- Lua?
– olhei para frente e dei de cara com a Srta. Anderson. – Tudo bem com você?
-
Desculpa Srta. Anderson, mas eu pareço bem?
- Já
pedi para que me chamasse de Lana.
-
Desculpa.
-
Você quer conversar?
- Não
sei, está tudo rodando. Por enquanto quero ficar na minha.
-
Bom, que tal me ver depois da aula? Ainda está me devendo essa – ela falou num
tom brincalhão e eu soltei um sorrisinho.
-
Tudo bem, acho que vou aparecer.
- Vou
estar te esperando. Agora vai para sala, o intervalo já acabou.
Assenti e segui caminho, depois disso não
lembro mais de nada o que aconteceu, sequer sei se aconteceu mesmo. Eu estava
perdida. Lembro da Hayley me parar no corredor, enquanto eu ia para a sala da
Lana.
-
Lua? – ela disse com a voz mansa, arrastada.
Soltei algum som estranho parecido com um
“hum?”.
-
Karol, Luka e eu conversamos brevemente agora, estamos consideravelmente bem.
Resolvemos conversar melhor mais tarde. Achei que você deveria saber disso.
-
Fico feliz em saber – dei um sorriso desajeitado, mas sincero, eu realmente
estava feliz em saber disso.
-
Então... eu to indo, preciso pensar. Você vai agora?
-
Não, ainda tenho alguma coisa para fazer.
-
Tudo bem então, até outra hora.
-
Até.
Ela se afastou, nós duas não falávamos com
muita emoção, de um jeito ou de outro, ambas estávamos melancólicas do nosso
próprio jeito, mas tentei acordar e procurar o Kyle pela escola, mandei uma
mensagem para ele perguntando onde estava, ele me respondeu e eu disse para me
esperar lá, que queria falar com ele. Andei depressa, até o achar no pátio,
próximo a grade do lado esquerdo, com alguns outros garotos.
Não fui até lá, mas quando ele me viu, fiz um
sinal para que ele viesse até mim, e veio.
-
Aconteceu alguma coisa?
-
Aconteceu muita coisa! Mas preciso da sua ajuda.
-
Qualquer coisa, só dizer.
-
Hayley e Luka brigaram, ta sabendo né? – ele assentiu, a escola toda sabia
disso. – Então, é o fim de uma vez, quero que fique de tocaia na casa da Hayley
hoje a tarde, pode ser mais para a noite e converse com ela quando ela chegar,
converse como amigo e não tente se aproveitar de qualquer coisa, ok? Ela
precisa de apoio agora, e eu não vou poder ajudar, quero que faça isso para
mim. Confio em você Kyle, quero que Halle também confie. – ele assentiu,
preocupado.
-
Obrigado, Lua.
- Não
há de que.
Nos afastamos, ele voltou para os amigos, mas
antes de entrar na escola de novo, pude ver que estava um tanto pensativo.
Fui até a sala da Lana mais desperta do que antes, minha cabeça
tinha voltado a ficar a mil, mas dessa vez eu estava pronta para falar. Bati na
porta e abri, Lana estava atrás de uma mesa com cara de quem sabia que eu
viria.
-
Estava esperando por você – ela se levantou e me apontou uma poltrona para me
sentar.
- Não
deveria me sentar no divã?
- Não
encare isso como uma consulta Lua, apenas como uma conversa – ela se sentou
numa poltrona na minha frente. Dei de ombros e me sentei também.
-
Antes de tudo, por que você está sendo tão legal comigo? Tipo, você está
fazendo parecer que somos amigas, duvido que faça isso com os outros alunos, ou
o divã é só para enfeite? – ela riu.
- Não
é de enfeite, você que é especial. Marc me falou sobre você, e eu só gostaria
que tivesse comigo a mesma cumplicidade que tem com ele, porque, te acho uma
garota muito especial.
- Mas
você mal me conhece, ou falou comigo direito.
- Eu
sou uma psicóloga Lua, meu trabalho é “ver” através das pessoas, entender o que
se passam na cabeça delas, talvez, o que eu sei sobre você não faz com que eu
realmente te conheça, mas é o suficiente para saber que você não é como todas
as outras.
-
Isso foi... comovente, e não é ironia, juro – ela riu de novo. Eu já estava me
sentindo muito melhor, talvez devido a minha “instabilidade emocional”.
-
Você já fez terapia alguma vez?
- Já
sim, mas foi por pouco mais de um mês.
- E
por que só esse tempo?
- Eu
teimei em não ir e meus pais também não quiseram mais que eu fosse, eles
acharam que eu estava ficando pior, ou invés de melhor.
- E
você estava piorando?
-
Acho que sim, eu me sentia muito mal.
- Por
que se sentia tão mal?
