E quando saí do banheiro, respirando fundo,
contato até dez e tentando deixar todo meu controle, e ir embora aos poucos
para eu não ter um surto no meio do corredor, o sinal tocou.
- Lua?
- Ah!
Oi Tay! Quanto tempo a gente não se fala.
- Pois
é – ele disse com a testa franzida. – Está tudo bem?
- Está
sim – eu olhava nervosa para o lado, não queria ver Sabrina por um tempo – mas
vamos sair daqui logo né – o puxei pelo braço, apressada, tentando não ver
aqueles olhos azuis com tanta convicção saltando por eles, e olhando para
frente para não trombar com ninguém, e para trás para ver se ela vinha.
- O
que você fez Lua? – respirei fundo, relaxada, assim que já estava longe rumo à
sala.
- Nada
demais, só comprei briga com a Sabrina Shepers – Taylor virou a cabeça para
trás rindo divertido.
- Já
estava demorando para uma dessas – eu não via motivos para rir, mas a risada
dele acabou me contagiando e soltando risadinhas sem graça.
- Por
quê?
- Ora
Lua, você brigou com a Louise, antes disso com a Caitlin, desde o primeiro dia
eu sabia que você e a Sabrina não se entendiam.
- Era
tão obvio assim?
- Até
para quem não te conhece tão bem como eu. Lua Houston nunca deixa as
patricinhas vencerem não é mesmo? – tive que acompanhar sua gargalhada dessa
vez. – A escola melhorou depois que a Louise saiu, Megan acabou ficando como a
mais popular, mas aí chegou essa Sabrina e começou a querer atormentar a vida
de todo mundo, como uma pedra muito inconveniente no sapato – rimos mais e
entramos na sala. – Seja o que houver, manda a ver! – ri e nos sentamos.
Justin chegou o corpo mais para frente, se
fosse em outra época, desconfiado, mas dessa vez ele estava mais para curioso.
- O
que vocês estavam conversando?
- Nada
demais – ri lembrando das coisas que Tay havia me dito.
- E o
que fez com a Sabrina? – e no mesmo momento a própria entrou na sala.
- Olha
para frente que ela mesma te responde – acenei com a cabeça para frente.
- Ufa,
nada – ele parecia aliviado e eu sorri. – Nada mesmo, né? – não respondi. – Não
vai me responder né?
- Não
mesmo, é melhor ficarmos quietos, tenho a impressão que essa professora não vai
com a minha cara.
Ele nem ao menos tentou discutir.
A aula
agora Literatura e de fato a professora nunca gostou de mim, sempre me olhava
torto, me deixava por último no que ela iria fazer e até mesmo coisas de quarta
série, como por exemplo, não deixar eu ir ao banheiro ou beber água – ela nunca
deixava, nem se eu tivesse ficando desidratada ou com o risco de estourar a
minha bexiga, ela simplesmente não deixava.
A
professora começou a falar sobre literatura, obvio, eu não prestei muita
atenção, só ouvia alguns fragmentos de fala, sabia que não era nada de interessante
então preferia não ouvir e ficar quieta, do que ouvir e falar alguma coisa.
Mas, sempre acontece a coisa errada na hora errada e ferra com tudo,
principalmente se alguma das partes simplesmente não pensa antes de falar.
Nesse caso: eu.
-
Então pensei em fazermos uma peça de teatro sobre “Romeu e Julieta”?
-
Romeu e Julieta? – e lá fui eu abrir a boca. – Que coisa mais criativa – ela
semicerrou os olhos para mim, mas continuou.
- Que
tal então, fazermos um musical de Romeu e Julieta?
- “Romeu
e Julieta” é tão babado! Como ainda não fizeram isso antes?
A questão era: eu odiava mesmice, e fazer uma
peça sobre a única história – que não é única – de William Shakespeare não é
algo que se pode chamar de “novo”. Então eu acabei falando, comprando a minha
segunda briga do dia logo com a professora que eu menos devia.
-
Então o que sugere Srta. Houston? – ela não me olhou muito feliz.
- Óbvio,
algo original, novo, diferente, e não uma história que todo ano tem.
