De
repente, em algum momento da madrugada, meu celular começa a tocar alto a
música que eu tinha posto para mensagem, mas meu sono era tanto que nem deu
tempo para que eu me assustasse, apenas levantei a cabeça do travesseiro – que
por um acaso eu estava abraçada – e o peguei no criado-mudo ao lado da cama.
Meu olhos estavam pesados e desacostumados com a claridade do celular, então
arderam um pouco quando olhei a tela.
Abri a
mensagem e li:
“Não consigo dormir, já tentei, mas
não consigo. Me diz pelo menos boa noite? Já que não pude te dar nenhum beijo
antes de que parássemos no seu andar e você não quer que eu vá te fazer uma
visitinha... Por favor? JB.”
Normalmente eu ficaria extremamente irritada
por ele ter me acordado, mas acho que confiou no seu jeito fofo e mandou a
mensagem mesmo assim. Só que, não foi o jeito fofo que me fez responder, e sim,
o sono que me deixava completamente lesada. Ok, talvez foi um pouquinho do
jeito fofo também.
“Boa noite Jus, vê se dorme ok?
Estarei na plateia amanhã e quero ver uma apresentação incrível sua! Coisa que
não vai acontecer se estiver com sono, concorda? Então durma bem e até
quando... der. Lua”.
Desliguei
o celular de uma vez e dormi logo, eu realmente estava com sono.
E
dessa vez eu sonhei, talvez tivesse sonhado antes, mas desse eu me lembrava perfeitamente.
Era confuso, as formas não eram completas, demorei para notar que era uma
pessoa. Um sorriso tomou conta do fundo preto, um sorriso radiante que uma
parte de mim poderia jurar que era do Justin, mas não, tinha algo estranho,
algo diferente que fazia a outra parte de mim descordar completamente. O
sorriso se ofuscou e se apagou aos poucos dando lugar a íris castanhas
extremamente claras que passavam para um cinza. Depois lábios, dois diferentes
e ao mesmo tempo parecidos sobrepostos na minha direção dizendo “minha”.
Abri os olhos de imediato, encarando o teto
escuro do quarto. Minha mente havia dado um nó. Ainda era madrugada e uma brisa
fria vinda do mar ali perto entrava pela janela, mas mesmo assim o lençol
estava de qualquer jeito da cintura para baixo, tampando até o pé da minha
perna esquerda flexionada e deixando a direita completamente livre e reta.
Respirei fundo, e ainda encarando o teto
tentei definir cada feição que aparecia no sonho, eu poderia jurar que era o
Justin em algumas partes, mas havia outros traços, outro alguém.
E de repente acordei de novo, dessa vez sim
era de dia. Eu não me lembrava de qual momento eu havia pegado no sono essa
madrugada depois do sonho, sequer sabia que horas eram, mas precisava me situar
daquele momento. Peguei o celular, liguei e vi as horas, já havia passado a
hora do café da manhã, então o que restava era esperar o almoço dali a umas
duas horas. Droga, eu estava com fome.
Eu em Los Angeles, não tinha o que fazer.
Fiquei enrolando, liguei para os meus pais e disse que estava tudo bem, depois
desci para o saguão do hotel e segui à direita, para um – nada – pequeno
cybercafé. Acessei algumas coisas e procurei para ver se tinha alguma noticia e
quando justamente comecei a ficar aliviada achando que não tinha nada, uma foto
do Justin com a roupa que ele foi ao autódromo, cliquei e a foto tomou conta da
página, aparecia a Caitlin na foto também, na verdade aparecia um pedaço do
Chris de costas e um pedaço da minha blusa e do meu cabelo alvoroçado pelo vento
da limusine, mas quem dava para ser identificado, eram os dois.
A reportagem dizia que ele foi visto no
autódromo com a namorada, Caitlin e amigo, Christian e mais uma pessoa não
revelada, no caso, eu. Mas isso de “não revelada” me fez pensar que o Justin
sabia dessa reportagem e mesmo assim não me falou nada, ou isso não chegou aos
ouvidos dele? De qualquer jeito, foi outra que escapei – apesar de que nada se
compara a perseguição de paparazzi no começo do ano –, acho que eu não deveria
ter vindo, é a segunda vez que quase me descobrem com o Justin, dessa vez foi
uma noticia menor, mas, depois do tanto que ele reclamou por terem invadido a
privacidade dele. Eu nunca vou esquecer aquela entrevista, ele falava tão
irritado com aquela expressão dura que raramente ele tinha – pelo menos
antigamente – e no final disse cansado: “Sei
que sou famoso e que todos querem saber o que estou fazendo e como está a minha
vida pessoal, mas lá é a minha cidade, onde posso ser eu, apenas um garoto
normal que não sou mais. Eu só gostaria, pelo menos de vez em quando, de poder
me sentir esse garoto normal”.
Não sei se adiantou muito, acho que sim já que
desde então não vi nenhum paparazzi, mas estaria mentindo se não dissesse que
às vezes tenho medo de aparecer com o Justin na rua, por mais que seja na
frente de nossas casas.
