Pov's Houston
Levantei da cama praticamente me arrastando, não
tinha vontade de fazer sequer isso hoje, mas se eu não quisesse parar no
hospital de novo, dessa vez por causa de uma convulsão que poderia ser
efeito do acidente, era melhor eu tomar meus remédios que, eu juro, estar
tentando fazer isso na hora certa – mas é muito difícil!
To me sentindo uma louca com esses remédios!
Como se não bastassem os antigos – que há muito tempo eu parara de tomar –
agora tem os novos, e então meus pais me obrigam a tomar todos e eu não aguento
mais! Juro que já fui normal uma vez na vida, mas com esses potes laranjas no
meu banheiro, quem diria que eu realmente fui? Ta que, os que eu tenho que tomar
por causa do acidente são completamente normais pra evitar algum problema, e
por causa das dores que ainda sinto, mas o grande problema é que não são só
esses. Oras! Já fiz visitas ao setor de psiquiatria quando estava em Nova York.
Tomei as pílulas e conferi a minha aparência
de defunto no espelho. Não sei o que estava me fazendo pior: ficar no hospital
com aquele cheiro horrível de... bem, de hospital, ou, ficar em casa olhando
para o teto no tédio dos infernos. Por isso, pensei em ligar pro Chris, ele tem
sido uma ótima companhia, disse até que passaria a noite aqui no final de
semana já que não precisaria ir à escola no outro dia, e, já que, também não
vou para a escola até que esses hematomas me deixem com uma cara menos doentia.
Maldito acidente! Só serviu para ferrar ainda
mais a minha vida. Exceto por uma coisa.
Logo cedo do dia seguinte que eu acordei,
Justin apareceu no hospital e dessa vez nem liguei – também não tinha por que.
Foi muito bom ele ter aparecido, ficou comigo o dia inteiro e a gente
conversava como se não tivesse acontecendo nada no mundo lá fora e quase como
se eu não tivesse quase morrido também, porém, sobre essa parte, eu podia
observar o desespero misturado com alívio em seus olhos por me ver bem apesar
de tudo. Um dos dias que eu estava internada, ele pode passar a noite lá comigo
e a gente mal dormiu, sei lá, o clima estava tão leve entre a gente que podia
parecer estranho. Mas, como estamos falando de Justin e eu, e nada entre a gente é normal, tranquilo e
leve por muito tempo, no dia seguinte do que ele passou a noite no hospital,
bem no final da tarde, ele tinha outro show pra ir, e nesse mesmo dia recebi
previsão de alta.
Quando ele voltou eu estava me preparando para
ir para casa, me pegou prestes a sair do quarto, e nessa hora eu estava
totalmente estranha porque simplesmente tinha me lembrado de tudo o que
aconteceu antes de pararmos ali e, não que eu me importe tanto já que seria
egoísmo meu querer que ele parasse todos os shows e as divulgações do CD por
minha causa, mas, isso não muda o fato que o Chris ficou bem mais comigo no
hospital do que ele. Ok, ele ficou uma noite, mas o Chris ficou todas as
outras.
Bem, num resumo, a gente ta todo estranho de
novo.
Voltei para o quarto e liguei para o Chris, ele
viria assim que saísse da escola. Enquanto isso, liguei para Harper, não tenho
falado com ela há um bom tempo, mal tinha explicado sobre o acidente.
- Oh my gosh! Você está viva!
- Surpreendente, não?
- Pela falta de notícia, sim!
Surpreendente.
- Ok, Har, me desculpa! Mas bem, eu
passei alguns dias internadas, era difícil dar alguma notícia.
- Só te perdoo, porque você quase
morreu – até que eu
ri disso. – Mas e como você ta agora? E o
Justin? Ele ta aí?
- Justin ta viajando, ele veio me
visitar algumas vezes, mas ta lotado de coisas, não pode ficar muito.
- Eu vi o que ele fez no show.
- A That Should Be Me? Aquilo foi
incrível e estranho.
- Estranho? O que tem de estranho? Ele
ta sofrendo por você, Lua, deixa de ser...
- Não, Har! Não to falando por ele ter
cantando, não surta! Foi incrível ele ter feito isso por mim, a parte estranha
foi que eu acordei justamente nessa hora.
- Que? Calma! Explica isso! Como
assim?
- Eu meio que acordei com essa música
na cabeça, não sei explicar, só sei que quando acordei, Chris ligou para o
Justin assim que conseguiu controlar a felicidade, Ryan atendeu e disse que ele
estava terminando uma música e que não sabia se ia conseguir tirar ele do
palco, só que Chris insistiu e disse que era importante, disse que eu tinha
acordado. Nisso, Ryan ficou meio perdido, mas não por muito tempo porque logo
Justin entrou no backstage chorando feito criança.