- Mas “Romeu e Julieta” é um clássico! – alguém
lá trás, que eu nem virei para olhar quem, disse – e o William Shakespeare é um
ícone da literatura.
-
Claro – me virei e encarei uma garota de olhos azuis sentada no final da sala,
acho que o nome dela era Emma –, e quantas mais outras histórias de Shakespeare
você conhece? – ela não me respondeu.
- Já
está tão interessada nessa peça e tão cheia de criatividade Srta. Houston por
que não cuida da peça então? – o que? Ela ta doida por acaso?
- Não,
não, obrigada.
- Vai
sim, está decidido, você vai ser a responsável pela peça.
- Mas
o que? – Sabrina levantou num pulo e olhava da professora para mim com uma
expressão não muito alegre. – Eu que seria ser responsável pela peça! Eu que
iria coordenar tudo!
-
Desculpa Srta. Shapers, mas a responsável a partir de agora será Srta. Houston.
- Não!
Não! Tudo bem! Shapers parece muito empolgada para fazer isso, ela com certeza
é a pessoa certa.
- É o
seguinte Lua Houston, ou você faz, ou você faz, caso contrário estará reprovada
na minha matéria e vai fazer uma visitinha ao diretor.
E pronto, de repente ela conseguiu me
convencer a aceitar essa droga.
O problema era que eu não podia parar no
diretor devido aquela pequena discussãozinha no começo do ano, onde disse que
ele era mandando pelo Scooter e essas coisas todas, só porque ele queria me ver
longe do Justin o máximo possível, por qual outro motivo seria? Nessa escola de
fato não há uma pessoa que não me conheça e que não tenha uma opinião formada
sobre mim, uma parte gosta a outra me odeia – isso inclui os professores – e
tudo por causa do Justin. É assim, estou condenada a passar o tempo todo sendo
julgada por todos apenas pelo fato de eu andar com o Bieber.
Eu não fazia a mínima ideia do porque da
professora de literatura me odiava, logo eu que sempre adorei essa matéria, mas
desde o primeiro dia ela deixava bem claro que se tinha algum aluno favorito,
esse com certeza não era eu.
Eu era
idolatrada por uma parte, talvez “idolatrada” seja um exagero, mas as pessoas
me amavam! Me achavam o máximo por eu ser amiga do Justin e sempre falavam
comigo não importa onde, já outros me odiavam com todas as forças que podiam
pelo mesmo motivo e por eu ter tanta “popularidade”, ou se não, por me acharem
um poço de nojo só por ser “amiga” dele. Mas ainda restava uma parte, que não
eram os meus amigos, mas que me tratavam como uma pessoa normal, não me odiavam
nem me idolatravam, eu só era mais uma aluna.
Mas do corpo docente eu tinha que ficar longe,
eu tinha que me comportar o máximo possível, porque qualquer erro, qualquer
mínimo deslize eu estaria na sarjeta.
- E
então Srta. Houston?
-
Eu... – olhei para Justin de relance – eu aceito – depois relaxei meu corpo o
jogando contra o encosto da cadeira e olhando pela janela ao fundo.
A professora cacarejava, mas eu não me
importava. Coordenar o teatro da escola era uma responsabilidade grande demais,
tal responsabilidade que eu não queria carregar, mas não! Era impossível eu me
manter com a boca quieta não é mesmo? Agora vou ficar presa e na escola até
tarde e ocupada o tempo inteiro tentando fazer “A peça perfeita” porque se não
for, essa maldita sambaria na minha cara.
Só voltei a mim quando quase toda a sala
estava vazia, já que todo mundo ia para aula de música. Justin estava imóvel ao
meu lado me encarando. O olhei e depois me levantei.
- Lua!
Não faz assim – ele se levantou e me seguiu alguns passos.
-
Assim?... – me virei para ele.
- Me
desc...
- Não
peça desculpa Justin, não é culpa sua.
- Não?
– ele disse indignado.
- Não
Justin, não é! Pelo menos não totalmente, eu praticamente implorei isso tudo
por já ter chegado na escola agindo tão íntima com você. É culpa minha também!
Eu aceitei isso, não aceitei? Com todos os termos, linha por linha, e até
sublinha! Não vem pedir desculpas! Me faz esse favor – me virei de novo, só
tinha nós na sala, já íamos ser os últimos a chegar.
