- Pai!
Pai! Pai!
- Para
de gritar Lua!
- Eu
preciso do meu carro! Me dá! A chave! Me dá!
A
questão era: eu tinha acordada atrasada, meu cabelo parecia um ninho e se eu
faltasse a primeira aula estaria muito ferrada.
- Para
que?
-
Estou atrasada pai! Por favor!
- Vai
logo então.
- É
quase meia hora daqui! Eu vou perder a primeira aula do mesmo jeito, pai! Por
favor, só hoje, uma exceção.
- Ok,
eu deixo você usar hoje e você não usa o final de semana.
-
Cara, eu to pedindo o carro para ir à escola e não para uma viajem
interestadual.
- É
pegar ou largar.
-
Largar! Não vou deixar de usar meu carro no final de semana.
-
Então aproveite indo para escola a pé.
- Pai!
Papaizinho, amor do meu coração, entenda: Eu. Não. Posso. Faltar. A. Primeira.
Aula.
- Pega
a sua mochila.
- Você
vai me dar às chaves?
- Não,
vou te levar.
- Mas
seu caminho é do lado oposto!
- Por
isso vou mais cedo. Vamos logo.
Eu precisava chegar na primeira aula, a
professora definiria tudo sobre o trabalho e eu não podia e não gostaria de
faltar, não que eu seja uma aluna aplicada, longe disso, mas sei que se
depender do Bieber para me explicar vou ficar sem entender até conversar com a
professora. Não estou o chamando de burro, apenas de desatento. E esse trabalho
é importante para mim, porque, diferente dos outros, eu queria fazer.
Em um resumo: não discuti com meu pai.
- Pai,
a mamãe foi ver o negocio lá no hospital?
-
Caramba, explicou bem. “O negocio lá no hospital” – eu ri.
- Você
me entendeu! Vem se fingir de sonso não – ele riu.
- Ela
foi sim e se quer saber, estava bem feliz com isso.
- Ela
gosta, faz bem em voltar, já deveria ter feito isso a tempo!
- E
abrir mão de cuidar da filhinha? Não né.
- Ah
claro pai. Ah claro – ele riu.
- Bom,
chegamos – eu abri a porta e saí em disparada. – Tchau para você também ouviu?
– ele gritou.
Não respondi, apenas levei meu braço para trás
e acenei sem jeito só até entrar na escola.
Os
corredores já estavam vazios – com exceção de um ou outro –, mas eu tinha
certeza que o sinal não havia batido há muito tempo, então corri até a sala e
quase bati com tudo na porta, com o coque do meu cabelo quase desfazendo e
ofegante.
Respirei fundo e abri a porta.
-
Licença professora – pedi e ela apenas assentiu.
Entrei na sala e fui direto para o meu lugar,
coloquei a mochila encima da mesa e respirei fundo descansando de vez.
- O
que aconteceu? – Justin sussurrou.
- Acho
que ainda to no fuso horário da França – sussurrei de volta e ele riu.
A professora se levantou e começou a explicar
como queria o trabalho e eu anotava as coisas, feliz da vida por saber que iria
tirar esse trabalho de letra.
Ela pôs no quadro números de 1 à 12 que
correspondia a cada grupo e na frente os nomes dos respectivos deuses. Kyle, Justin
e eu ficamos com o número 6, Atena. Até gosto da deusa da sabedoria, mas eu
queria outra deusa.
- Ou
melhor, quem é a dupla 8? – duas pessoas da frente levantaram a mão, eu não
sabia os nomes dos dois. – Vocês vão ficar com a 6 vou deixar a 8 para eles –
ela apontou para Justin e eu – acho mais justo.
- Por
eu ser a única garota? – perguntei e ela assentiu.
-
Algum problema?
- Não!
Não! Que isso! Amei! – respondi depressa.
O sinal bateu, a professora saiu e a partir
daí não liguei mais para nada. Fiquei completamente desligada, apenas fazia um
esforço – dos grandes – para não pegar sono até que o sinal bateu.
