Mas a
professora de geografia chegou – eu odeio, com todas as letras e sentidos dessa
palavra, essa matéria – e a zona de antes teve que se arrumar antes que a
professora tivesse um ataque de nervos. Depois inglês com um texto enorme sobre
a literatura inglesa só para nos manter calados. Até que enfim, intervalo.
- Lua, cadê o Justin? – Chris perguntou.
- Eu
não sei, ele sumiu depois que bateu o sinal, disse que depois encontrava a
gente – assim que terminei de falar ouvi um grito atrás de mim, então me virei
para ver e quase aconteceu um acidente bem molhado entre malabarista do segundo
ano e a Hayley com um milkshake na mão.
-
Quase... – Chris comentou.
Hayley veio até a gente, ao seu lado vinha a Karol
e eu não via o Luka desde que cheguei à escola.
-
Odeio essas datas comemorativas! – ela disse visivelmente irritada se sentando
ao meu lado. – As pessoas andam para todos os lados e nem olham para frente! Eu
iria matar aquela garota se tivesse derrubado meu milkshake, pior, em mim!
- Calma
Halle, foi um quase... – Karol comentou.
- E
põe quase – Chris, de novo.
- Mas
agora está tudo bem, sei como você se sente, me sinto andando num campo minado!
– terminei a frase.
- Isso
é um inferno – ela bufou e começou a tomar o liquido provavelmente de morango,
era o que ela mais gostava.
- Oi
Lua – eu não precisava levantar os olhos para ver quem era. Voz de criança
animadinha, eu já ouvi umas sete vezes só essa semana e olha que estamos em uma
terça-feira, e para mim foram poucas vezes, mas com Justin Bieber frequentando
a escola, é uma boa quantidade.
- Oi –
minha voz saiu desanimada, Halle quase cuspiu de volta o milkshake e Karol virou
o rosto, ambas para rir. Chris já foi mais cara de pau, no mínimo abaixou a
cabeça e controlou a sua risada escandalosa.
- Cadê
o Justin? Ele veio hoje não veio? Eu sei que veio! Vi ele! Rápido, mas vi, foi
justamente quando eu já tinha que ir para sala. – ela falou um pouco
desanimada, mas a voz voltou a ficar irritante para os meus ouvidos de tão
animada. – Ele vai se apresentar no show de talentos?
-
Sinceramente, eu não sei Amanda – cocei a testa e respirei fundo me encostando
na cadeira sem olhar para ela.
- Ah –
sua voz soou desanimada – então ta. Até outra hora.
- Até
nunca mais de preferência – sussurrei assim que ela se foi.
Sabe a garota de sardas no primeiro ano?
Então, Amanda Oldman, acho que nunca vi uma garota tão obcecada pelo Justin
como ela.
- Por
que ela não pergunta para você, em Chris? Você é o melhor amigo do Justin!
- Eu
não sei, acho que ela tem vergonha de falar comigo justamente por isso.
- E eu
tenho que aguentar essa peste!
-
Coitada da menina Lua.
-
Coitada de mim Karol! É sério, um dia processo essa garota! Isso é perseguição!
– eles riam da minha cara. – É porque não é com vocês.
-
Relaxa Lua, quando descobrirem que você é o que você é para ele, vai ficar pior
– Chris deu um sorrisinho cínico.
- Nem
cogite essa ideia! Pelo amor de tudo que é sagrado! Deuses! – todos os meus
amigos estão acostumados com esse meu vicio de “Percy Jackson” então estão
completamente acostumados quando eu digo coisas desse tipo, bom, eu acho que
estão, eles não começam a rir da minha cara mais quando solto um “Di
immortales”.
-
Cheguei!
- É só
falar! – bati a testa na mesa fechando os olhos, isso cansa, ficar na sombra de
alguém, ou algo do tipo. As pessoas me conhecem só por causa dele e não porque
fiz algo especial ou sei lá. Às vezes só queria ser invisível de novo.
-
Assim até parece que nem quer me ver – possivelmente, é bem obvio que foi isso,
Hayley chegou para o lado e ele se sentou.
- Não
é bem isso – murmurei ainda aborrecida.
- “Não
é bem isso” – ele repetiu com ênfase em “bem”. – Então ta bom – e disse
provavelmente entendendo que eu não o queria ver, mas não era esse o maior
problema, o que não era verdade. Eu acho.
Levantei a cabeça.
-
Morena, sardas, baixinha e primeiro ano, isso te lembra alguma coisa?
-
Aquela tal da Oldman de novo?
- Eu
normalmente gosto das suas fãs Justin, mas essa me faz pedir socorro, ela é
insuportável! – reclamei.
- Lua,
eu não... – levantei a cabeça.
-
Relaxa, eu sei que não queria me fazer passar por isso, não precisa dizer, mas
não tenho mais escolha, agora aguento – espero.
Ele me olhava meio triste com a situação,
afinal, já me dissera isso várias vezes sempre que entravamos nos assunto: “nós
dois e sua nova popularidade”, o que era frequente graças à perseguição na
escola. O “nós dois” nem sempre era como um casal, já chegamos a falar assim,
mas era também como amigos, ou como simples colegas de classe, em um mínimo
descuido tudo iria por água abaixo.
Acho que era melhor eu estar afim de um agente
da CIA do que de um astro teen.
- Vai
abrir mesmo o show de talentos, Justin?
- Vou
sim Karol! Estou animado!
-
Nota-se – Halle disse e todos na mesa riram, inclusive eu.
- Mas
por que se não é a sua primeira? E é só uma apresentação de quinta na escola, por
que está tão empolgado? – Karol perguntou de novo.
-
Ainda preciso responder? – ele soltou uma risada de moleque, o tipo de risada
que ele sempre soltava quando estava aprontando alguma coisa, como um menininho
arteiro. Eu gostava dessa risada, mas tinha medo da “arte” que ele poderia ter
feito.
- Ah
claro! Esqueci! – Karol respondeu e todo mundo riu, de novo.
- Cadê
o Luka? – ele perguntou.
- É
mesmo – lembrei –, cadê ele?
- Ele
foi se inscrever para o atletismo – Halle respondeu.
- Luka?
Ele não consegue correr um quarteirão sem quase morrer! Vai querer fazer o que?
Entrar na equipe de Arco e Flecha? – todos riram quando terminei a frase.
- Não Lua,
aqui na escola não tem – Chris respondeu.
- Ah,
então não sei qual outro ele pode fazer! Que esporte você precisa ficar, vamos
dizer, parado? – todos os quatro riam muito da minha cara, mas a minha imagem
do Luka praticando esporte era mais hilária do que a besteirinha que acabei de
dizer. Ele é do tipo de garoto que ficava o dia inteiro jogando videogame e
comendo salgadinhos com gordura trans, e que graças a seu metabolismo
extremamente bom, nunca engordava.
- Acho
que nenhum – Karol respondeu entre risadas.
- É
invenção de moda! Ele só sabe jogar videogame o dia inteiro! E acho que não tem
nenhum esporte que precise disso.
- A
mãe dele o obrigou a entrar por causa disso – foi a vez da Halle.
- Ah,
agora está explicado.
O sinal bateu e o todo mundo do refeitório
começou a se levantar, inclusive nós.
- Lua,
me faz um favor?
- Por
que ainda pergunta? Vai, diz...
- Eu
não vou para sala agora, então, pega as minhas coisas e leva para o auditório?
- Tudo
bem.
- A
gente se vê depois – ele disse para todo mundo.
- Ta.
- Até
– Hayley e Karol responderam de cada vez.
-
Falou – Chris.