- Lua?
– pulei da cadeira de susto, e Chris começou a rir de mim.
-
Christian Beadles, eu sou muito nova para morrer, principalmente se for de
infarto.
-
Desculpa. Desculpa, não quis te assustar. O que você estava vendo tão
concentrada? – ele olhou para a tela.
- Saiu
uma foto do Justin no autódromo – acho que ele leu.
- Não
é nada para se preocupar – devo admitir que alguma parte de mim ficou muito
feliz e relaxada depois disso.
- Isso
é realmente bom. Vai mexer no computador também?
- Não,
estava te procurando – me olhou.
- Bom,
já me achou, o que foi?
- O
almoço já saiu, que tal depois a gente ir para a praia? Vir a Los Angeles e não
dar uma volta pela praia chega a ser pecado! – ri.
- Eu
topo! O almoço e a praia.
-
Então anda logo, to com fome.
- Ta
apressadinho! Eu também! – fechei as minhas coisas no computador e saí dali.
Fomos comer, e comemos bem, parecíamos
esfomeados, ou melhor, esfomeados estávamos, ambos dormimos até tarde e
perdemos o café da manhã. Depois do almoço cada um foi para o seu quarto por
uma roupa para ir à praia, que ficava perto do hotel, realmente perto.
Vesti outro biquíni, a mesma saída de praia e
mais nada. Esperei o Chris no meu quarto e depois que ele chegou, descemos de
elevador calmamente até o saguão onde deixamos os nossos cartões no balcão,
assim não precisávamos levar para a praia e correr o risco de perder. Depois
fomos, a pé e conversando, para um banho de água salgada.
- Caitlin
foi para onde? – perguntei.
- Para
algum lugar, não sei, ela saiu antes que eu acordasse.
- Ok
então... Justin foi para o show né?
- Foi.
Você vai hoje né?
- Vou,
tenho que ir.
- Se
você visse como ele ficou quando você disse que viria para cá!
- E
como ele ficou?
- Ops
– ele virou o rosto, provavelmente deixou escapar o que não devia.
- Desembucha
Chris, começou termina, agora não vai ter Ryan para te salvar.
- Ele
me pediu para não contar.
- Ele
não precisa ficar sabendo.
-
Promete não contar? – ergui as minhas mãos, lhe mostrando que nenhum dos meus
dedos estavam cruzados. – Ele ficou empolgado, pediu para sei lá quem da equipe
dele ver lugares aqui em L.A que você iria gostar, para ele te trazer, fez
planos e ficou imaginando coisas...
- Que
coisas? – ele ficou tímido.
-
Coisas... – arregalei os olhos. – Não! Não! Esse tipo de coisa não!
-
Então explica! Sabe que eu não tenho uma mente muito “santa”.
- Sei,
sei. Bom, ele ficou pensando em invadir o seu quarto a noite – bom, isso ele
fez –, ficar com você mais tempo, essas coisas. Cara! Eu tenho vergonha de dizer
isso! É meloso demais! – ri.
- Não
precisa falar mais então – ele soltou um “ufa”, aliviado. – Que calor!
-
Relaxa, já chegamos.
- É,
ainda bem que não sou cega né.
- Você
vai ficar aí zombando da minha cara, ou vamos para a areia pelo menos? – éramos
dois patetas discutindo no calçadão da praia.
- Pode
ser os dois? Eu zombando da sua cara na areia? – ele me olhou como se estivesse
zangado, depois fez língua e uma careta engraçada que acabei rindo. – Vem
tampinha.
Saímos do calçadão e fomos para a areia.
Quando achamos um lugar para ficar, o Chris tirou a camiseta e eu a saída,
depois sentamos e ficamos olhando o mar, conversando coisas avulsas.
- Eu
to nervosa para o show hoje.
-
Justin que vai se apresentar e você que está nervosa?
- E
não tenho motivos?
-
Pensando bem...
- E aí
gatinha? – um cara, de uns vinte anos mais ou menos, loiro, olhos verdes e com
a pele levemente queimada de sol, parou na minha frente, tampando o “meu” sol.
Apenas ergui os olhos, pensando porque diabos
ele estaria ali e se realmente estava falando comigo, mas quando notei que sim,
era comigo, ergui a cabeça
- Esse
tampinha aí é seu namorado? – ele apontou para o Chris.
-
Não... – Chris respondeu.
- Que
bom, ele é meio “de menos” para você saca!? – continuei o encarando, nada
feliz. – Então... – ele disse já, um pouco, constrangido – a gatinha tem nome?
– não respondi. – A gatinha pelo menos fala?
-
Falar eu falo, só não sabia que tinha orelhas pontiagudas, patas, focinho... – Chris
repreendeu o riso.
-
Credo gatinha...
- Opa,
acho que falo “miau” também, ou você que precisa ir a um médico por não ter
visto a deixa para vazar. – ele me olhou, muito, ofendido e depois saiu de
perto e o Chris soltou a gargalhada que segurava.
