(...)
Desci as escadas depressa, cheguei à cozinha,
pus o pé numa cadeira para colocar o cadarço para dentro do tênis de novo e
depois passei a mão no assento para dar uma limpada.
- Vai sair? – meu pai
apareceu na porta da cozinha, com seu habitual terno e sua gravata não presa.
- Vou à casa da Karol
hoje – me aproximei e comecei a amarrar a gravata. – Por falar nisso pai, pode
me dar dinheiro?
- Para que?
- Para eu ter oras, não
precisa ser muito, é só porque to sem grana nenhuma mesmo. – soltei a gravata
com uma versão bem feita do nó que aprendi dá quando ainda era criança. – Ta
lindo como sempre! – sorri.
- Obrigado filha – me
deu um beijo na testa –, mas não precisa me bajular para ganhar dinheiro – ri.
- Não era essa a minha
intenção, juro.
Papai foi até a cafeteira e pegou uma xícara
de café recém preparado e enquanto bebia, tirou algumas notas soltas do bolso.
- É o que eu tenho agora
– me entregou, peguei e eu contei 23 dólares.
- Tem 23, ta bom.
Realmente não preciso de muito.
- Uma filha econômica
era tudo que um pai poderia pedir a Deus! – ele ergueu a mão livre para o céu e
eu ri.
- Vai nessa,
praticamente é você que paga a gasolina do meu carro. Junta isso, com o que
falta para pagar – eu não era rica e um Porsche era caro demais, logo, meu pai
não poderia ter comprado de uma só vez, tinha que ser um pouco dividido – e
ainda o dinheiro extra que me dá. Pensa bem pai, até eu começar a trabalhar,
não sou nada econômica.
Ele olhou para cima, como se pensasse e tomou
os últimos goles de café, depois colocou a xícara na mesa e se voltou para mim.
- Pelo menos você não
gasta em shopping – nós dois caímos na gargalhada, ele disse isso por causa da
mamãe.
Saímos de casa juntos, ele me ofereceu carona,
mas resolvi andar um pouco mais de skate.
Fui sem pressa até a loja que Justin e eu nos
escondemos quando fomos perseguidos. Cumprimentei Angel no balcão e fui até uma
porta na parte de trás, que daria numa escada semi escura até a parte dos
fundos da casa que ficava em cima. Quando mal comecei a subir, Sra. Clark apareceu
no topo, sorriu para mim e desceu, me encontrando no meio da escada.
- Oi Lua! Quanto tempo
querida.
- Oi Sra. Clark, Karol
está em casa né? Sabe, realmente faz muito tempo!
- Ela está sim, pode
subir, Luka está com ela. Vou dar uma saída agora, deixei a porta destrancada.
- Obrigada Sra. Clark.
Até mais ver! – continuei a subir os degraus.
- Até Lua, aparece mais
vezes! – e ela a descer.
- Pode deixar – me virei
e terminei de subir correndo.
Abri a porta que dava na cozinha, andei
devagar estranhando o silêncio. Saí do cômodo dando de cara com o sofá da sala,
a TV estava ligada, Luka realmente estava lá e nenhum dos dois prestava atenção
no que estava passando, afinal, estavam ocupados demais tirando a roupa um do
outro.
Soltei um som involuntário e os dois olharam
para mim.
- Lua! – Karol exclamou
surpresa.
Não falei nada, apenas me virei e corri de
volta para a porta dos fundos tropeçando numa cadeira enquanto Karol chamava
meu nome e pedia para eu esperar. Como eles puderam fazer isso? Como? Desde
quando isso estava acontecendo? Quem mais sabia? Corri escada a baixo, confusa
e sem saber o que pensar.
- Lua! Deixa eu te
explicar, por favor! – Karol estava atrás de mim, no meio da escada. Me virei
para ela com raiva.
- Como vocês puderam
fazer isso com a Hayley? Como Karol? – gritei.
- Eu posso explicar tudo
Lua! Por favor! Não conte a ninguém! Por favor!
Olhei para o topo da escada e Luka tinha
acabado de aparecer, sem dizer nada, sabia que não tinha o que fazer por
enquanto.
- Agora nós dois temos
um segredo a guardar – disse a ele que assentiu, sabendo que eu estava me
referindo ao que aconteceu com Gabe ontem no parque.
- Você deve estar me
achando um monstro – Karol lamentou –, mas se você subir posso explicar o que
aconteceu!
- Não quero explicação
nenhuma! Não agora – disse com raiva quase aos berros.
Me virei e saí dali.
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