quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

20º capitulo: We Change with Pain - Part 4

(...)
 Meus pais ficaram comigo até que eu parasse de chorar, o que não demorou muito. Nunca fui do tipo de pessoa que chorava por muito tempo, podia até fazer isso várias vezes até a dor passar de pouquinho a pouquinho, mas não por horas.
 Depois fui para o meu quarto, tomei um banho para relaxar, meu corpo estava muito tenso. Coloquei um pijama, bati na cama e dormi quase imediatamente. Chorar me dá sono, e apesar do banho – que geralmente faz acordar –, aliviar o que eu estava sentido só com umas boas horas de sono.
 Senti lábios, não sabia se era sonho ou se realmente estava acontecendo, mas esses se encontraram com os meus, eram macios... correspondi e tive certeza que era real. Por que Justin viria no meu quarto agora? Provavelmente já era muito de madrugada, e ele saiu daqui com muita raiva de mim, talvez veio se desculpar, mas Justin não era assim. Ele não viria, mesmo se achasse que estivesse errado não viria assim, também não teria como invadir a minha casa, a portava estava fechada.
 Percebi que os lábios eram finos demais para serem do Bieber, e ele nunca ia passar a mão na minha coxa desprotegida pelo lençol, pelo menos não quando eu estivesse tão vulnerável.
 Abri os olhos e mesmo na penumbra pude perceber Joe em cima de mim. O empurrei e ele quase caiu do pedaço da cama que estava sentado.
Ele se levantou e eu me sentei.
- Que diabos está fazendo aqui? Depois de tudo lá em baixo você ainda ousa entrar no meu quarto no meio da madrugada?
- Pensei bem, e, resolvi te lembrar como eram os velhos tempos. Talvez você caísse na real.
- Cair na real? Não preciso cair na real, Joseph.
- Claro que precisa! Já entendi, você não percebe a mesma coisa que percebi quando cheguei.
- E o que seria isso?
- Você e aquele cara não combinam! Como poderia? Aquele franguinho como uma garota como você – bufou.
 Levantei a mão coçando a testa.
- O que ouviu lá em baixo não foi suficiente para você entender, Joe?
- Ah, aquilo... Pensei bem sobre aquilo e percebi que – ele fez uma pausa dramática – a Lua que eu conheci não ia preferir aquele cara nem que fosse o último caso. Por isso, vim te lembrar como eram os velhos tempos assim você caia na real. Sacou?
- Saquei... saquei que você é um idiota – o olhei, meus olhos já haviam se acostumado com a escuridão da noite, então eu conseguia o ver bem, além do mais, vinha uma luz fraca da rua, contribuindo para uma visão melhor.
- Ora Lua...
- Joseph, presta atenção, a Lua que você conheceu nunca existiu fora dali. Ela nasceu em Nova York e morreu lá – ele riu em desdém.
- Mais uma? Para Lua, para de mentir, para de tentar me enganar.
- Pelo amor! – Resmunguei revirando os olhos. – Presta atenção em uma coisa, vou tentar te explicar bem devagar: eu, Lua Margareth Houston, gosto de Justin Drew Bieber, desde antes mesmo dele se tornar o famoso JB.
- Eu, Joseph Ray Thompson, não acredito nisso.
- Por favor, Joe! O que você quer por trás disso tudo, afinal? Qual a maldita causa disso tudo? Invadir meu quarto? Sair na porrada no meio da minha sala de estar, por que? Você nunca ligou para ninguém! E mesmo eu te dando o fora várias e várias vezes ainda está atrás de mim! Você nunca foi de se rastejar por ninguém, e por que, por que Joseph, você está fazendo isso logo agora?
- Por que eu te amo! – soltou de uma vez.
 Me calei na hora, meus olhos se arregalaram enquanto o via agitar os braços nervosamente e bagunçar ainda mais os cabelos loiros com os dedos.
- Eu te amo Lua. É. Infelizmente eu te amo e é por isso que vim até esse maldito fim de mundo atrás de você, por isso fiz isso tudo! Não suportei ver você com outro cara! Logo com aquele cara! Fui substituído por um... por um... frangote meloso.
