domingo, 5 de abril de 2015

22º Capitulo: Crash - Part 4

(...)
 Sim, ele vai se mudar e é fato. Já aceitei isso, mas isso não quer dizer que estou bem com essa história.
 Não falei direito com ele desde que me deu a notícia, aquele dia, meu pai fez vigia na minha cama com medo de que eu retrocedesse ou algo assim, já que apaguei assim que entrei em casa. Me perguntou um trilhão de vezes se eu estava tomando meus remédios direito – o que vindo de mim, é claro que eu não estava, nunca lembro de tomar os remédios na hora certa, mas nesse caso não foi por causa disso, o médico mesmo disse que não corre riscos de eu surtar de novo, só que, com o meu histórico hospitalar do ano passado, meus pais enlouquecem com qualquer coisinha “fora do padrão”.
 Justin e eu tentamos nos falar algumas vezes, não contei a ele sobre o incidente porque achei melhor não dizer nada, então, nas poucas vezes que ele me ligou o máximo que rolou foi alguns gemidos tipo “uhum”, “ahm”, “er”. Realmente não tínhamos nada pra dizer um para o outro, estava tudo super estranho.
Kyle e eu resolvemos dar umas das nossas típicas saídas de quando Justin viaja. Pegamos as motos e demos uma volta até o parque, onde paramos e compramos cachorro quente.
- Você está estranha.
- Você não é o primeiro que me diz isso na vida.
- Sei que sou seu amigo mais recente, mas já sei quando você está estranha porque aconteceu alguma coisa, e não porque você é estranha – o olhei com a testa franzida. – Já me disseram que sou perceptivo – me respondeu sem desviar os olhos azuis de mim, definitivamente decidido a ter uma resposta rápida.
Abaixei a cabeça e respirei fundo.
- Justin vai se mudar, antes mesmo das provas finais.
- Isso explica, na verdade, acho que você está até bem pra notícia.
- Bem não estou nem um pouco, mas não posso fazer nada quanto a isso. Ele vai e eu tenho que ficar, bem, até o verão, pelo menos.
- Tem isso também, vocês nunca pararam pra pensar a questão da faculdade?
- Sim, uma vez, mas deu tanta briga que só me voltou ao pensamento agora. – Silêncio. – Eu sei que a gente teria que se separar alguma hora, mas não imaginava que isso seria agora, sabe, para ontem. Pensei que teríamos tempo pra dar um jeito... Os resultados nem chegaram ainda! Nem sei pra onde vou e se vou, mas agora o que importa? Ele vai embora de qualquer jeito e nem tempo temos.
 E mais silêncio. Eu estava me sentindo estranha, Kyle não tinha muito que dizer, na verdade, ninguém tinha. Pensem bem: Justin e eu passamos quase o ano inteiro nos escondendo, brigando, se pegando e se escondendo mais uma vez, até que uma vez resolvemos nos pegar com todo mundo sabendo que nos pegamos – vulgo, namorar “oficialmente” – e então, ele tem que se mudar para Atlanta logo e RIP namoro porque não faço ideia como a gente faria pra se ver. Talvez nas férias de verão, uns dias quando ele não tiver em nenhuma turnê pela Europa e a gente possa se esbarrar por Stratford, talvez. Muitos “talvez”.
- Enfim, eu quero é mais esfriar a cabeça e parar de pensar nisso por alguns instantes, então... vamos!? – ele assentiu.
 Subimos nas motos dando partida, não íamos correr nos limites da cidade, ou coisa assim, fomos só dar um passeio mesmo – inclusive porque depois do probleminha do racha estou tentando controlar essa coisa de “adrenalina” – e isso já ajuda bastante. Eu sinto o vento batendo em mim, e o barulho do motor, e as coisas passando rápido ao redor de mim... tudo isso me faz sentir bem melhor.
 Paramos em um sinal, olhei pra Kyle que olhou pra mim de volta e piscou – aposto que estava tentando sorrir –, apertei os olhos como às vezes eu fazia na tentativa de uma resposta simpática e ele olhou pra frente.

 O sinal abriu. Dei a partida. Senti um baque. Um barulho estrondoso. Escuridão. Silêncio.

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