Saí
para o intervalo com Justin, o pior que tínhamos muito assunto, mas nenhum
deles poderia ser dito ali, no meio do corredor na escola. Imagina se alguém
ouvisse eu comentando sobre a menina bêbada que fez topless na festa da Louise?
Melhor não. Então começamos a arranjar outro assunto, falar mais da escola
mesmo, de coisas que aconteceram no tempo que Justin viajava. E assim seguíamos
rindo pelo corredor, calmamente, até o auditório.
- Por
que você preferiu o numero 8?
- É de
Ártemis, e ela é minha deusa favorita, é uma pena que eu não possa ser mais
regida por ela.
- Por
que não?
- Vou
deixar você descobrir sozinho, afinal, tem que fazer alguma coisa no trabalho –
me sentei à mesa com todo mundo, a mesma de sempre, com as mesmas pessoas de
sempre, Chris, Luka, Hayley e Karol.
- Que
trabalho? O de história? – Halle perguntou.
- Esse
mesmo – respondi.
- Ih,
olha quem vem lá – Justin tinha acabado de sentar ao meu lado quando Luka falou
com uma cara nada agradável e nós olhamos na direção que ele acenou com a
cabeça.
- Ah
não! – Justin resmungou.
A
garotinha irritante da Amanda vinha no fundo, com um sorrisinho de orelha a
orelha, pronta para soltar uma daquelas perolas para cima do Bieber, eu não ia
aguentar aquela garota, ou ia ser ignorante, ou ia cair na gargalhada, então
resolvi sumir de perto.
-
Halle, vamos comprar refrigerante!? – ela assentiu e nos levantamos. – Quer
Justin?
-
Uhum. Coca-cola – ele sequer me olhava, prestava atenção na garota para ver se
os passos diminuía, ou ela desistia, desesperado para que ela não chegasse
perto.
- Sempre
– respondi.
-
Banheiro – Luka se levantou fugindo.
- E eu
vou para qualquer lugar longe dessa conversa – Karol também fugiu.
- E
eu... – Chris começou.
- Você
vai ficar! – Justin praticamente se jogou por cima da mesa para segurar o
Chris, forçando para que ele não se levantasse.
Eu ri daquilo. Quando a mesa sumiu de vista –
ou eu sumi de vista da mesa – a garota já tinha chegado até lá.
- Como
Justin aguenta? Essas beliebers me parecem ser tão sem cérebro – acabei rindo.
- Nem
todas, acredite. Justin ama as fãs, ama mesmo. Ele é louco por elas, vira e
mexe tem alguma criticando algo que ele fez e ele realmente se sente magoado
por isso, mas finge não ver, finge ser forte.
- E
você ta lá para ajudar né! – ela riu e me cutucou com o cotovelo.
Sorri.
- Fazer
o que? Chris me contou que Justin o disse uma vez que nós somos o “porto
seguro” dele entende? Os amigos mais próximos...
-
Amigos, sei... – ela me interrompeu. Ri.
- Você
me entendeu Halle! Eu já perdi a conta de quantas vezes já disse que as garotas
que dizem “não vou ser mais sua fã” ou “não vou ser mais belieber” é porque
nunca foram. Ele se sente mal.
- E
você fica com peninha, own – ela não parava de zoar em uma só!
- Pior
que fico! Dá dó de ver Justin mal, ele é sempre tão animado, agitado. E o pior,
entre Chris e eu, a mais próxima da realidade aqui sou eu né? A que sempre teve
mais contatos com as fãs e essas coisas. Só esse ano que não.
Já era nossa vez de comprar os refrigerantes,
tinha só umas três ou quatro pessoas perto de nós, mas demorou um pouquinho
para uma delas se decidir. Então entreguei o dinheiro, pedi um de uva e duas
coca-colas, Halle pediu um de laranja e nos afastamos do balcão.
