Acordamos
mais tarde do que deveríamos, o que não tem nada demais, porque de qualquer
maneira, não pretendíamos chegar cedo. Fui para o meu quarto tomar banho por
pura e livre expulsão da Lua, ela queria se arrumar sozinha. Tomei banho e
vesti uma roupa, arrumei o cabelo, passei perfume e tudo, depois sentei na cama
e esperei Lua aparecer enquanto mexia no celular.
As noticias não paravam de chegar, não
consegui passar mais de cinco minutos no twitter de tanta gente falando comigo,
vi algumas das noticias que a Harper falou e parecia que nós éramos a novidade
do dia, tinha fotos nossas na lanchonete, na rua tirando foto, tomando
vitamina, rindo, chegando ao hotel... mas em todas, absolutamente todas tinham a foto dela me beijando em
frente ao hotel.
-
Bieber, está pronto há muito tempo?
-
Não, eu... – a olhei – wow! Er... WOW! – ela estava sensacional! Bem diferente
da garota que eu conheci um dia, mas, eu realmente posso aceitar sem problemas
essa nova versão.
Usava
um salto muito alto com algumas coisas douradas, uma calça preta cintura alta com
linhas rasgadas nas pernas, a estampa da blusa era a bandeira dos Estados
Unidos bem pálida, era curta deixando um micro pedaço de pele a mostra. Um
colar com aquelas linhas de batimento cardíaco, anel na mão esquerda que pegava
uns dois dedos e tinha “Cool” escrito, batom vermelho e uma maquiagem preta nos
olhos.
Gos-to-sa! É tudo o que eu tenho a dizer.
-
Acho que to bem – e riu.
-
Bem? Eu não deveria deixar você sair de casa pra nenhum marmanjo ficar te
encarando.
-
Mas...
-
Mas – a interrompi antes que ficasse irritada –, você poderia estar de pijama
que esses marmanjos te encarariam, e, se mais alguma foto nova nossa sair hoje,
é bom que saibam o que eu tenho – sorri maroto e ela arqueou a sobrancelha com
um sorriso maldoso.
-
Melhor a gente sair daqui logo, pra não desistir da ideia.
-
Concordo.
Liguei pra Kenny me trazer o carro, disse que
eu mesmo ia dirigir e ele não quis, não importa quantos argumentos eu usasse,
não importa o quanto eu implorasse, ele repetia várias e várias vezes que não
era uma boa ideia, até que Lua pegou o telefone da minha mão e disse para ele
trazer o carro. A conversa não durou dois minutos.
-
Como você fez isso? – perguntei.
-
Parece que sou mais confiável do que você – ela sorriu debochada.
-
Não sei como isso é possível, você é louca! – Ela riu.
-
E você é irresponsável.
-
Não mais do que você.
-
Tem certeza? – ela me olhou com a sobrancelha arqueada e eu parei pra pensar
até perceber que ela estava certa.
-
Droga! – falei aborrecido, ela riu e o elevador abriu.
Quando chegamos em frente ao hotel, Kenny
estava lá com o carro. Ele olhou pra Lua e entregou as chaves a ela, falaram
algumas coisas e olharam pra mim algumas vezes, depois se despediram e Kenny
veio até mim me pedir juízo e disse que minha mãe me mataria se soubesse que
fiz algo de errado.
-
Toma – me deu as chaves –, você dirige.
-
Achei que você iria dirigir – falei aborrecido por ele ter entregado a chave à
ela e não a mim.
-
Talvez eu precise, mas agora, está na hora de você ser um bom garoto... Ah!
Vamos lá Bieber, é brincadeira, toma essa porcaria de chave logo, antes que eu
mude de ideia e todo mundo tire foto de você sendo carregado como carona de uma
garota.
Peguei a chave e fui meio emburrado até o lado
do motorista, não queria que tirassem foto de mim no carona, isso é bem
verdade.
