Silêncio.
Ele ficou tão surpreso que não soube o que fazer.
-
Vamos voltar pra minha casa, ou, entrar na sua se pudermos ficar sozinhos? Na
rua não é um lugar para isso e, seria bom se tivesse sentado. Não vai ser fácil
para mim, ter que falar, duvido que será fácil para você ter que ouvir.
-
Não... não... – ele coçou a garganta e balançou a cabeça – não tem ninguém em
casa, mas a gente vai para o quarto, assim, caso alguém chegue, não nos
atrapalharão.
Entramos em casa e subimos as escadas em
silêncio, não tinha muito o que dizer naquele momento. Quando entramos no
quarto, ele logo se sentou na cama, enquanto eu fiquei pela porta, não queria
sentar, ia ficar meio hiperativa também devido ao nervosismo, era melhor ficar
em pé.
-
Quando quiser começar.
-
A questão é por onde começar.
-
Pelo começo.
-
Seria bom se eu soubesse onde é o começo – respirei fundo. – Quando cheguei a
Nova York estava completamente perdida e com medo, cheguei na escola como se
tivesse chegado aqui, e fui olhada torta tantas vezes que até perdi as contas.
Pelo primeiro mês as coisas foram péssimas, de verdade, e eu sentia uma falta
absurda de você. Por sorte, a Harper se aproximou de mim, me ensinou a me
vestir e logo as coisas começaram a mudar. Aquela cidade é o inferno Justin,
não faz ideia, é uma selva, os mais fortes devoram os mais fracos, se a Harper
não tivesse me ajudado... – balancei a cabeça tentando afastar pensamentos
negativos.
-
Você sempre foi muito forte Lua, não acredito que deixaria as pessoas te
fazerem algum mal.
-
Eu sempre fui forte a partir do momento que você entrou na minha vida. Você não
estava lá, e eu me senti como antes de te conhecer.
-
Continua.
-
Bom, as coisas começaram a mudar demais sem que eu percebesse, comecei a me
vestir diferente e a agir diferente, mais fria, ficar em um nível que conseguia
bater de frente... sabe, forte. Tinha uma garota, a Chanel, ela é como uma
Louise 2.0.
-
E você tinha uma briga com ela tal como tinha com a Louise, só que 2.0, certo?
-
Não, eu era como ela. Só não tão nojenta, claro, isso seria demais para mim. Eu
ia às mesmas festas, aos mesmos lugares... mas isso era fora de casa, dentro eu
surtava, ao ponto de parar no hospital, aquela vez que me viu. Não sei se minha
mãe te contou, mas eu tive um surto nervoso. Depois disso comecei a frequentar
algumas consultas psiquiátricas, mas, não deu muito certo. Parecia que eu
ficava ainda pior.
-
Mas e o tal Joe, onde entra nisso tudo?
-
Entra depois do hospital, ou melhor, minto, entra antes do hospital. Joe
Thompson, o badboy.
-
Badboy?
-
Sim! Dos de jaquetas de couro e tudo.
-
Não sabia que curtia badboys.
-
Nem eu, mas continuando. Vi Joe algumas vezes no corredor, ele é loiro, dos
olhos bem azuis, chama a atenção, mas não precisei perguntar ou olhar muito
antes que Harper me desse um relatório completo. Não ficava com ninguém da
escola, riquíssimo, pai foi piloto de Formula 1, o irmão é o mais jovem
tricampeão de autocar, tinha fama ruim, mas ninguém sabia quais fatos dessa
fama eram verdadeiros, não era de ficar espalhando muito a vida, nem de ir com
frequência à escola. Mas sempre ia às festas, até mesmo algumas que eu ia.
-
Deixa eu adivinhar, ele te viu numa festa, se interessou, vocês ficaram e
pronto!
-
Na verdade é mais surpreendente do que isso, ele veio falar comigo na escola.
Lógico que isso me deu um destaque, ele não dava moral para garotas da escola e
veio falar comigo. Disse que me viu em algumas festas e tal, e que gostou de me
ver na aula de debate com a Chanel, ninguém tinha a respondido daquele jeito,
mas enfim, isso é outra história. Joe começou a conversar comigo, mas nunca dei
muito espaço para ir muito além, mas ele sempre foi muito legal comigo, sendo
que geralmente não era com outras pessoas. Só que nada demais, até eu ir para o
hospital.
-
Espera! Loiro? Olhos azuis? Postura de mal... eu lembro desse cara! Quando fui
ao hospital, entreguei o presente que te levei a um cara assim, eu te vi pela
porta, não cheguei a entrar no quarto, mas quando fui, ele disse que não podia
entrar. Como não quis chamar atenção, não insisti e fui embora.
-
Era o Joe, ele estava lá no hospital. Ficou comigo os dias que eu estive lá,
ele começou a me ajudar e a me tirar do fundo do poço. Pena que nem todos os modos
de me deixar para cima, foram bons e saudáveis, claro que às vezes que fomos à
lanchonete, ou olhávamos os carros da garagem do pai, até mesmo quando a gente
brincava de correr, claro, longe das vias principais, ou na pista de moto! Ele
é ótimo em motocross, é a especialidade dele.
-
Por isso você gosta tanto de moto...
-
Sim, é. Mas a questão é que – respirei fundo. – Eu não era uma boa garota
Justin, tanto que fui internada por um surto nervoso, além disso, eu chegava em
casa bêbadas quase todos os dias, escola... rá! O que era escola? Foi aí que
descobri que eu realmente era uma pessoa inteligente, não reprovei por pouco!
Meus pais ficaram desesperados comigo, quase não ficava em casa, nem dormia em
casa, chegava com o dia amanhecendo. Mas drogas eu nunca cheguei perto! Antes
que pense alguma coisa! Sempre tive medo de experimentar e acabar me dando mal.
Nem LSD experimentei, e não foi por falta de oportunidade. Ah! Eu era uma
vagabunda! Minha primeira vez eu estava tão bêbada que mal lembro como foi.
-
Então você...
-
Justin, era de se esperar.
-
Eu sei, eu sei. Já imaginava que não era mais virgem, só que... enfim,
continua.
-
Não tenho muito que continuar. Acho que o mais importante já disse – ele tinha
feições confusas, se bobear nem ouviu o que eu acabara de dizer.
-
Se você já transou com outras pessoas, qual o problema em fazer isso comigo?
-
Outras não, outra. E, o tempo todo fiquei muito presa ao passado, me sentia
culpada demais, não conseguia seguir em frente, não é nada contigo, só que...
-
Você precisa esquecer o Joe.
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Preciso deixar para lá as coisas que fiz.
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Happy New Year, everyone!
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