- Eu vi ele chorando no palco! Aí Lua,
aquilo acabou comigo! Meu coração ficou em mil pedaços.
- Imagine o meu? Vi o vídeo depois,
quase chorei junto.
- Juro que se eu não soubesse o quanto
você gosta do Justin, eu iria ter certeza que seu acidente fritou seus
neurônios, porque só assim para você ter dito “quase chorei junto” – é realmente difícil não rir da
Harper, de verdade.
- Não sou uma pessoa tão insensível
assim! Mas, hum... Harper...
- Hum? O que foi?
- Ver o vídeo do Justin cantando foi
meio familiar, como um déjà vu. Era como se eu sentisse aquilo, sabe?
- E você disse isso pra ele?
- Nem pensei em dizer, tava preocupada
com outras coisas.
- Você é doida? O que pode ser mais
importante do que dizer coisas importantes para o Justin? – eu já comentei que às vezes ela fala
que nem o Chris? Sabe, confuso e sem as pausas das virgulas.
- O fato de eu estar viva, quem sabe?
- Ok! Te perdoo mais uma vez, mas você
tem que parar de fazer essas coisas.
- Que coisas? Eu só não disse...
- Já ta errada! Já ta toda errada! Era
para dizer! Era para dizer tudo!
- Ta bom! – tive que gritar no telefone pra ver
se ela ficasse quieta.
- Não grita comigo, vadia! Eu to
falando sério.
- Harper... – e então ela começou a falar sem
parar por um segundo, nem mesmo para respirar – Harper... – sequer me deixava falar, continuava batendo na mesma
tecla que eu deveria dizer tudo ao Justin, sendo que, na verdade, eu digo! Pelo
menos o que julgo ser importante, mesmo que eu demore – Harper!
- Que foi!? – ela gritou também.
- Ele vai embora.
- Mas o que?
- Ele vai embora, vai se mudar pra
Atlanta daqui a poucas semanas.
- E você?
- O que tem eu?
- O que vai fazer?
- Como assim? O que eu posso fazer?
- Como assim o que pode fazer? Vai com
ele! Já disse que vai com ele?
- Como eu vou com ele, Collins? Preciso,
pelo menos, terminar a escola, não acha?
- Ele também, não?
- Vão adiantar as provas para ele e
coisa e tal.
- Ta bom, a situação não está nada
bem, ele não vai estar aí para o baile.
- Baile? Harper Collins, ele vai
embora para outro estado, outro país e você está preocupada com o baile de
formatura?
- Aposto que nem tava lembrando disso.
- Claro que não!
- É a sua cara não lembrar do baile.
- Para que eu vou querer lembrar do
baile?
- Oh my gosh! Como você pode ser tão
rabugenta?
Ouvi a porta da minha casa bater, e logo em
seguida a voz do Chris me gritando.
-
Lua! Ta no quarto? To subindo! Espero que esteja vestida.
- Harper eu tenho que desligar, Chris está
vindo.
- Vai me trocar assim, é?
- Pelo menos Chris não fica me
aporrinhando com histórias do baile.
- Houston, eu juro que às vezes eu não
sei como sou sua amiga.
- Collins, eu sei como você é minha
amiga, você me ama, querida.
- Vai para o inferno.
- Tudo bem, a gente se vê lá! – ela gargalhou alto e
escandalosamente, como sempre.
-
Mas Lua, falando sério. Você foi embora
uma vez e agora é a vez do Justin, pelo menos, não deixa as coisas ficarem mal,
ok? Eu sei bem o estado que te encontrei, não quero que se repita, para nenhum
dos dois.
- Tudo bem, agora vaza, Chris ta na
minha porta.
- Nossa!
Encarei o Chris, que estava parado na entrada
do quarto.
-
Você acreditaria se eu dissesse que ela simplesmente desligou? – ele riu.
-
Era a Harper, né? – assenti. – Eu preciso conhecer essa garota, algo me diz que
a gente se daria muito bem.
-
Credo! – ele fez uma cara de ofendido e a gente riu. – Mas, aproveitando o
assunto garotas, Christian Jacob Beadles, me diz uma coisa.
-
Vish, você disse meu nome inteiro! Vou acabar me arrependendo por perguntar,
mas, que coisa?
-
Makena Fox, manda as novidades – ele ficou vermelho de imediato.
-
A gente tem ficado, confesso! Ai cara, eu gosto muito daquela garota.
-
Eu sabia! – tentei pular pra cima do Chris como tenho o hábito de fazer, porém,
o movimento brusco me fez contorcer de dor. – Eu te apertaria se... ai... é,
você sabe.
-
Dores?
-
Uma aqui, outra ali. Pois bem, já estive pior.
-
Ah, claro, quantas vezes você tentou se matar mesmo? – foi minha vez de fazer
uma cara de ofendida.
-
Sabe que não foi minha culpa.