Pov's Houston
Entendo que pedi para que Justin subisse, mas
sumir do nada e deixar uma folha de papel daquelas é sacanagem comigo.
Cheguei à cozinha e falei com Pattie que ia
levar algo para Justin comer, mas ela já estava preparando algumas coisas para
ele, então só colocou na bandeja e levou ela mesma. Aproveitei então para pegar
a primeira camisa do Justin que vi na lavanderia – era uma regata branca que
ele normalmente usava com camisetas que pediam algo por baixo, mas como era
apenas para não deixar o tronco desnudo e por ser usada com outra camisa era
fina e fresca, resolvi só pensar no “fresca” – e tomar mais um dedo de café, eu
tinha ficado a madrugada toda acordada e apesar de ser a minha terceira xícara
de manhã, eu me sentia rastejando pela casa ao invés de andar.
Achei que Justin não iria subir até que
comesse alguma coisa, mas quando voltei fiquei realmente surpresa ao ver que
ele não estava lá, então resolvi subir, peguei o controle para desligar a TV
quando vi o bilhete. Desliguei a televisão e peguei o papel.
Na ordem natural das coisas, as garotas tem a
letra linda e caprichada, e as dos garotos são quase ilegíveis e desleixadas,
mas com a gente não é bem assim. Nós dois temos uma letra embolada, e nenhuma
das duas são as melhores... minha letra de forma é um verdadeiro garrancho,
fico surpresa quando eu mesma consigo ler algo que escrevo na escola. Justin
também não tem a letra digna de convites de formatura e casamento, mas em
muitas vezes sai melhor do que a minha – pelo menos mais legível –
principalmente se estava grande, como naquele bilhete.
“Deixa
eu cuidar de você?”
Fiquei pensando naquilo, até ontem de tarde
estávamos brigados por algo extremamente infantil, mas ainda brigados e agora
ele demonstra ser aquele mesmo garoto super fofo de sempre, como se nada
tivesse acontecido, como se eu estive ali o tempo todo, como se ainda fossemos
os mesmo. Sem fama, sem brigas, sem outros, só ele e eu.
“Deixa
eu cuidar de você?”
Me esforcei para não fazer barulho ao subir as
escadas correndo e quando cheguei ao corredor peguei Pattie voltando. Sorri
para ela que sorriu de volta e apareci na porta do quarto do Justin que estava
entretido com algo que via no Ipad, pigarreei alto para que ele me notasse e
quando consegui sua atenção mostrei o papel sorrindo automaticamente. Ele
sorriu de volta e depois de alguns gestos eu já estava indo... hum... “deixar
ele cuidar de mim”.
Bla, bla, bla... está tudo muito fofo, mas
daqui para frente não melhora.
Deitei atravessada na cama e apoiei a cabeça
nas pernas dele, agora descoberto pelo lençol e ele começou a mexer no meu
cabelo, me dando uma sensação de conforto. Fechei os olhos aproveitando o
carinho e tomando cuidado para não dormir de vez.
- Como
você se sente? – depois que perguntei, fiquei pensando se deveria, afinal, como
ele iria responder? E o arrependimento de ter perguntando aumentou conforme ele
demorava mais para me dar uma resposta.
Abri
os olhos quando o cafuné parou por um curto tempo, depois ele me entregou o
celular e voltou a mexer nos meus cabelos mega embolados.
“Com certeza melhor agora”
Tive
que ri.
Devolvi
o celular.
-
Meloso como sempre own – brinquei e pouquíssimo tempo depois ele me entregou o
celular de novo.
“Meloso, fofo, gostoso...”
Dessa
eu gargalhei alto.
- Até
mudo você é convencido! – ele também riu, depois de um tempo voltou a mexer no
celular e me entregou de novo.
“Canta para mim?”
- Eu?
Cantar para você? Por quê? – ele estendeu a mão pedindo o celular, o entreguei
e me entregou de volta rápido como das outras vezes.
“Por que eu não posso e gosto de te
ouvir cantar”
- “Por
que eu não posso” jogo duro isso ok? – ele riu.
Pensei
uma música lenta, o que estava sendo difícil, por que quando a gente sempre
quer lembrar algo parece que mais esquecemos? Que raiva.
If I show you
Get
to know you
If
I hold you just for today
I'm
not gonna wanna let go
I'm
not gonna wanna go home
Tell
me you feel the same
'Cause I'm 4 real
Are
you 4 real?
I
can't help myself
It's
the way I feel
When
you look me in the eyes, like you did last night
I
can't stand to hear you say goodbye
Well
it feels so right,
Cause
it feels so right
Just
to have you standing by my side
So
don't let me go,
Cause
you have my soul
And
I just wanted you to know
Noite
passada ele dormia feito anjo, relaxado me lembrando o garoto de 16 anos que
conheci, leve, sem o cansaço diários estampado no rosto devido a fama.
I
don't want to look back,
Cause
I know that we have
Something
the past could never change.
And
now I'm stuck in the moment,
And
my heart is open
Tell
me, that you feel the same
Quando
escolhi cantar “4 Real” da Avril eu nunca imaginaria que a letra tinha tanto a
ver, ou eu que já estou vendo coisa onde não tem?
Hold me down
Hold me now
I'm
safe
I'm
sound
When
you're around
Hold me down
Hold me now
I'm
safe
I'm
sound
When
you're around
Senti
a mão dele pesar e acariciar meu cabelo ainda mais lentamente. O remédio estava
fazendo efeito e a música lenta não estava o ajudando a ficar acordado.
-
Chega, melhor você dormir – me levantei e ele não protestou, ele estava com
sono, eu estava com sono... se continuássemos assim nós dormiríamos, assim, de
qualquer jeito. – Vem cá amor – escapou! Eu juro que escapou! E foi sem querer
ainda.
Arregalei os olhos para Justin e minha
respiração ficou levemente descompassada. Ele me encarou surpreso e depois um
leve sorriso surgiu em seu rosto.
-
Ainda bem que você está mudo – ele riu. – Vem cá seu astrozinho – ele me abraçou
e se aconchegou mais em mim, respirou fundo e eu comecei a mexer em seu cabelo
como ele fazia comigo poucos minutos antes.
Repeti o refrão da música mais duas vezes para
cantar ela completa.
“Apenas
te ter aqui ao meu lado, então não me deixe ir, porque você tem a minha alma e
eu só queria que você soubesse”.
Então assim como ele, dormi.