Pov's Bieber
Sabe o
que é ter o paraíso tão próximo e de repente ser puxado para o inferno? Bom,
foi mais ou menos isso que aconteceu naquela manhã de sábado.
Abri meus olhos com dificuldade, sentindo um
cansaço eminente – talvez eu não tenha dormido o suficiente para recuperar toda
a minha energia perdida – e minha mente estava zonza. As coisas estavam mais
“quentes” do que deveriam e quando abri meus olhos descobri o motivo. Aqueles
olhos mais castanhos do que eu já notara estavam me encarando de tão perto que
eu podia sentir o calor de seu corpo quase sem distância nenhuma do meu, seus
lábios praticamente já nos meus e sua respiração quente – agora mais acelerada
por ter acordado – roçava a minha pele me fazendo entrar em êxtase.
Eu não lembrava de ter ido dormir assim, mas
acordar desse jeito realmente é algo que eu iria querer facilmente por toda a
minha vida. Eu podia ficar horas ali que sequer me incomodaria ou faria questão
de levantar.
Essa é a parte do paraíso, agora deixa eu
dizer a do inferno.
Caitlin era uma garota excelente quando a
conheci, bonita, legal, simpática... mas de repente se tornou um monstro com
certa obsessão que nunca imaginei que ela teria. E o pior de tudo: dizia tanto
que me amava e que isso tudo não era para me perder, que estava me deixando
infeliz! E queria terminar com ela, ser um garoto “livre” para o mundo inteiro,
para eu finalmente poder ser da garota que eu quero – que faz um bom tempo que
quero –, mas por falta de tentativa não foi que não consegui, às vezes ela é
persuasiva demais e eu me sinto culpado a deixando ir embora sem por um ponto
final.
E para ajudar, para me tirar de um instante
rápido – até demais do que eu gostaria – entorpecido, ela andava de um lado
para outro, com seu salto fazendo um barulho irritante ao chocar com o piso.
- Acho
que... – pareceu que a cabeça da Lua enfim começou a entrar em ordem assim como
a minha.
Fechei os olhos e respirei fundo, pensei em
dar um beijo de bom dia, mas não sei se o clima era o melhor para isso. De
qualquer modo, ela se levantou tão depressa que um piloto de Formula 1 sentiria
inveja, achando que seu carro era estupidamente lento.
Me levantei espreguiçando, me sentindo um
pouco dolorido e a Caitlin, tagarelava e tagarelava, reclamava de coisas e eu
sequer ouvia. Meu cérebro ainda estava lento, oras, eu acabara de acordar.
- Eu
não acredito! Eu chego, depois de uma semana sem te ver! Querendo fazer uma boa
surpresa e é isso que eu ganho de bom dia? Você e essa garotinha dormindo
abraçados? – ela me olhava furiosa e eu só notei isso agora, mas ainda estava
sem reação, talvez eu esperasse que a Lua gritasse “Ou! Garotinha não!” como
normalmente faria, mas acho que estava tão lenta como eu. – O que foi em
Justin? Desde que essa garota voltou você não é o mesmo!
-
Talvez seja porque ela me deixa feliz ao contrário de você – respondi sem
sequer pensar e com uma firmeza que não sei de onde surgiu.
- Quer
dizer que eu te deixo infeliz? – ela perguntou me encarando com os olhos verdes
me fazendo, por um segundo, sentir culpado, mas culpado de que? De querer ser
feliz?
Eu disse, muito
persuasiva.
Fechei
os olhos e respirei fundo.
- Vem
Caitlin, nós precisamos conversar. De novo.
Passei pelo sofá, indo até a escada e me
sentando lá. Caitlin se sentou ao meu lado. Olhei para a cozinha e pude ver o Chris
super empolgado brincando com algum biscoito e a Lua dizendo o quanto ele é
idiota e rindo, fiquei olhando até que ela notou, olhou para mim de volta e deu
um sorrisinho confiante.