Foi quando ele me puxa, me escondendo da visão
do corredor, e me dá um beijo rápido.
-
Suporto ser odiada pela metade da escola, mas não pela metade do mundo.
-
Entende por que eu quero que tudo fique assim?
-
Sempre entendi.
Me soltei e saí da sala rumo ao corredor na
frente do Justin, que logo me alcançou depois, mas não conversamos, apenas
seguimos quietos até a outra sala.
“Era só uma peça de teatro” ok, não era o
trabalho com a peça que me irritou, é o fato de eu ter que viver tão controlada
dentro da escola por causa do Justin, eu não me importava com a opinião dos
outros, não mais, mas vira e mexe eu me sentia incomodada com o meu nome na
boca de todo mundo, julgamentos sem sentido, um boato pior do que o outro – já
perdi as contas de quantas pessoas vieram me perguntar se eu tinha um “caso” com
Bieber. Era esse o problema! E a pressão? Tão falada como eu sou, se sair alguma
coisa errada, tudo cairia sobre mim, as pessoas tem o dom de lembrar dos erros
e nunca dos acertos.
Ao chegar à sala de música, o professor já
estava fechando a porta, por um triz não ficamos barrados de entrar e de todas,
essa era a única aula que eu odiaria perder.
- Vocês
demoraram – Marc Dourdan, o professor de música que toda garota gostaria de
ter, nos encarou desconfiado.
-
Desculpa professor, parei para beber água e Justin parou comigo, foi mal, não
queria nos atrasar – achei que ele não iria engolir essa, mas foi a primeira
coisa que pensei e nesse caso não poderia demorar muito.
-
Entrem – ele abriu a porta e nos deixou passar.
Sentei no fundo da sala e Justin quase do
outro lado, por ter sidos os últimos a entrar não tinha sobrados muitos
lugares, mas enfim, não estava ligando para isso eu ainda estava aborrecida com
a aula de literatura o que, infelizmente, não deixou eu prestar atenção na
aula.
Eu mudava de pensamentos muito rápido, até o
final da aula já tinha montado trilhões de diálogos que nunca iriam existir,
pensei em coisas que eu deveria ter dito a aquela maldita, situações que nem em
sonhos seriam reais... no final das contas eu mal lembrava porque estava
zangada.
-
Justin! – as pessoas andavam apressadas para sair da sala logo e eu tentava
driblar todas elas e mais as que estavam se esforçando o máximo para se
aproximar do Bieber para conseguir falar com ele. – Amém, te alcancei – ele,
quase, riu.
-
Fala.
- Você
vai para casa daqui?
- Como
o Scott, não deu sinal de vida até agora acho que sim, por quê?
-
Então vai com Chris, não vai embora sem encontrar ele em! Se não ele vai ficar
me esperando aqui e pretendo demorar.
- Por
quê? Vai fazer morada na escola?
-
Hahaha, hilário Bieber. – ele riu. – Me meti nessa encrenca da peça né, então
vou dar uma olhada na biblioteca para ver se acho alguma coisa.
- Que
menina estudiosa – ele zombava da minha cara.
-
Tchau Bieber! Tchau! Vaza daqui, vai embora! Seu produtorzinho deve estar te
esperando! – fui o empurrando sala a fora e dando alguns tapas e claro, saindo
junto com ele que ria.
-
Garotas estudiosas são boazinhas!
-
Boazinha é a última coisa que eu sou! Agora já foi? – tentei parar de rir, mas
estava complicado.
- Ok,
Ok! Tchau.
-
Tchau – ele se afastou sorrindo pelo corredor e eu fiquei olhando, também
sorrindo, até que sumisse de vista.
Minha sorte que o corredor já estava
completamente vazio.
- Você
vai me contar porque atrasaram ou acha que eu engolir a história da água? – dei
um pulo de susto fazendo meu sorriso evaporar até notar que meu professor de
música estava falando comigo e de que, diferente de muitos dos nossos professores,
sabia meu passado com Justin.
-
Quero que engula a história da água – ele riu. – Tenho que ir à biblioteca
agora, então fique com a história da água que é melhor.
- A
biblioteca está fechada hoje, a menina de lá está de folga.
