(...)
Sim, ele vai se mudar e é fato. Já aceitei
isso, mas isso não quer dizer que estou bem com essa história.
Não falei direito com ele desde que me deu a
notícia, aquele dia, meu pai fez vigia na minha cama com medo de que eu
retrocedesse ou algo assim, já que apaguei assim que entrei em casa. Me
perguntou um trilhão de vezes se eu estava tomando meus remédios direito – o
que vindo de mim, é claro que eu não estava, nunca lembro de tomar os remédios
na hora certa, mas nesse caso não foi por causa disso, o médico mesmo disse que
não corre riscos de eu surtar de novo, só que, com o meu histórico hospitalar
do ano passado, meus pais enlouquecem com qualquer coisinha “fora do padrão”.
Justin e eu tentamos nos falar algumas vezes,
não contei a ele sobre o incidente porque achei melhor não dizer nada, então,
nas poucas vezes que ele me ligou o máximo que rolou foi alguns gemidos tipo
“uhum”, “ahm”, “er”. Realmente não tínhamos nada pra dizer um para o outro,
estava tudo super estranho.
Kyle
e eu resolvemos dar umas das nossas típicas saídas de quando Justin viaja.
Pegamos as motos e demos uma volta até o parque, onde paramos e compramos
cachorro quente.
-
Você está estranha.
-
Você não é o primeiro que me diz isso na vida.
-
Sei que sou seu amigo mais recente, mas já sei quando você está estranha porque
aconteceu alguma coisa, e não porque você é estranha – o olhei com a testa
franzida. – Já me disseram que sou perceptivo – me respondeu sem desviar os
olhos azuis de mim, definitivamente decidido a ter uma resposta rápida.
Abaixei
a cabeça e respirei fundo.
-
Justin vai se mudar, antes mesmo das provas finais.
-
Isso explica, na verdade, acho que você está até bem pra notícia.
-
Bem não estou nem um pouco, mas não posso fazer nada quanto a isso. Ele vai e
eu tenho que ficar, bem, até o verão, pelo menos.
-
Tem isso também, vocês nunca pararam pra pensar a questão da faculdade?
-
Sim, uma vez, mas deu tanta briga que só me voltou ao pensamento agora. –
Silêncio. – Eu sei que a gente teria que se separar alguma hora, mas não
imaginava que isso seria agora, sabe, para ontem. Pensei que teríamos tempo pra
dar um jeito... Os resultados nem chegaram ainda! Nem sei pra onde vou e se vou, mas agora o que importa? Ele vai
embora de qualquer jeito e nem tempo temos.
E mais silêncio. Eu estava me sentindo
estranha, Kyle não tinha muito que dizer, na verdade, ninguém tinha. Pensem
bem: Justin e eu passamos quase o ano inteiro nos escondendo, brigando, se
pegando e se escondendo mais uma vez, até que uma vez resolvemos nos pegar com todo mundo
sabendo que nos pegamos – vulgo, namorar “oficialmente” – e então, ele tem que
se mudar para Atlanta logo e RIP namoro porque não faço ideia como a gente faria
pra se ver. Talvez nas férias de verão, uns dias quando ele não tiver em
nenhuma turnê pela Europa e a gente possa se esbarrar por Stratford, talvez.
Muitos “talvez”.
-
Enfim, eu quero é mais esfriar a cabeça e parar de pensar nisso por alguns
instantes, então... vamos!? – ele assentiu.
Subimos nas motos dando partida, não íamos
correr nos limites da cidade, ou coisa assim, fomos só dar um passeio mesmo –
inclusive porque depois do probleminha do racha estou tentando controlar essa
coisa de “adrenalina” – e isso já ajuda bastante. Eu sinto o vento batendo em
mim, e o barulho do motor, e as coisas passando rápido ao redor de mim... tudo
isso me faz sentir bem melhor.
Paramos em um sinal, olhei pra Kyle que olhou
pra mim de volta e piscou – aposto que estava tentando sorrir –, apertei os
olhos como às vezes eu fazia na tentativa de uma resposta simpática e ele olhou
pra frente.
O sinal abriu. Dei a partida. Senti um baque.
Um barulho estrondoso. Escuridão. Silêncio.
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