Assim
que pus os pés na calçada subiu um arrepio pela minha espinha. De repente, eu
estava lá no outono passado, com minha jaqueta preta de couro e Harper a
tagarelar do meu lado, eu sorria cinicamente para ela e seu salto quase não
fazia barulho na calçada, às vezes se inclinava para acertar as meias acima do
joelho enquanto me xingava por não estar lhe dando ouvidos. Mas o carro
arrancou e eu acordei, sentindo um vento frio subir pelo meu corpo. Não
estávamos ali como antes, eu não estava vestida como antes, eu não era a pessoa
de antes.
Estiquei a manga do meu suéter e segurei a manga com as mãos,
segui andando respirando fundo e tentando manter a sanidade, mas quanto mais
ficava visível a fachada do Starbucks, mais eu me sentia sem ar.
Entrei achando que teria mais um tempo para
tomar coragem, quando simplesmente dou de cara com a Harper na nossa mesa de
sempre, de costas para a porta. Arregalei os olhos, mas com mais medo de que
ela gritasse do que qualquer outra coisa, mas ela sequer se virou, então não me
viu até eu me aproximar, mas antes, parei no balcão, pedi o mesmo café de
sempre e pedi que levasse até a mesa.
- Eu
disse meia hora! Acho que não deu meia hora? Ou deu? – ela deu um pulo da
cadeira ao me ouvir. Abriu bem os olhos e chegou a abrir a boca para soltar
algum som bem alto. – Não grita! – apontei o dedo para ela, como se tivesse
dando um aviso ou a ameaçando de algo, e ela fechou a boca de novo.
- Oh my fucking gosh! – Harper levantou e
me abraçou, quase quebrando minhas costelas.
Soltei um gemido e ela se afastou dando um
tapa no meu braço.
-
Exagerada!
Sentamos e começamos a tagarelar sobre muitas
coisas diferentes, antes de que eu a contasse qualquer coisa, ela me deu uma atualizada
geral dos melhores e maiores assuntos, pior que eram muitos! Manhattan é uma
cidade que nunca para. Tomei dois cafés, com intervalos largos entre eles, comi
alguns cupcakes e me controlava para não rir escandalosamente certas vezes, o
que foi bom, muito bom, porque quando Harper acabou de falar eu estava
tranquila, não tinha pressão ou culpa por nada, estava tranquila sobre ter que
contar a ela sobre Justin.
-
Falando nisso! Tem Festa Chanel hoje.
-
Isso é um convite?
-
Pode ser.
- Ah,
por favor, nem se eu tivesse tempo por aqui eu iria querer ver a cara da Chanel
de novo.
- Nem
se Joe estiver lá?
- Não
vai dizer que ele ta comendo ela de novo?
-
Nada confirmado – ergueu as mãos e eu ri.
- Ah!
Me poupe! – começamos a rir feito loucas, tanto que meus olhos lacrimejaram.
- Mas
então, vai ficar aqui até quando?
-
Viajo no domingo de manhã.
- Tia
Anna e tio Phil estão aí também?
-
Nem...
-
Você ta sozinha por aqui? – franziu o cenho.
- Não
exatamente... – desviei os olhos e manei a cabeça. Era agora.
-
Lua, com quem você veio e por que está aqui? – me perguntou séria, o que era
quase raro.
-
Lembra que eu disse por telefone que eu tinha outra coisa para te contar?
-
Agora que tu falou eu me lembro. Diz! Diz! Diz!
-
Ahn... – eu não sabia como ou por onde começar – eu nunca te disse onde morava
no Canadá, né? – Ela negou. – Então, sou de Stratford e acredite, lá é
realmente minúsculo!
-
OMG! Sério? – os olhos dela começaram a brilhar! – Justin voltou para lá, você
sabia? – Mal deu tempo de eu assentir. – Você já o viu por lá?
-
Bom, muitas vezes...
-
Sério? A cidade é tão pequena assim, que você pode cruzar com ele direto?
- A
cidade é realmente pequena e cruzo com ele direto sim, somos da mesma escola.