 O destino merece palmas por todas as vezes que nos surpreende e também por sempre esfregar na cara de todos nós, meros mortais, que não temos controle de nada na vida. Até o homem mais racional de todos há sentimentos. Até o mais improvável ser, alguma hora é pego pelo coração, seja por motivos de dor ou alegria, ou simplesmente por razões de amor.
 Joe nunca havia dito que ama alguém, talvez só quando criança e ainda para a própria mãe. Nunca havia sofrido por um coração partido e eu fui a escolhida para lhe causar tal dor e isso me doía também. Agora percebo que eu gosto do Joe, não o amo, não posso deixar o que eu sinto pelo Justin de lado nem se eu quisesse porque Deus sabe a angustia que me enterrei quando nos separamos, e essa angustia que nos levou a esse momento, mas sim, gosto dele, do Joe. Apesar de tudo, ele foi especial para mim por todo aquele ano, Harper me salvou do jeito que podia, mas sem ele... repito, apesar de tudo, sem ele, eu não teria sobrevivido.
 Ele foi me ver todo o tempo que fiquei no hospital, e ficou comigo todos os dias, cuidava de mim quando nem eu podia, me ensinou a transformar minha dor em algo que eu pudesse tirar do meu peito, a segurar firme e continuar em frente.
- Eu te amo – soltou arfando, como se aquilo tivesse ficado preso na garganta e o impedindo de respirar, e agora saiu fazendo com que se sentisse mais aliviado.
 Ele me olhou, e eu ainda não sabia o que fazer.
- Não é uma boa hora para ficar em silêncio.
- Er... Joe...
- Ok, não tem como mais. Você realmente nunca sentiu nada por mim, Lua? Em nenhuma das vezes... nada? – se eu não o conhecesse bem podia jurar que ia chorar.
- Eu gosto de você.
- Mas nunca do jeito que gosta daquele... daquele... – contorceu todos os músculos do rosto, mas nenhuma palavra pareceu ofender o nome do Justin o suficiente naquele momento, ou achou que não ia adiantar nada aquela hora, que nada o que dissesse iria mudar alguma coisa.
 Levantei e me aproximei dele.
- Gosto de você – ele me olhou de soslaio – e só tenho o que te agradecer por tudo o que passamos juntos.
- Não quero gratidão, quero que sinta o mesmo que sinto por você.
- Aquela Lua te amou.
- Aquela era você, e você nunca esqueceu o Justin.
- Não, aquela era diferente do que fui e do que sou. Eu mudei, e o sentimento continuou com a mudança, mas, todas as vezes que a gente estava na garagem da sua casa ou andando por aí – fiz um careta ao falar “andando” e ele riu. Sabia que “andando” não queria dizer exatamente passear pela cidade, mas sim, sair como uns loucos a todos os quilômetros por hora. – Eu estava te amando, e amando o que estava fazendo por mim. De qualquer jeito, mesmo que não tivesse Justin no caminho, eu não sou mais totalmente aquilo que você conheceu. Você se decepcionaria comigo agora.
- Mas você pode voltar a ser, não pode? Pode voltar a me amar Lua! – ele segurou meus braços com força, doeu um pouco, mas resisti em não fazer careta.
 Olhei no fundo das suas íris extremamente azuis para que percebesse a minha sinceridade de uma vez.
- Desculpa Joe – ele me soltou frustrado e não olhou mais para mim.
- Se é assim – levantou a cabeça – que seja infeliz com tua mulherzinha – ri.
- Claro! Você estava legal já por tempo demais, estava até estranhando – olhou para mim sorrindo cinicamente.
- Uau! Ainda sabe ser hostil, como ainda consegue depois dessa baboseira melosa toda que me disse? – fingiu estar surpreso.
- Andei aprimorando – sorri cínica, também sei fazer isso. – Agora vai embora! – fechei a cara. – Sai daqui Joe e não quero que entre no meu quarto de novo – ele levantou a mão como se estivesse se rendendo.
- Relaxa Lua, não vou perder mais meu tempo com você.
- Já era hora.
 Saiu.

 Sei que a conversa mudou da água para o vinho, mas se bem o conheço, a parte “boa” do que falamos de madrugada jamais existiu. Por mim também não. Ele ia parar de sofrer, engolir o gosto amargo que sentiu e continuar sendo o babaca que sempre foi. E eu faria o mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário