente já era muito de madrugada, e ele saiu daqui com
muita raiva de mim, talvez veio se desculpar, mas Justin não era assim. Ele não
viria, mesmo se achasse que estivesse errado não viria assim, também não teria
como invadir a minha casa, a portava estava fechada.
Percebi que os lábios eram finos demais para
serem do Bieber, e ele nunca ia passar a mão na minha coxa desprotegida pelo
lençol, pelo menos não quando eu estivesse tão vulnerável.
Abri os olhos e mesmo na penumbra pude
perceber Joe em cima de mim. O empurrei e ele quase caiu do pedaço da cama que
estava sentado.
Ele
se levantou e eu me sentei.
-
Que diabos está fazendo aqui? Depois de tudo lá em baixo você ainda ousa entrar
no meu quarto no meio da madrugada?
-
Pensei bem, e, resolvi te lembrar como eram os velhos tempos. Talvez você
caísse na real.
-
Cair na real? Não preciso cair na real, Joseph.
-
Claro que precisa! Já entendi, você não percebe a mesma coisa que percebi
quando cheguei.
-
E o que seria isso?
-
Você e aquele cara não combinam! Como poderia? Aquele franguinho como uma
garota como você – bufou.
Levantei a mão coçando a testa.
-
O que ouviu lá em baixo não foi suficiente para você entender, Joe?
-
Ah, aquilo... Pensei bem sobre aquilo e percebi que – ele fez uma pausa
dramática – a Lua que eu conheci não ia preferir aquele cara nem que fosse o
último caso. Por isso, vim te lembrar como eram os velhos tempos assim você
caia na real. Sacou?
-
Saquei... saquei que você é um idiota – o olhei, meus olhos já haviam se
acostumado com a escuridão da noite, então eu conseguia o ver bem, além do
mais, vinha uma luz fraca da rua, contribuindo para uma visão melhor.
-
Ora Lua...
-
Joseph, presta atenção, a Lua que você conheceu nunca existiu fora dali. Ela
nasceu em Nova York e morreu lá – ele riu em desdém.
-
Mais uma? Para Lua, para de mentir, para de tentar me enganar.
-
Pelo amor! – Resmunguei revirando os olhos. – Presta atenção em uma coisa, vou
tentar te explicar bem devagar: eu, Lua Margareth Houston, gosto de Justin Drew Bieber, desde antes mesmo dele se tornar o
famoso JB.
-
Eu, Joseph Ray Thompson, não acredito nisso.
-
Por favor, Joe! O que você quer por trás disso tudo, afinal? Qual a maldita
causa disso tudo? Invadir meu quarto? Sair na porrada no meio da minha sala de
estar, por que? Você nunca ligou para ninguém! E mesmo eu te dando o fora
várias e várias vezes ainda está atrás de mim! Você nunca foi de se rastejar
por ninguém, e por que, por que
Joseph, você está fazendo isso logo agora?
-
Por que eu te amo! – soltou de uma vez.
Me calei na hora, meus olhos se arregalaram
enquanto o via agitar os braços nervosamente e bagunçar ainda mais os cabelos
loiros com os dedos.
-
Eu te amo Lua. É. Infelizmente eu te amo e é por isso que vim até esse maldito
fim de mundo atrás de você, por isso fiz isso tudo! Não suportei ver você com
outro cara! Logo com aquele cara! Fui
substituído por um... por um... frangote meloso.
O destino merece palmas por todas as vezes que
nos surpreende e também por sempre esfregar na cara de todos nós, meros
mortais, que não temos controle de nada na vida. Até o homem mais racional de
todos há sentimentos. Até o mais improvável ser, alguma hora é pego pelo
coração, seja por motivos de dor ou alegria, ou simplesmente por razões de
amor.
Joe nunca havia dito que ama alguém, talvez só
quando criança e ainda para a própria mãe. Nunca havia sofrido por um coração
partido e eu fui a escolhida para lhe causar tal dor e isso me doía também.