- Não
consigo acreditar! Como não me contou isso antes? Vocês se falam? Sabe? Já se
falaram? Ou alguma coisa assim? Ou sei lá! Já pelo menos esbarrou nele? – bem
mais do que isso.
-
Meio difícil não ter pelo menos falado com ele ou coisa do tipo.
- Por
quê? Ele é um fofo, não é? Deve viver rodeado de gente o tempo todo! – Ela se
inclinou sobre a mesa. – Você sabe onde ele mora?
-
Claro que eu sei – eu estava ficando nervosa, gesticulando muito e fazendo
várias expressões.
Ela desencostou da mesa e começou a balançar
as mãos, olhando para o lado. Isso queria dizer que ela estava mais falando
sozinha do que diretamente para mim, vamos dizer que estava “pensando alto”.
- Ah,
claro afinal todo mundo deve saber onde Justin Bieber mora.
-
Principalmente se ele morar em frente a sua casa.
- O
que!? – ela simplesmente gritou.
Olhei para todos ali e, como eu imaginava,
todos estavam olhando para a gente, então disse um “desculpa” em voz baixa e
sorrindo sem graça, até que desviassem a atenção de nós duas. Quando olhei para
Har de novo, ela mantinha as palmas da mão apoiadas na mesa, o corpo levemente
inclinado para frente e os olhos extremamente arregalados.
- Por
que você não me contou isso antes?
- Por
que não era algo fácil de dizer!
-
Qual a dificuldade em dizer para a sua melhor amiga que era vizinha do ídolo
dela?
-
Quem dera eu se a história fosse só isso!
-
Então vai, me conta ela toda, temos tempo – Harper estava com raiva de mim,
muita raiva, mas isso eu já esperava assim que comecei a enrolar para contar a
história.
Respirei fundo e maneei a cabeça.
-
Sabe aquele garoto... aquele que eu falei para você algumas vezes e você pedia
sempre para eu falar e dizia e...
- Sei
sim, mas o que ele tem a ver com a história?
-
Bom, vamos dizer que ele tem nome, sobrenome, 34 milhões de fãs e uma carreira
mundial.
E pela primeira vez na vida, vi Harper Collins
sem palavras.
-
Olha Har, prometo te explicar tudo e que não vou parecer mais a amiga má, ok?
Mas você tem que me prometer, ou melhor, me jurar, que não vai contar isso nem
para a sua própria alma! – ela assentiu lentamente.
Comecei a contar tudo, desde o dia que vi
Justin pela primeira vez durante aquele jantar que minha mãe me obrigou a ir,
até o que aconteceu no carro poucas horas antes. Achei importante falar do que
senti em cada ocasião, até mesmo a sensação de que, fosse lá quem se mudaria
para frente da minha casa há mais de dois anos atrás, seria diferente e como
foi quando soube que estava certa. Depois que Justin se mudou, nada mais foi o
mesmo, tanto na minha vida quanto na dele.
Resolvi falar também do que ele sentia, ou
melhor, do que ele me dizia que sentia, assim, mesmo se não desse certo, se ela
ainda ficasse com raiva de mim, eu saberia que teria explicado tudo de uma só
vez, sem ter que voltar em parte nenhuma, e que tinha tentado tudo ao meu
alcance até aquele momento.
-
Então, é isso – respirei fundo.
-
Achei que você o odiasse.
- Eu
nunca disse isso.
- Mas
sei lá, nunca queria ouvir as músicas, não gostava muito quando eu ficava falando
dele e sequer ia muito a minha casa por causa da decoração beliebertica do meu quarto.
- Eu
te disse isso? Sabe, sobre a decoração do seu quarto.
-
Disse – franzi o cenho, achei que nunca tivesse falado isso para ela, mas eu já
disse tanta coisa sem estar em perfeita consciência que não tem muito o que estranhar.
-
Bom, eu conhecia as músicas e conhecia as histórias por trás delas. A festa que
ele cantou Fisrt Dance no meu ouvido, o ursinho de Common Denominator ficava
até em destaque no meu quarto... eu queria fazer diferente, não podia ficar
remoendo o passado – ela olhou para o lado, ainda séria. – Por favor Har, me
entenda!