Pela primeira vez o refeitório se esvaziou
rápido, normalmente isso sempre acontecia nos dias festivos, mas hoje em
especial foi ainda mais depressa – talvez soubessem ou tinham uma noção de quem
iria abrir, para falar a verdade, era obvio demais.
Fomos para as nossas devidas salas desviando
de apressadinhos correndo para todos os lados. Assim que entrei fui direto para
as o meu lugar e ajeitei algumas coisas minhas e do Justin que esquecemos
espalhadas na mesa.
- Cadê
o Justin? – uma garota, não sei de o nome dela, mas é a fã chata do Justin da
nossa sala.
- Acho
que você sabe...
-
Natalie.
-
Isso.
- Ele
vai estar no show de talentos não é? – não respondi. – Então ta, se não quiser
responder não responde – ela ficou emburrada e dois passos depois de se afastar
de mim gritou para outras supostas “beliebers” e disse histérica: – Ele vai
estar lá!
Revirei os olhos e nesse exato momento a professora chegou e dispensou a gente,
então a sala toda se levantou em desespero, correndo – ou “andando depressa”
como um respondeu quando o repreenderam – rumo ao auditório.
As apresentações seriam no pátio, mas, por lá
dar na rua, a escola ficou com medo dos alunos fugirem o que, para mim, foi uma
desculpa esfarrapada para não dizerem que não queriam pagar num palco e gente
para montar, então resolveram fazer no auditório mesmo, com todo mundo sentando
com uma esperança inútil que ficássemos comportados.
Fui para lá com a maior calma do mundo, com a
minha mochila em um ombro e a do Justin no outro, me desviando dos
apressadinhos. Quando cheguei lá fui até a terceira fila, onde vi um cabelo
laranja ao lado de três cadeiras vazias.
-
Licença – fui pedindo as pessoas das cadeiras até chegar onde queria.
- Você
demorou – Karol comentou.
- Só
não vim correndo, como a maioria. Terceira fila, nada mal.
-
Justin sabe escolher os lugares – foi à vez da Hayley.
As cadeiras do auditório eram numa posição
igual à de uma sala de cinema, assim ninguém atrapalharia ninguém a enxergar o
palco.
- Oi meninas – vi Luka pela primeira vez no
dia.
Pulei para a cadeira vazia do lado, para que
ele se sentasse perto da Hayley, não por eles serem namorados, ou por não serem
mais namorados, ou por terem um relacionamento mais louco e confuso que já vi,
mas sim, porque Justin iria para lá depois e ele iria querer sentar perto de
mim. O conheço.
-
Conseguiu se inscrever? – Halle perguntou.
- Se
inscrever é fácil, passar que não é! – ri.
- E quando
são os testes? – perguntei.
-
Terça que vem às duas.
- Até
lá você tem tempo para treinar.
-
Treinar? – nós dois falamos quase em uníssono e depois rimos.
-
Karol você tem cada piada – ele disse.
- Ok, agora
fiquem quietos! Vai começar.
Não era um show e não estávamos em um teatro,
às luzes não apagaram, as curtinhas não se abriram, apenas a professora de artes
andou, com os sapatos fazendo barulho devida a madeira do palco. Ela bateu três
vezes desajeitada no microfone e pigarreou.
- Alunos
e alunas da nossa querida escola... – ela começou a dizer uma chatice que não
prestei atenção, falando sobre como devemos valorizar os nossos dons dados a
cada uma de nós especialmente por Deus e que cada um tinha um talento especial
que descobriremos um dia.
Eu simplesmente já sabia, todo o ano era o
mesmo discurso, um tipo de incentivo que nunca incentiva ninguém, só nos
deixava impaciente.
- Mas
antes de começar com as apresentações... – não a deixaram terminar.
-
Justin! Justin! Justin! – começou com três garotas da fileira da frente
gritando em pé, e terminou com mais da metade expulsando a professora do palco
de tanto gritar: - Justin!
Ela saiu e ele entrou, na pose, como sempre
fazia nos shows, com um sorriso de orelha a orelha.