Agora percebo que eu gosto do Joe, não o amo, não posso deixar o que eu sinto
pelo Justin de lado nem se eu quisesse porque Deus sabe a angustia que me
enterrei quando nos separamos, e essa angustia que nos levou a esse momento,
mas sim, gosto dele, do Joe. Apesar de tudo, ele foi especial para mim por todo
aquele ano, Harper me salvou do jeito que podia, mas sem ele... repito, apesar
de tudo, sem ele, eu não teria sobrevivido.
Ele foi me ver todo o tempo que fiquei no
hospital, e ficou comigo todos os dias, cuidava de mim quando nem eu podia, me
ensinou a transformar minha dor em algo que eu pudesse tirar do meu peito, a
segurar firme e continuar em frente.
-
Eu te amo – soltou arfando, como se aquilo tivesse ficado preso na garganta e o
impedindo de respirar, e agora saiu fazendo com que se sentisse mais aliviado.
Ele me olhou, e eu ainda não sabia o que
fazer.
-
Não é uma boa hora para ficar em silêncio.
-
Er... Joe...
-
Ok, não tem como mais. Você realmente nunca sentiu nada por mim, Lua? Em
nenhuma das vezes... nada? – se eu não o conhecesse bem podia jurar que ia
chorar.
-
Eu gosto de você.
-
Mas nunca do jeito que gosta daquele... daquele... – contorceu todos os
músculos do rosto, mas nenhuma palavra pareceu ofender o nome do Justin o
suficiente naquele momento, ou achou que não ia adiantar nada aquela hora, que
nada o que dissesse iria mudar alguma coisa.
Levantei e me aproximei dele.
-
Gosto de você – ele me olhou de soslaio – e só tenho o que te agradecer por
tudo o que passamos juntos.
-
Não quero gratidão, quero que sinta o mesmo que sinto por você.
-
Aquela Lua te amou.
-
Aquela era você, e você nunca esqueceu o Justin.
-
Não, aquela era diferente do que fui e do que sou. Eu mudei, e o sentimento
continuou com a mudança, mas, todas as vezes que a gente estava na garagem da
sua casa ou andando por aí – fiz um careta ao falar “andando” e ele riu. Sabia
que “andando” não queria dizer exatamente passear pela cidade, mas sim, sair
como uns loucos a todos os quilômetros por hora. – Eu estava te amando, e
amando o que estava fazendo por mim. De qualquer jeito, mesmo que não tivesse
Justin no caminho, eu não sou mais totalmente aquilo que você conheceu. Você se
decepcionaria comigo agora.
-
Mas você pode voltar a ser, não pode? Pode voltar a me amar Lua! – ele segurou
meus braços com força, doeu um pouco, mas resisti em não fazer careta.
Olhei no fundo das suas íris extremamente
azuis para que percebesse a minha sinceridade de uma vez.
-
Desculpa Joe – ele me soltou frustrado e não olhou mais para mim.
-
Se é assim – levantou a cabeça – que seja infeliz com tua mulherzinha – ri.
-
Claro! Você estava legal já por tempo demais, estava até estranhando – olhou
para mim sorrindo cinicamente.
-
Uau! Ainda sabe ser hostil, como ainda consegue depois dessa baboseira melosa
toda que me disse? – fingiu estar surpreso.
-
Andei aprimorando – sorri cínica, também sei fazer isso. – Agora vai embora! –
fechei a cara. – Sai daqui Joe e não quero que entre no meu quarto de novo –
ele levantou a mão como se estivesse se rendendo.
-
Relaxa Lua, não vou perder mais meu tempo com você.
-
Já era hora.
Saiu.
Sei que a conversa mudou da água para o vinho,
mas se bem o conheço, a parte “boa” do que falamos de madrugada jamais existiu.
Por mim também não. Ele ia parar de sofrer, engolir o gosto amargo que sentiu e
continuar sendo o babaca que sempre foi. E eu faria o mesmo.
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