- Será
que voltamos? – ela perguntou.
- Acho
melhor não, aquela coisinha pode estar lá ainda. Vamos ficar por aqui – sei que
o refrigerante do Chris e Justin poderia ficar quente, mas eu não queria
encontrar com aquela menininha.
Sei
que Chris não pediu refri, mas ainda sou uma boa amiga.
- Mas
o que Justin faz? – olhei para a Halle confusa. – Para as fãs se revoltarem
contra ele oras.
- Ele
é humano, erra, só que as pessoas não veem isso, querem que ele seja perfeito,
então ele comete uma burrice, e leva uns mil unfollows no twitter.
E ela ficou em silêncio, tomando refrigerante
pelo canudinho sem pausa, estava diferente, com um brilho a menos, me senti
obrigada a parar o meu refrigerante e perguntar o que estava acontecendo.
- É o
Luka – lutei para não revirar os olhos. Essa história, de novo?
- O
que foi dessa vez?
- A
gente brigou.
- De
novo?
- É!
De novo! Que saco Lua! – ela colocou o refrigerante junto com as outras duas
latinhas. – Eu odeio isso, essas brigas, essas coisas toda, mas cara, eu sinto
que gosto dele ainda. Luka me irrita! Me deixa nos nervos, vem com esse
machismo e ciúmes doentio, detalhe: eu não posso me aproximar de nenhum garoto!
Mas ele pode de quantas meninas quiser e eu sequer posso reclamar! Ele ta um
saco! De longe o garoto que conheci há tanto tempo – ela diminuiu o tom –, mas
ainda gosto dele, muito, não quero o perder.
- Sabe
Justin tem seus defeitos, defeitos que me irritam, mais do que simplesmente
“demais”, os defeitos dele me irritam, mas as qualidades acabam superando,
sempre. Eu não me sinto infeliz quando vejo as besteiras que ele faz, eu me
irrito e acabo discutindo com ele. Justin é muito infantil! Muito mesmo! E é
essa a coisa que mais me deixa nos nervos, onde já se viu socar um bolo que uma
equipe toda ia comer? Tentar trocar um McDonalds por um Bugger King, ou vice e
versa, nem lembro mais. Mas no final da tudo certo entre a gente, eu aturo esse
tempo todo. Eu gosto dele ainda, apesar dos defeitos.
-
Traduz senhorita filosofa? – ri.
- A
partir do momento em que os defeitos um do outro passam a ficar insuportáveis,
não vale mais a pena. Luka ta te fazendo sofrer Hayley. Eu era a prova de quanto ele gostava de você,
agora? Não é mais aquilo de antes que eu vejo nos olhos do Luka. Desiste
Hayley, para de sofrer, ele é meu amigo, mas você também é. Vai doer por um
tempo, mas você tem sorte.
-
Sorte? Você chama isso de sorte?
- Vai
por mim Halle, você tem muita sorte, se terminar com o Luka, o tanto que você
sofrer depois de um tempo passa, você vai encontrar outro alguém que te fará
esquecer a dor.
- Isso
é o que sempre acontece. Não? – terminei meu refrigerante e joguei na lata do
lixo e então peguei as duas cocas.
- Não.
Me
afastei dela, a deixando para trás, ela iria precisar pensar, eu sabia disso.
Então voltei para mesa e joguei os dois refrigerantes para os dois sentados à
mesa.
- Por
você ter me pagado um Chris, estava te devendo.
-
Valeu!
-
Obrigado. – Justin agradeceu.
- Nada
oras. Cadê Karol e Luka?
- Não
sei, sumiram – Justin me respondeu.
- E
cadê Hayley? – Chris perguntou.
-
Ficou para trás, ela precisava pensar em algumas coisas – e então me sentei.
- Por
que demoraram tanto? – Justin.
- Não
queria correr o risco de encontrar a Amanda por aqui.
- Mas
ela não demorou muito para sair.
