(...)
Joe foi embora no domingo à tarde. Segunda, na
escola, Justin sequer olhou para minha cara, mas isso não me doeu, depois do
que conversei com Joe naquela madrugada, algumas coisas mudaram dentro de mim,
era como se eu finalmente tivesse encontrado o equilíbrio do que fui e do que
sou. Contei ao Justin tudo de ruim que eu fiz em Nova York, mas não contei a
razão certa, afinal, ainda não a tinha encontrado até Joe aparecer.
Sim, eu sofri, queria tirar Justin da minha
cabeça a todo custo, mas tudo foi necessário. Agora eu precisava mostra-lo,
talvez ele me entendesse melhor.
Por isso, pouco antes que ele viajasse de
novo, fui até a casa dele e bati na porta. Justin foi quem atendeu e ele fechou
a cara ainda mais ao me ver, mas minha expressão tranquila se manteve intacta.
-
Vem, vamos dar uma volta – joguei minhas chaves para ele que só pegou por puro
reflexo.
-
Quem disse que eu quero ir a algum lugar com você?
-
Sei que ta com raiva de mim, mas mesmo assim, juro que não vai se arrepender.
Sei que quer Justin, então vem – me virei e segui até meu carro, sabia que ele
me seguiria, e foi isso que fez. – Vai, você dirige.
-
Eu? Mas por quê? Aonde vamos?
-
Não estraga a surpresa, anda! Entra – ele jogou a chave para mim de volta.
-
Não.
-
Ok então.
Entrei no lado do motorista e Justin não
fugiu, entrando no carro também. Ele estava curioso.
Dirigimos pela cidade, não conversamos muito,
na verdade, não conversamos nada, então liguei o rádio, não gostava muito de
silêncio, e ironicamente estava tocando uma música dele. Ri da coincidência,
ele também, olhamos um para o outro, mas ele desviou a atenção para a janela de
novo. Depois começou a tocar uma música do Maroon 5 e eu cantava, como se não
tivesse acontecendo nada demais, e para mim, sinceramente, realmente não
estava.
Virei à esquerda, saindo da cidade, Justin me
olhou confuso, mas não perguntou nada. Parei o carro no meio da estrada vazia e
silenciosa, ninguém passava por ali.
-
Afinal Lua, o que a gente ta fazendo aqui? – ele saiu do carro.
-
Você dirige agora.
-
Já disse que não quero dirigir seu carro.
-
Mas agora vai dirigir, não viemos aqui atoa – estendi a chave do carro e ele
pegou relutante, então trocamos de lugar, ele do lado do motorista e eu no
carona.
-
Me diz para que isso.
-
Logo você vai saber, agora liga o carro – assim fez. – Sei que a visita do Joe
trouxe transtornos para a gente...
-
Olha, Lua, eu não...
-
Cala a boca e me escuta. Sei que a visita do Joe trouxe transtornos para a
gente, mas ver ele depois de todo esse tempo me fez pensar em algumas coisas.
Acelera – fez sem reclamar, o que momentaneamente me surpreendeu. – Contei
sobre Nova York com todo o peso negativo que pude por nos fatos, justificando
tudo como estar mal por nós estarmos separados, mas não é só isso. Acelera.
-
Lua, o que... – lógico que uma hora ele iria querer perguntar.
-
Só me escuta e faz o que eu disser.
Justin tinha feições confusas, mas eu sabia
que não ia dar muito trabalho, apesar de ele odiar não saber das coisas, sei
que confia em mim, mesmo quando está com raiva.
-
A verdade é que as pessoas mudam quando sentem dor, porque elas fazem de tudo
para que passe. Algumas coisas que eu fiz podem não ser muito eticamente
corretas ou até mesmo dentro da lei, algumas vezes, mas fez com que eu ficasse
bem melhor, então, por que seria assim tão
ruim? Acelera.
As mãos do Justin começaram a tremer no
volante, ele sempre faz isso quando atinge certa velocidade, eu o entendo, de
verdade, mas pelo menos, ele consegue chegar bem mais longe sem tremer do que
eu chegava antes de aprender.
-
Se em algum momento cheguei perto de quase destruir a mim mesma foi por me
entregar demais ao sofrimento e não saber os limites. Mas tudo o que fiz foi
para saber lidar com a minha dor, foi para aprender a transformá-la em algo que
eu conseguisse tirar de dentro de mim – as mãos dele foram parando de tremer um
pouco. – Pega o que você sente, tudo, todas as frustrações, todo o sentimento
ruim e foque na estrada a frente. Solta o ar. Respira.
As mãos deles pararam de tremer de vez e ele
ficou mais confiante, acelerou mais um pouco e sorriu, podia ver que estava
aliviado de alguma forma, Justin passa por muita coisa com essa carreira.
Estávamos chegando a uma curva, ele desacelerou o suficiente apenas para passar
por ela, depois freou virando na pista, pude ouvir os pneus cantarem. Depois
olhou para mim ofegante e com um olhar louco e satisfeito.
Tal como o meu um ano atrás.
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