Ela ficou em silêncio, aquilo estava começando
a me apavorar de verdade. Fiquei levemente ofegante, minhas mãos começaram a
soar... ela precisava me entender.
-
Estou feliz por você.
- Mas
que? – mesmo esperando que fizesse isso, me surpreendi e ela se virou para mim
com o sorriso largo de sempre.
-
Estou feliz! Por mim e por você! Melhor do que isso só se eu fosse a tal!
- To
perdoada, então?
- Mas
é lógico! Principalmente se isso me der alguns benefícios – ela sorriu e eu
gargalhei alto. – Poxa Lua, poderia dar a sua amiga algumas vantagens em? Um
ingresso dourado ou nem precisa de tanto! Já aceitava um CD autografado.
-
Bom, lembra daquele tweet que ele te respondeu? – assentiu. – Pois então,
agradeça a mim.
-
Pelo menos isso você fez por mim! – Resmungou e eu ri.
Eu estava extremamente feliz, parece que
estava indo tudo bem. No começo estava desesperada, Nova York me trazia uma
sensação ruim de passado e um desses motivos era a reação da Harper ao saber de
tudo e agora ela estava ali, na minha frente, rindo e gesticulando
empolgadamente, tentando dizer o quanto estava feliz ao saber disso. Uma parte
da minha vida naquele lugar estava resolvida, mas ainda tinha outra, uma que eu
não sei se algum dia poderia resolver, algo que entala na minha garganta e que
faz com que seja quase impossível de respirar. Algo forte, tão forte, que quase
me faz tremer e vacilar.
-
Lua! – Harper praticamente gritou na minha cara. – Até que enfim acordou! Olha
o gato que está vindo – ela piscou e acenou com a cabeça, então olhei.
-
Estava demorando – revirei e olhos.
-
Adivinha só? – Jake perguntou assim que chegou a mesa.
-
Hum... passou da hora?
-
Mais um pouco e o cara surta.
-
Ainda não surtou? Então acho que podemos demorar mais um pouco – sorri cínica e
Jake riu.
- Se
eu não te levar de volta, vem ele mesmo te buscar, acredite em mim, ele iria
fazer isso – ri e revirei os olhos de novo. Harper apoiou o corpo quase todo
sobre a mesa, se inclinando para mim.
-
Pisiu.
- Ah,
Jake, essa é Harper Collins, a minha amiga que estávamos falando no carro. Har,
esse é Jake Archer, meu amigo e segurança pessoal.
- Ele
é meio paranoico, né? – Harper me perguntou depois de cumprimentar Jake.
- Só
um pouco – Jake e eu rimos.
-
Hum... Lua, posso trocar umas palavras contigo a sós? – olhei para o Jake e ele
contorceu o rosto numa careta, então tirei algumas notas do bolso e estendi
para ele.
- Que
tal comprar mais um café para mim? Sabe de como eu gosto né?
- Impossível
não saber, você bebe mais café do que água – ele pegou o dinheiro da minha mão.
-
Aproveita e paga a conta, já estou indo.
Jake assentiu, me olhando meio: “não demora” e
se afastou da gente, indo até o balcão.
-
Agora diga.
-
Bom, você vai para o hotel agora?
- Se
bem o conheço, não, devemos ir para o lugar que vai ser o show.
- Bem
que eu poderia ir junto, né?
- Até
pode Har, mas tem que me prometer uma coisa.
-
Qualquer coisa! – ela sorriu largo.
- Não
conte nada, absolutamente nada sobre o que aconteceu por aqui, ok?
-
Mas...
- Mas
nada! Ou melhor, pode até contar uma coisa ou outra, mas cuidado, pelo amor!
Não diga nada que possa me entregar.
- Ele
não sabe de nada?
-
Quase nada, sabe sobre você e das minhas tardes na biblioteca, só isso.
- Você
já deveria ter dito, Lua!
- Eu
sei Har, mas é complicado, às vezes eu acho que ele ainda me vê como se
tivéssemos 16. Não sou mais como a Lua de Nova York, mas também não sou como a
antiga Lua de Stratford, sou mais diferente e não sei se ele vê isso.
- Ok.
- Me
promete? Me jura?
- Te
juro Lua! Agora vamos! – ela se levantou.
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