-
Porque... calma aí, se eu te explicar o porque você não vai entender e a história
vai ficar maior. Você precisa saber desde o começo, absolutamente tudo, desde
meu primeiro namoro com Justin, até esse relacionamento de agora. Aí você vai
entender direito.
-
Espera, você está namorando Justin Bieber? – ela me pareceu ficar realmente
surpresa, mas quem que não nos conhecesse bem, não ficaria?
Foi a minha vez de rir.
-
Você tem tempo? Essa história vai demorar.
Comecei a contar tudo a ela, desde quando vi
Justin pela primeira vez até quando o vi pela última, tentei dizer apenas os
detalhes importantes que conseguia me lembrar, mas, infelizmente – ou
felizmente – eram muitos. A voz da Lana era calma e suave, me dava vontade de
falar sem medo, então eu disse tudo, como me lembrava e respondi todas as suas
perguntas. Contei sobre Louise, meu namoro relâmpago com Taylor, minhas viagens
atuais com Bieber, minha amizade com Chris... contei até sobre eu estar
tentando “empurrar” Kyle para Halle e sobre o tal triangulo entre meus amigos
mais antigos.
Lana ficou surpresa em muita das partes, e ela
não tentou esconder isso em nenhum momento e nem qualquer outro sentimento,
acho que realmente estava fazendo daquilo uma conversa amigável e não uma
consulta terapêutica, o que me deixava com ainda mais vontade de falar e por
incrível que pareça, não chorei nos momentos ruins que eu dizia, o que ela
transmitia para mim não permitia tal coisa, e o que eu mais queria era que ela
soubesse absolutamente tudo e que me ajudasse a entender sem que eu quase
estourasse minha cabeça na parede para saber o que se passa dentro de mim.
Um erro da minha terapia do ano passado foi
que tinha coisas que eu não contei ao terapeuta, eu não queria remexer no que
estava querendo esquecer e muito menos o que ele soubesse dessas coisas, mas
com Lana não estava sendo bem assim, afinal, a partir do momento que eu voltei,
aquelas lembranças estavam sendo remexidas e eu confiava nela, confiava de
verdade que ela me ajudaria.
-
Então, é isso.
- Meu
Deus – ela demorou um tempo para continuar a falar. – Eu nunca vi algo assim,
isso entre você e o Justin... não sei dizer se é amor ou se vai além.
- Vai
além, isso eu posso te garantir.
-
Vocês são feitos um para o outro, literalmente.
- É o
que parece.
- Meu
Deus – ela repetiu.
- Te
dou um tempo para digerir tudo, eu entendo – rimos.
-
Tudo é bem surpreendente, mas, você ainda não respondeu a minha pergunta sobre
sua terapia, você disse que foi quando morava em Nova York, mas não me disse
porque você se sentia pior – minha expressão fechou.
- Eu
devo contar isso a você.
- De
preferência, mas se não quiser...
-
Não, não, eu devo, eu preciso dizer.
-
Tudo bem, mas eu não quero te obrigar a nada, ok?
- Ta
tudo bem, eu só peço a você que guarde segredo de absolutamente tudo sobre o
que vou te contar agora, fora meus pais, ninguém mais sabe e, é uma coisa que
me sufoca, mas, tenho que resolver isso sozinha, principalmente em relação ao
Justin. Me promete?
-
Claro! Por mais que seja só uma conversa, seria antiético da minha parte dizer
para outros, o que conversamos aqui.
Então eu contei, era a primeira vez que eu falava
sobre minha vida em Manhattan tão abertamente para alguém, no começo me senti
travada e envergonhada por tudo o que eu dizia que fiz, mas Lana me incentivava
a continuar, não por curiosidade, mas, era como se ela soubesse que falar fosse
o melhor para mim. E talvez realmente era, porque me senti bem melhor quando
terminei.
- Que
vida a sua – ri.
-
Isso tudo só tem três anos, fico pensando, que se eu não tivesse conhecido o
Justin, talvez nada disso teria acontecido comigo.
-
Você se arrepende de ter o conhecido?
-
Não, de jeito nenhum! Apesar de tudo. Mas... e se eu não tivesse conhecido?
Como estaríamos agora? Será que ele seria famoso? Será que ele ainda estaria
com a Caitlin? Será que eu ia para Nova York ou que tivesse feito todas aquelas
coisas lá? Será...
-
Lua, você precisa parar de pensar sobre isso. As coisas acontecem por uma única
razão, se você conheceu o Justin, você deveria conhecê-lo.
-
Mesmo se ele não tivesse se mudado?
-
Talvez vocês se encontrariam em outro momento.
-
Você realmente acredita nisso?
-
Acredito.
Parei para pensar. No final de tudo, meu
destino era o Justin.