-
Sério? – perguntei realmente surpresa, afinal Amanda era a pessoa mais
insistente que eu já conheci na vida.
- Justin
a despachou rapidinho – Chris riu. – Nunca vi ele fazer isso tão rápido!
- Nem
eu. Como conseguiu?
-
Sério, não sei, mas quando notei ela estava saindo daqui feliz da vida – Chris gargalhou
mais uma vez quando Justin respondeu.
Tinha algo estranho, Justin brincava com o
canudo e tomava alguns goles de refrigerante sem dizer palavras com alguma
emoção, eu não via motivo para isso.
-
Justin?...
- Sabrina
a mandou aqui, só não sei para que ou porque – ele soltou de vez. – Amanda disse
isso, ela não se importou em sair daqui depois que todos se afastaram.
- Sabrina
já fez algo parecido comigo também – Chris disse já não tão vermelho de rir. – Lembra
quando me atrasei para ir embora contigo? – assenti. – Uma menina da minha sala
me segurou, depois ela chegou e começou a falar um monte de coisa, de inicio
pensei que fosse com a Lorena, mas quando tomei conta que era comigo, fui
embora o mais rápido que pude, para ver se te alcançava – eu teria rido se não
tivesse ficado furiosa.
Não
controlei, quando Justin desviou a atenção do refrigerante e o olhou para mim,
eu já procurava a Shepers pelo refeitório. Assim que encontrei aqueles olhos
azuis passeando junto com o resto do corpo rumo ao lado de fora, meu sangue
subiu a cabeça.
- Lua?
– Justin perguntou.
- Eu
já volto – me levantei de pressa e saí do refeitório, a seguindo até o banheiro
das meninas.
- Ora,
uma típica briga de garotas dentro do banheiro feminino?
- Eu
não gosto muito dessa palavra, “típica”, quer dizer que algo é comum e “comum”
não é muito uma coisa que eu goste de ser.
-
Então o que veio fazer aqui? – ela guardou o lápis que estava retocando e olhou
para mim.
-
Apenas te dar um aviso.
- Para
mim ainda é típico – ela passou a retocar o batom.
- Não,
não é nada demais. Só quero que fique longe dos meus amigos ok? Sabrina... você
não tem ideia de com quem está mexendo.
- Eu
sei mais sobre você do que imagina Lua – ela guardou o batom.
- Sabe
o que falaram de mim enquanto eu não estava presente Shepers. Você não tem
ideia o quanto 12 meses podem mudar alguém, sem contar que Nova York não é um
santuário.
- Quer
dizer que virou menina má Houston? – ela sorria sarcástica.
- As
coisas funcionam assim Sabrina: faça o que quiser, mas não se meta com os meus
amigos entendeu? Ou eu acabo com a sua vida – me virei para sair do banheiro.
- Isso
é uma ameaça?
-
Entenda como quiser.
-
Entendi que eu não posso brincar com os seus amigos, mas então posso com o
Justin, afinal, ele não é exatamente seu amigo, não é? – parei na hora e senti
uma onde de desespero me invadir. O que ela ouviu? Do que ela sabe? Minha
vontade de repente era virar e implorar que seja lá o que fosse não contasse
para ninguém, mas eu não era assim e nem podia fazer isso, nem por mim, sequer
pelo Justin.
Me virei para ela de novo e me aproximei
alguns passos. Ela continuava com aquele sorrisinho e os com os braços
cruzados, se achando a vitoriosa nessa história que mal começou.
- Não
vai nessa, Justin é meu amigo sim e se eu fosse você não me precipitava ou
achava o contrário. Não tente apagar fogo com gasolina [n/a:eu realmente AMO essa frase! Valeu David Bowie!] ou não
vai querer sequer ter me conhecido – me virei de novo e não importa o que ela
dissesse eu sairia dali.
- Como
é que dizem? Cão que ladra não morde né!?
- Mas
a cadela aqui arranca pedaço.
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