-
Então Bieber? Vai me explicar o que aconteceu?
- Sim
Beadles, vou te contar o que aconteceu – a olhei. – Eu tive um sonho, ou
melhor, uma lembrança, de quando eu era apenas eu, sem fama. Sabe quem estava
no sonho? Aquela garota ali, sentada na minha cozinha agora – apontei com o
polegar para a garota que estava atrás de mim, mas sem tirar os olhos da que
estava na minha frente – e sabe, eu estava feliz. Agora, eu me sinto
completamente acabado e infeliz, com um namoro forçado e mentiroso com uma
garota que sequer gosto, sem poder ser feliz, porque essa mesma garota, sempre
aparece nas horas mais inconvenientes fazendo a minha felicidade ir para o
espaço. Sabe quem é essa garota que me inferniza Caitlin?
-
Espera, esse não é mais um daqueles papos de terminar com tudo né? Por que
Bieber eu não vou...
-
“Aceitar isso porque eu te amo”, se me amasse de verdade já teria me deixado em
paz.
- Não
Just, por favor, eu realmente te amo. O que aconteceu com você? O que aquela
garotinha fez com você em? Você costumava me amar, você me amava.
-
Parabéns, você disse no passado e o que é passado, é para ficar no passado. E a
Caitlin que eu amava não era esse monstro que você é agora.
- Eu
não sou um monstro! Eu faço isso por amor, não vê?
- Isso
não é amor Cait, é obsessão. Isso sufoca, faz mal, o amor não – seus olhos pareciam
que estavam tão tristes, que eu quase me senti obrigado a calar a boca, mas
consegui falar, calmo, o que eu tinha para dizer. – Se você realmente me ama,
me deixe livre.
- Para
você ficar com aquelazinha lá!? – ela gritou e apontou com desdém para a
cozinha ainda me olhando. – Jamais Bieber! Jamais!
-
Entenda Caitlin, acabou! – ela levantou com raiva, pegou a bolsa que estava ao
seu lado na escada e me olhou furiosa.
- Não
acabou Justin! Não acabou! – e então saiu da minha casa, batendo tudo o que foi
possível.
Respirei fundo. A minha casa de repente ficou
silenciosa, como se não tivesse mais ninguém além de mim. Apoiei meus braços
nas minhas pernas e passei a mão no cabelo e pondo para trás e fiquei assim por
alguns instantes, tentando me acostumar com a ideia que foi mais uma tentativa,
entre tantas, em vão.
- Jus?
– Lua sentou ao meu lado e pôs uma das mãos no meu ombro.
Abaixei um dos meus braços, e a encarei.
- Você
ouviu, eu tentei.
- Para
falar a verdade, acho que essa última parte o bairro inteiro ouviu – ela riu e
eu não pude deixar de rir também.
- Eu
to cansado disso Lua – disse ainda com um sorrisinho, só o fato de estar a
olhando me faz sorrir.
O cabelo estava bagunçado e uma parte jogada
para seu lado esquerdo, ela sorria confiante de um jeito “está tudo bem” e
parecia não se importar com a cara de “acabei de acordar” – pelo o que conheço
da Lua, ela realmente não se importava. Eu gostava de vê-la assim, “normal”,
sem maquiagem, nem nada – apesar de que ela nunca usou muita – e mesmo ainda
com a cara amassada e a voz rouca de sono estar começando a passar, eu estava a
achando linda.
-
Justin?
- Eu –
abaixei a cabeça tentando disfarçar minha “hipnose” – só queria acabar com isso
de uma vez. Me sinto preso e quando estou com você, sei lá, parece tão certo e
tão errado ao mesmo tempo, me sinto sufocado.
- Você
tentou Jus, você disse que acabou e mais de uma vez ainda, não é culpa sua se
ela não quer aceitar.
- E o
que sugere espertinha? – ela sorriu de novo.
- Eu
diria para jogar na internet, não dizer que terminou, assim na cara dura, mas
diretamente ou indiretamente não importa, não faz seu tipo. Então – ela torceu
a boca como um sinal de que estava pensando – fica tranquilo, aja normalmente
como se fosse um cara solteiro, Caitlin não vai poder fazer nada.
- Tem
certeza? Ela pode falar de você ou...
- Ela
não vai falar de mim.
- Como
pode ter certeza?
- Me
jogar na boca da mídia é a maior carta que ela tem e ainda é inserta, então não
vai desperdiçar assim. Olha, deixa as pessoas especularem que vocês não estão
juntos, depois só afirma, sem dizer sim nem não. Deu para entender? – ela fez
uma careta achando que se embolou demais ao explicar. Ri.
-
Entendi sim. Você é um gênio para desculpas – ela sorriu.
-
Tenho que ser um gênio para alguma coisa – ela me olhava nos olhos e de repente
eu me senti bem, mais do que bem. – Vai dar tudo certo, mas agora vem! Estou
com fome e aposto que você também – ela segurou a minha mão e se levantou, me
obrigando a andar e ir até a cozinha.
-
Filho, está tudo bem?
- Na
medida do possível mãe – ela sorriu confortante.
Lua se sentou onde estava antes e eu me sentei
ao lado dela, oposto ao Chris.
- E
como foi o filme crianças?
- Mãe,
crianças? – ela me olhou.
- Que
foi? Às vezes é difícil acreditar o quanto vocês cresceram! – rimos. – Mas
então, e o filme?
- Ah!
Foi muito irado! E aquela mulher invisível é muito gata!
-
Jessica Alba – Lua disse sem tirar a atenção do que comia.
- Que
foi? – Chris perguntou.
- A
mulher invisível é a Jessica Alba – ela o olhou. – Que foi?
-
Nada, nada. Continuando o filme foi...
-
Chris, fica quieto que você dormiu ele todo, os dois – disse.
- E
você também não pode falar nada Justin, perdeu o segundo filme inteirinho. –
minha mãe e o Chris riram.
- Você
adora fazer isso né?
- Isso
o que?
-
Tirar minha moral, na frente de todo mundo ainda!
-
Parabéns querida, você consegue uma façanha e tanta! – minha mãe continuou se
controlando para não rir mais.
O assunto se desfez como fumaça, com Chris
fazendo palhaçada e Lua dando corda era impossível continuar com o clima meio
tenso.
Depois de muita zoação, gargalhadas e comidas
mastigadas a mostra – prefiro não comentar sobre isso – nos levantamos e fomos
arrumar a sala. Talvez não tivesse demorado tanto se ninguém – lê-se Christian
Beadles – não ficasse se jogando em cima dos lençóis ou coisa do tipo e se
também não puxasse a gente para o chão, mas isso é irrelevante. Subimos com
tudo, depois Chris e Lua pegaram as coisas para irem para suas devidas casas.
- A
gente devia fazer isso mais vezes! – Chris disse enquanto pulava os degraus da
escada.
- Sim,
mas se você dormir em todos os filmes não vai ter graça – Lua respondeu. Ri.
-
Tchau para vocês – ele disse emburrado, desceu a escada correndo e saiu da
minha casa.
- Você
entendeu? – perguntei.
-
Nunca entendi.
-
Então – terminamos de descer sem pressa, fui até a porta e a abri –, tchau né.
– sorri fraco.
- É...
– estávamos, constrangidos? Mas de que? E desde quando nos sentimos
constrangidos um perto do outro?
-
Justin? Venha cá, por favor! – minha mãe gritou do jardim interno, eu acho.
- Já
vou! – gritei de volta – fecha a porta para mim? – ela assentiu e eu soltei a
maçaneta me afastando um pouco.
-
Justin? – me virei para a Lua de novo – Eu topo.
- O
que? Topa o que?
- O
pedido que você me fez ontem, eu topo.