-
Fiu-fiu gatinha – e mais risos.
- Repete
isso que leva um soco.
-
Parei, parei – ele respirou fundo tentando parar de rir.
-
Chris? Christian Beadles? – agora, duas garotas, uma ruiva com sardas e olhos
castanhos e outra de cabelo e olhos castanhos, pararam na nossa frente. Eu
daria uns 12 anos para a ruiva e 13 ou 14 anos para a morena.
Ele as olhou.
- Eu!?
- Eu
não acredito! – dessa vez a morena que falou. – O que faz em L.A?
- Deve
ter vindo para o show do Justin Bieber né demente! – a ruiva a respondeu.
-
Claro. Claro – os olhos das duas brilhavam e Chris ficava com uma cara de
paisagem, como eu com o californiano de olhos verdes.
Elas, enfim, notaram a minha presença.
- E
quem é... ? – as duas nos olhavam atentas, mas foi a ruiva quem teve cara e
coragem para perguntar. – Ela é a sua namorada?
- Você
é a segunda que pergunta isso em nem 5 minutos. – disse.
- Não,
ela é só uma amiga.
- Ah!
– as duas fizeram em coro e seus olhos voltaram a brilhar.
- Nós
amamos seus vídeos! – a ruiva continuou.
-
Assistimos todos! – e a morena concretizou.
- Ah,
obrigado meninas... – ele disse tímido, e disso eu tive vontade de rir.
- Pode
tirar uma foto com a gente? – a morena perguntou.
-
Claro – ele se levantou ainda tímido, e me deu a camiseta.
- Você
poderia?... – a morena estendeu a câmera fotográfica para mim.
- Sem
problema – sequer me levantei. Eles posaram para a foto e eu apenas tirei,
depois entreguei a maquina a mesma garota que me deu.
Chris voltou a se sentar ao meu lado e eu lhe
entreguei a camiseta. As duas viram as fotos – tirei umas três, sei lá, para
caso alguma não tenha ficado boa – e fizeram pulinhos e reprimiram gritinhos.
-
Obrigada! Muito obrigada! – as duas pediram, uma de cada vez, mas embolados.
- Você
é lindo! – a ruiva disse antes de se afastarem e Chris corou violentamente.
Tive
que rir.
- Acho
que vou ter que mudar seu apelido de tigrinho, para tigrão. – ri.
- Para
Lua! Não tem graça!
-
Claro que tem!
-
Então ta gatinha.
-
Tigrão! Rawn! – continuei rindo.
- Pelo
menos somos da mesma família, de um jeito bem distante, mas é tudo felino!
Continuamos rindo, foi realmente engraçado,
duas menininhas surtando pelo Chris por causa de alguns vídeos que ele põe na
internet – que são bons e engraçados – e um carinha super ignorado depois de me
chamar de “gatinha”.
- Olha
só aqueles caras – ele olhava para o seu lado direito. – Aposto que passam
horas, todas as manhãs na praia para conseguir o músculo todo, e claro, o
bronzeado.
-
Concordo com isso de todas as manhãs na praia, tanta vitamina C deveria fazer
mal a pele, sinceramente acho que aquilo nem é bronze mais, as células da pele
devem estar todas queimadas por isso eles estão daquela cor – ele riu.
-
Vamos lá!?
- Para
que?
-
Quero malhar um pouco oras! – franzi o cenho, mas acabei concordando.
-
Vamos – dei de ombros.
Fomos até lá, segurei a camisa dele de novo e
o primeiro “aparelho” que ele foi, era um de barras, como uma escada suspensa.
Ele subiu e nas primeiras barras de ferro parecia ter um pouco de dificuldade,
mas da metade para lá, foi rápido. O próximo era no mesmo estilo do primeiro,
mas no lugar de barras eram argolas e daí foi a mesma coisa. Só faltava mais
um, que na verdade eram três, no caso era um só, mas três, enfim! Melhor eu
explicar isso direito! Eram três da mesma estrutura, uma barra alta, outra média
e outra baixa, fixadas no chão paralelamente. Chris parou debaixo da mais alta,
ele até alcançava a barra, mas não conseguiria ultrapassar por ter que se
esticar todo para segurar, então foi para a média, essa sim dava para ele.
-
Quantos?
- Dez.
- Só
dez?
- 15
então.
- Só?
- 20
ou quer que eu aumente para 40? – perguntei quase irritada.
- Não,
não. 20 ta bom. – Ele acertou as mãos na barra, respirou fundo e subiu na
barra.
-
1...2...3... – fui contando, ele fazia isso com facilidade – 20! – se soltou. –
Uau – bati palmas devagar.
- Te
impressionei gatinha?
- Devo
dizer que sim tigrão.
- Que
tal a gente tomar um banho agora?
-
Concordo! Mas precisamos deixar as nossas coisas em algum lugar – ele pareceu
pensar e vagou os olhos por toda a extensão, visível por nós, da praia.
- Já
sei, vem comigo.