Dirigi com o rádio ligado, Lua cantava quase
todas as músicas que tocavam, mesmo aquelas que ela torcia o nariz quando
começava, vez ou outra ela trocava, uma vez chegou a xingar porque em todas as
rádios que ela colocava tocava alguém que ela detestava. Não vimos ninguém na
rua pra tirar foto nossa no carro, mas com certeza deveria ter, estava escuro,
era fácil de se esconder, mas não nos importamos nem um pouquinho até chegar a
casa do Louis que estava tão brilhosa e barulhenta que dava para perceber
vários quarteirões antes.
Estacionei o carro no jardim, numa rua de
esquina a casa e andamos até a casa. Não consegui fingir que não estava
surpreso com Lua andando tão bem com um salto desses. Ela me disse que estava
detestando, mas era o único que trouxe e que quando estava em Nova York, Harper
a obrigou a aprender a andar porque se ela quisesse fazer parte daquela festa,
aquilo era preciso. Perguntei “que festa?”, e ela me respondeu “a da vida,
Bieber” e ficou por isso mesmo. Confesso que demorei muito tempo para entender
o que quis dizer com isso, mas quando entramos, o som estava tão alto que não
conseguia ouvir nem o que estava na minha cabeça, então deixei pra lá.
Meu celular vibrou no bolso, então peguei e
olhei a mensagem que acabara de chegar. Era do Louis, ele estava nos esperando
em um quarto reservado da casa, então pus a mão na cintura da Lua pra ganhar
sua atenção, assim que consegui, aproximei os lábios de seu ouvido e sussurrei
alto, por causa do som, a informação que tinha acabado de chegar. Ela me olhou
e assentiu, então seguimos pra mais afastado do salão de entrada, ainda com a
mão na cintura dela, mas agora segurando de verdade.
Seguimos para o escritório, atrás da escada
principal da casa e abri a porta.
-
JB! – Louis estava com um copo cheio na mão e uma garrafa de whisky na outra, e
no sofá, esparramada, havia uma garota de batom borrado, meio descabelada e com
uma alça do vestido caída, que Louis logo tratou de despachar.
Agora sei por que ele estava aqui e não com os
outros na festa.
-
Yo, man! – fui até ele, que bebeu todo o copo em um gole, depois largou e me
deu um abraço.
-
Aceita? – me estendeu a garrafa, já me dando um copo novo pra encher. Mal assenti
e meu copo já estava cheio. – E quem é a gostosa, ali? Achei que viesse com a
sua tal... como é? Favorite Girl, sei lá.
Eu estava acostumado com esse jeito do Louis,
e não ligava. Mas agora que ele falou da Lua desse jeito, algo me incomodou de
verdade, só que resolvi deixar pra lá, Louis é meu amigo e ele tem esse jeito
todo, mas é um cara legal e vai respeitar a Lua, porque ela não é como essas
vadias que estávamos acostumados.
-
Louis, essa é a Lua – estendi o braço pra Lua pra que ela se aproximasse. – É
ela que é minha Favorite Girl.
-
Sério? – olhou pra ela com desdém. – Esperava uma garota diferente.
-
Diferente?
-
É, você ficava todo de mimimi quando falava dessa garota, esperava uma
menininha boba.
-
De boba ela não tem nada.
-
E fico muito feliz por vocês falarem de mim como se eu não tivesse aqui – Lua
sorriu cínica e Louis pareceu pouco impressionado. – E então... que droga de
festa é essa que só os caras podem beber?
Ele pegou outro copo, colocou um pouco de
bebida, menos do que tinha no meu e a ofereceu. Lua o olhou torto, e, segundos
de silêncio depois, ele encheu mais um pouco. Lua bebericou o copo e fez uma
careta aparentemente mais automática do que realmente sentindo a bebida arder,
o que me fez pensar que eu nunca a vi beber, mas pelo jeito que ela me falava
de bebidas, ou me contou das festas de Nova York e das vezes que chegou bêbada
em casa, é bem capaz de que ela beber não seja um problema. O que era mais
preocupante era o fato de que eu não conseguia identificar, exatamente, as suas
emoções naquele momento, o que eu via não era totalmente novidade, tinha alguma
coisa ali que era familiar, mas a situação era toda atípica, então ficava meio
complicado.