- Ah
que maravilha! – resmunguei e ele riu de novo.
- Acho
que agora vai ter que me contar.
-
Certo, você venceu!
-
Tenho que ir para sala dos professores agora, me acompanhe e quero saber dos
detalhes.
Contei tudo, nos melhores e menores detalhes
que eu me lembrava, tentando ser rápida e direta e, devido a algum milagre – ou
a sala dos professores que ficou longe demais – consegui, depois emendamos outros
assuntos completamente diferentes.
- E
como era as aulas em Nova York?
- Eram
boas, realmente, eu tinha uma professora excelente! Mas nada substitui as suas
aulas – ele riu.
- Por
que resolveu voltar? Não gostou da vida agitada de uma cidade global?
- As
coisas lá são meio... “agressivas”, um lugar cheio de luxo, mas para quem não vive
é apenas um sonho para idiotas. Nova Yorkinos são pessoas fortes, porque lá se
não tiver nervos de aço, ninguém sobrevive.
- Então...
resolveu voltar, por que você não combina com a luxúria nova yorkina, ou por
certo famoso que também estaria de volta?
- Não!
Não, Justin não tem nada a ver com isso! Por incrível que pareça,
principalmente para mim, nem pensei nele na hora que decidi voltar. Assim que
meu pai disse que voltaríamos, eu disse que sim pensando no Chris, eu sabia que
ele estava morando aqui agora. Pensei no Bieber tempos depois, mas nem me
importei muito, ele estava morando em Atlanta por causa da carreira, não sabia
que iria voltar, nem imaginei isso, só fui descobrir quando fui contar para
Chris e ele me contou que Justin voltaria também, mas que por enquanto era
segredo – ele me olhou de canto. – Eu juro que é verdade – depois riu.
-
Acredito em você – ele não olhava para mim, na maior parte do tempo encarava o
corredor à frente, Marc sempre foi assim, sempre teve o olhar distraído, mas
sempre está prestando atenção em tudo. – Lana! – ele gritou – Vem aqui Lua –
depois disse mais baixo para mim e atravessou o corredor na direção de uma
mulher magra, de cabelos lisos e curtos.
- Oi
Marc – ela sorriu quando nos aproximamos.
- Lua,
essa é Lana Anderson, a nova psicóloga da escola.
-
Prazer em te conhecer – disse.
- O
prazer é todo meu em enfim conhecer uma menina tão falada! – ela sorriu para
mim. – Você não faz ideia de quantas meninas foram parar na minha sala
reclamando por você ser tão próxima daquele Justin Bieber – ela sussurrou e eu
ri.
- Mas
o que aconteceu com a Sra. Dempsey? – perguntei.
- Já
estava na hora de aposentar né Lua? Ao invés de ajudar os alunos ela piorava a
situação – rimos.
Marc
era um dos professores mais novos e não me refiro só em questão de idade, ele
era um cara bem cabeça e esse é o principal motivo da maioria dos alunos
gostarem dele.
- Tem
razão – concordei.
Srta. Anderson olhou no relógio.
-
Desculpa, mas devemos ir Marc.
- Tem
razão – ele concordou.
- Foi
realmente um prazer te conhecer Lua, apareça um dia na minha sala para
conversarmos um pouco, talvez assim eu saiba o que falar para as alunas – ela
sorriu mais uma vez.
- Um
pouco? Ih Srta. Anderson, o buraco é bem mais embaixo do que você pensa – e
mais uma vez escapou o que não devia.
- Como
assim?
-
Melhor deixar essa conversa para outro dia, vocês estão atrasados não é? – Marc
riu.
- Não
pense que vai escapar de mim assim Lua... quero sim te ver na minha sala e
saber dessa história linha por linha ok? – assenti. – Ah! Me chame de Lana.
- Ok –
continuei sorrindo.
-
Então vamos né – Marc apressou – e anda logo Lua, daqui a pouco fecham a escola
e você vai ficar presa aqui.
-
Credo! Tchau então! – eles riram.
Me
afastei acenando e quando me virei, para não perder a fama de desastrada e
distraída, trombei com alguém.
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Demorei demais, eu sei! Foi mal, eu esqueci D: