Pov's Houston
Acordei muito cedo, na verdade, acho que nem
dormi. Nas minhas contas só durei três horas na cama. Então logo estava no
sofá, de pijamas, abraçada com as pernas, supostamente vendo televisão, sei que
passava algum desenho, mas não faço ideia qual, minha mente estava tão agitada que
parecia desligada.
Havia duas semanas e meia que eu não falava
com o Bieber, desde o dia que ele me envergonhou no racha. Desde então, já
houve quatro outros encontros, mas não fui em nenhum, sempre fui de cumprir com
as minhas promessas, tudo bem que a aposta não foi bem: “você volta pra casa
comigo e nunca mais participa disso”, mas não era preciso terminar a frase para
entender a intenção do que ele estava fazendo ali. De qualquer modo, não teria
coragem de voltar lá depois de toda a humilhação publica que ele me fez passar.
A queridinha estava fora do encontro de racha
mais importante da província.
Mas essa minha insônia não era simplesmente
pela quantidade de dia sem falar com Justin, ou abstinência de velocidade e
adrenalina, mas sim porque noite passada, no último jornal, passou uma
reportagem policial contando que acabaram com um esquema de racha nos limites
da cidade vizinha. Liguei pro Luka, e ele me confirmou que o Gabe estava na
delegacia, os carros foram apreendidos e mais uns 10 foram presos, o resto
conseguiu fugir, mas os líderes estavam entre esses dez. Dragon estava.
Eu estava com medo, confesso, se não soubessem
meu nome talvez eu estaria com menos medo, mas aquele dia que Bieber esteve lá,
ele acabou gritando para quem conseguisse ouvir. Eu não era uma líder, e, era
novata também, o que não me traria riscos, se não tivesse me tornado a “menina
de ouro” tão rápido. Mas eles não iam me dedurar... mas poderiam... e o medo me
consumia enquanto isso.
Luka estava acompanhando o Gabe, provavelmente
ele me avisaria se desse algum problema, pelo menos é o que eu espero. Luka não
sabe de nada, mas se soubesse me ligaria, eu precisava acreditar nisso, o
importante era não me desesperar, nunca! Eu não podia fazer nada, além de
esperar, só que, isso não quer dizer que eu deveria ficar sentada no sofá o dia
inteiro fazendo exercícios de respiração para não surtar, ainda tinha o assunto
Bieber para resolver.
Justin sempre foi a pessoa com quem mais
contei, Chris também sempre ficou do meu lado, mas não queria o envolver nisso,
já o astro teen em questão tinha se envolvido a partir do momento que foi me
buscar naquela corrida, e, se ele não tivesse ido, talvez eu estivesse mais
envolvida com essas prisões do que estou agora.
Levantei do sofá para comer alguma coisa.
Enquanto preparava, mandei uma mensagem pra ele, pedindo para que viesse. Sei
que, tinha uma grande possibilidade dele não vir, depois do nosso último
encontro, era o de se esperar, mas eu precisava tentar, se ele não viesse aqui,
eu iria lá, tanto faz, mas queria falar com ele totalmente a sós e, não sei se
na casa dele isso é uma opção, talvez a mãe dele estivesse lá, talvez até mesmo
o Scooter, ou seja, melhor que ele viesse até aqui.
Preparei o lanche, comi e ainda fiz o favor de
sujar a minha blusa com maionese, tudo antes dele responder. Quando subi para
trocar de roupa, já tinha até perdido as esperanças que ele viesse, mesmo que
não havia muito tempo que eu mandei a mensagem. Ao chegar ao quarto, fiquei só
com a calça do pijama, enquanto procurava uma camisa para ficar em casa e não
achava nenhuma.
-
Lua? Está em casa?
-
Aqui em cima! Pode subir – gritei da porta.
Ouvi seus lentos passos na escada, mas eu
estava mais preocupada com o fato de ainda estar de sutiã. Porém, assim que
peguei a blusa na mão, Justin deu três batidas na porta.
-
Oi – me vesti.
-
Oi – respondi. – Achei que não viesse.
-
Confesso que fiquei em duvida.
-
Ainda está bravo comigo?
-
Na verdade, cansei de estar bravo ou qualquer coisa do tipo com você, pelo menos
por esse motivo, mas, de acordo com o nosso último encontro, você que estava
brava comigo.
-
Coisas de momento, sabe como é – ele riu sem graça.
-
Se tratando de você, sei muito bem – minha vez de rir sem graça.
Silêncio.
-
Achei que estivesse, você não ligou nem nada mais.
-
É que, sabe, acho que não fazia muito sentido eu ligar sendo que a besteira,
quem fez, foi você.
-
É, realmente. Mas enfim, não fica plantado aí, entra e senta, vou por essa
roupa no cesto.
Peguei a blusa do chão e fui até o banheiro
por no cesto de roupa suja, quando voltei, ele estava sentado na cama, postura
pouco a vontade. Nós tentávamos ficar num clima mais tranquilo, mas dava para
sentir certa densidade no ar.
-
Bem, sabe que não sou boa em desculpas, mas, elas são necessárias. Você estava
certo, o tempo todo, eu não devia ter me comportado daquele jeito, sequer me
metido naquilo.
-
Pena que percebeu isso só depois do noticiário de ontem. Eu vi que pegaram
aquele cara que estava do seu lado, Dragon, não é? – assenti.
-
Na verdade, o noticiário de ontem só serviu para eu tomar mais coragem de falar
com você. Você estava totalmente certo. Quando surgiu a oportunidade de correr
de novo, eu... eu não consegui resistir, estava pirando! Isso me relaxava
antes, me ajudava, achei que ajudaria de novo. E não! Antes que você pense, foi
a primeira e a última vez que eu me meti em racha! Te juro. Mas a adrenalina...
foi mais forte que eu.
-
Mas Lua! Você poderia ter se machucado! – ele se levantou subitamente.
-
Não ia acontecer nada comigo, Bieber, eu sou boa nisso, nunca aconteceu.
-
Mas podia! Eu quase causei um acidente, e devo desculpas por isso porque
realmente não foi por querer, mas eu poderia ter te machucado! E se outro
fizesse isso por querer?
-
Não ia acontecer nada!
-
Mas e se acontecesse? – Ele parecia desesperado. – Lua, pelo amor, eu não ia
suportar ver você em um hospital de novo.
-
Mas... espera! O que você disse?
-
Que não ia suportar te ver em um hospital de novo.
-
De novo? Como assim “de novo”? – franzi o cenho, e ele pareceu não entender.
-
Você sabe o que eu quero dizer com “de novo”...
-
Se soubesse não estaria perguntando, como assim “de novo”, Justin?
-
Aquela vez, que você ficou internada em Nova York porque...
-
Como você sabe disso? – o interrompi aumentando meu tom de voz.
-
Eu... eu...
-
Justin! Como você sabe disso? Eu não acredito! – minha mente trabalhava a mil,
como ele sabia? Não tinha como! Não tínhamos vínculos nenhum em Nova York, fora
aquele dia do show que a Harper me obrigou a ir. Só se ele, curiosamente, foi
fazer uma visita no hospital que eu estava, ou foi me procurar, ou se... –
Minha mãe, a minha mãe te disse!
-
Eu estava de passagem em Nova York, ela ficou sabendo e me procurou, disse que você
estava muito mal no hospital, havia alguns dias. Me disse o nome do hospital,
disse que tudo bem se eu não fosse lá, mas que achava que eu deveria ficar
sabendo – xinguei tudo o que veio na minha cabeça naquele momento.
-
Ela não devia ter feito isso! Você não deveria ter ido!
-
Lua! Eu estava preocupado com você! Como não queria que eu fosse? A garota que
eu sempre amei estava internada havia dias num maldito hospital e você queria
que eu não fizesse nada?
-
Sim! Você podia ter sido descoberto! Poderia... poderia ter dado algum
problema!
-
Mas não deu!
-
Mas poderia! – ele respirou fundo
-
Então quer dizer que o que importa é que nosso passado não fosse descoberto?
Mais do que até mesmo a sua saúde? Mais do que o nosso bem estar? – ele tentou não gritar, mas em algumas palavras
foi inevitável.
-
Sim! – respondi sem pensar.
-
Eu não deveria ter ido atrás de você naquele racha. Mas eu achei que você ainda
se importava com a gente.
-
Mas eu me importo!
-
Não Lua, você se importa consigo mesma, em como as coisas vão afetar na sua
vida. Aposto que esse pedido de desculpas pelo qual me fez vir aqui é uma
farsa, ao ver que se eu, Lua, se eu
não tivesse ido te tirar de lá, talvez você estivesse na cadeia com seus
amiguinhos.
Ele ficou mais alguns segundos me olhando com
reprovação, depois saiu do quarto antes mesmo que eu me movesse.
O que eu fiz? A minha intenção não era essa!
Eu só não queria que ele se colocasse
em perigo. O que andei fazendo com o Justin? Eu não queria que acontecesse nada
disso, minhas desculpas foram sinceras, eu não me importava só comigo! E eu
precisava dizer isso para ele, então corri, talvez conseguisse pega-lo ainda na
rua. Corri tão rápido que, como sempre fui desastrada, quase caí na escada, fui
aos tropeções até a porta, mas quando abri, o vi ainda na calçada da casa dele.
-
Justin! – Gritei e corri, largando a porta a ouvindo bater com força. Ele virou
e me viu, mas continuou andando. – Justin! Por favor! Espera! – não parou.
Corri mais. – Justin! – o alcancei e segurei pelo braço, o puxando, só assim
ele parou e virou para mim, mas não disse nada. – Calma, eu preciso de folego.
Tentei recuperar todo o ar que perdi.
-
Todos me disseram para não ir, mas fui mesmo assim. Queria te ver, saber como
você estava, queria ficar contigo alguns minutos, segundos, ou o que fosse! E
você agora me diz que eu não devia ter ido, como se... como senão tivesse
importância nenhuma!
-
Não foi isso que eu quis dizer! Eu fiquei surpresa, só isso, e minhas desculpas
foram sim sinceras. Mas oras Bieber, eu pretendia desfazer todos os nossos
vínculos para tentar seguir com a vida, e, no momento crítico como aquele, imagina
o quanto não ia mexer com a gente caso eu te visse lá? Porque aposto, que mexeu
com você mesmo me vendo desacordada – ele abaixou a cabeça, provavelmente vendo
a minha ponta de razão. – Só não queria dificultar as coisas pra gente.
-
Eu nunca quis deixar os nossos vínculos pra trás.
-
Mas era preciso, a gente tinha que deixar a vida acontecer mesmo um sem o
outro.
-
Tem certeza que é por isso Lua? – Ele me olhou com o cenho franzido.
-
Absoluta – continuou me olhando com duvida. – Por que? Por que está me olhando
com essa cara? Deveria ter algum outro motivo?
-
Não sei, talvez um motivo chamado... ham... Joe – sabe aqueles momentos que
você não consegue pensar em mais nada? Até mesmo esquece que sabe falar? Foi
praticamente essa a minha reação. – E então?
-
Como assim Joe? Que Joe?
-
É isso que eu quero saber de você, quem é Joe, Lua?
-
Como você sabe dele?
-
A minha pergunta primeiro!
-
Responde a minha que eu respondo a sua – a gente ficou se encarando por um
tempo, esperando quem ia ceder primeiro.
-
Fui ao seu quarto uma vez, deixar o trabalho da escola, você estava dormindo,
estava tão linda... resolvi te dar um beijo, e você sussurrou esse nome – ótima
história para pifar meu cérebro.
-
Eu fiz isso? Quando foi no meu quarto? Meu Deus! – levei as mãos até a cabeça,
baguncei ainda mais meu cabelo. – Ok, não tem como mais fugir. Você tem que
saber.
-
Saber o que?
-
Sobre Nova York.