- Então – ela bebeu outro gole –, quer dizer
que Justin falava muito de mim? – ela sorriu de um jeito estranho, queria
parecer simpática e, se eu não a conhecesse, diria que até estava sendo.
-
Enchia o saco de tanto – Louis foi seco e tomou outro gole.
-
Ele sempre faz isso – ela sorriu mais um pouco, quase deixando a covinha rasa
da bochecha esquerda aparecer, antes de beber o resto do copo de uma vez. –
Enfim, vou procurar algo que não seja Whisky para beber, já volto.
Ela segurou meu rosto com uma das mãos e me
deu um beijo, depois encarou meus olhos intensamente por alguns breves segundos
em um aviso, não sei exatamente de que, mas era algum tipo de aviso. E então,
saiu nos deixando sozinhos.
-
Isso não vai dar certo – Louis encheu o copo de novo.
-
O que?
-
Essa garota.
-
O que tem? – ele me olhou com as sobrancelhas arqueadas.
-
Wow! Calma aí! O que houve com aquele cara que era meu amigo? – Devo ter feito
uma cara e confuso porque ele logo continuou: – Ótimo! Ta vendo como essa
garota é problema pra você? Ta aí feito um idiota! Vamos lá pra festa, eu chamo
aquela garota que estava quando chegaram, ela veio com uma amiga muito gostosa,
você deve gostar.
-
Cara, não sei se você percebeu, mas tipo, eu to acompanhado – disse como se
fosse a coisa mais obvia do planeta, o que realmente era.
-
Essa garota não vai dar em nada JB, dá pra saber só de olhar. Ela é tão... sei
lá, sem graça. Ok, é bem gostosinha e tal, dá pra dar uns pegas, mas nada
demais – encheu meu copo de novo.
-
Acho que quem tem que julgar isso sou eu, cara. E te garanto que graça ela tem
é muito! – bebi mais um gole.
Ele soltou uma risada de desdém.
-
Não parece – Louis já estava meio alto, mas isso não indicava muita coisa, ele
bêbado ou sobreo era quase a mesma coisa, se bem que, dificilmente eu o vi
minimamente sobreo.
-
Eu conheço a Lua há muito tempo, Louis. Mais fácil eu julgar isso do que você.
-
Pessoas como ela a gente vê quem são de longe, JB. Lembra daquela garota do ano
passado?
-
Qual?
-
A loirinha estrangeira, acho que era alemã, sei lá – quase cuspi a bebida
quando lembrei, e ri, já estava indo pro terceiro copo então comecei a perder
um pouco da noção.
-
Lembro sim.
-
Aquela festa, em Bieber? – nós dois rimos. – As vadias todas queriam o
famosinho da festa, achei que não ia conseguir pegar ninguém!
-
Ralaxa cara, pensa que agora isso não é mais problemas.
-
Você realmente vai investir nessa daí que você trouxe?
-
Bem, é quem eu invisto há alguns anos já.
-
Falando assim, nem parece aquele cara que as menininhas iam todas atrás – ri.
-
Eu realmente to de boa.
-
Ok, eu não estava querendo acreditar até agora, mas essa merda toda é pra
valer? Você realmente vai preferir aquela garota? Tem tantas nessa festa melhor
do que ela! Qual é cara? Afrouxou, na boa?
-
Cara! Eu sei que quando a gente se conheceu eu não fazia muito o estilo de que
fica com uma garota só, mas nunca, nunca escondi
que tinha uma garota que eu amava! E ela ta de volta, não me interessa mais o
resto agora que eu tenho o que sempre quis.
-
Marica – só isso foi o suficiente pra eu querer voar na cara dele! Mas antes
que eu pudesse fazer alguma coisa ele continuou: – Pior que é um marica por uma
vadiazinha tão sem graça! Por favor, é só por o pé no salão que você encontra
umas 50 como ela. – revirou os olhos enchendo o copo de novo, enquanto eu
colocava o meu na mesa sem dizer uma só palavra. A vontade de quebrar esse cara
passou porque simplesmente percebi que não valia a pena. – Qual é JB!? Volta
aqui cara! – Saí sem dizer uma palavra, nem precisava e também não ia adiantar
nada.