- É...
oi – e de repente, apesar de toda a confiança que ele transmitia, parecia um
iniciante como qualquer outro ali. – Cara! Eu estou nervoso! – ouve uma onda de
olhos sendo revirados e um coral de “own”, mais nós quatro ali querendo rir sem
poder.
Falando
em quatro, cadê o Chris?
Corri meus olhos pelas fileiras da frente, me
desconcentrando completamente de um Justin tentando animar a galera antes de
começar sua apresentação – depois daquele bendito discurso, ele teria muito
trabalho para vencer Morfeu, em outras palavras, acordar todo mundo [Morfeu é o
deus do sono, no caso, há a expressão “deitei nos braços de Morfeu” como na
música “Sol ou chuva” do Forfun, ou “deitar nos braços de Morfeu” whatever!
Isso quer dizer, basicamente, dormir].
Eu já estava quase desistindo quando lá estava
ele, com o cabelo castanho jogado para o lado e aquele sorriso fofo no rosto
olhando para a garota ao lado conversando horrores, parecia se gabar por ser
amigo do Justin – o que eu sinceramente, não duvido nada que ele realmente estivesse
fazendo isso – e a garota apenas ria – o que não é impossível quando se trata
de Christian Beadles.
Eu reconheci a garota ao lado dele, era Makena
Fox, irmã do Taylor. Eu sabia que ela estava o ajudando na escola, com as
coisas todas novas, era a parceira dele na sala e só largava mesmo no
intervalo, mas sequer imaginei que fosse para tanto.
Olhei atônita para Justin encima do palco e
ele, ainda falando, olhou para os dois na primeira fila e depois para mim com
um sorrisinho de culpado. Ele me notou olhando. Ele fez aquilo.
O que está acontecendo que eu não estou
sabendo?
- Ok,
acho melhor eu parar de enrolar – isso me fez acordar de um turbilhão de
pensamentos sem ligação nenhuma um com o outro. – Estou montando um novo CD,
acho que isso vocês já sabem, mas, acho que estão cansados de todas as minhas
outras músicas. Quero diferenciar, vou cantar algo novo, bem típico para esse
momento na minha opinião. – ele abaixou, afastou a cabeça do microfone da boca
e deu um sorrisinho enquanto passava o dedo da mão com o microfone no canto do
olho entre o nariz. Depois passou o microfone para a mão esquerda e levantou o
rosto – Eu já estou enrolando de novo, então, vamos lá! – se virou, disse
qualquer coisa a um DJ no canto, que reconheci como Jimmy, um ex-aluno da
escola. Ele tocou na minha festa de aniversário e despedida no ano retrasado.
Justin voltou para o centro do palco, se
posicionou e começou a se mover e cantar assim que as primeiras notas ecoaram
pelo lugar.
Yeah
Woah
woah, no no,
Now I can see it girl
You
ain't gotta say nothing
Your
lips are calling me,
Like
they wanna do something
I
feel the chemistry,
Yeah,
you're givin me,
A
little kiss is a definite possibility
Seen you a couple times
Had
a couple conversations
Since
you been on my mind
Made
a couple observations
Like
you a fly chick, you could be my chick
Play
by the rules and you can get what I give.
Fofo,
não? “Siga as regras do jogo e você poderá ter o que eu dou.” Lua, Lua, você
anda com a mente muito pervertida ultimamente, mas qual é! Estamos falando de
Justin Bieber! O garoto que mais de 14milhões garotas morrem e babam.
Just keep it quiet, keep it on the hush
And
what we do, keep it just between us
I
don't wanna see you tweet about JB
'Cause
the only people that should know is
You and me
Em
meio a milhares de alunos ele olhou, com um sorrisinho safado enquanto cantava
“E o que fizermos, deixe só entre nós dois”, para um ponto fixo, o meu lugar.
Depois apontou um dedo para o próprio corpo e outro para a minha direção.
Garotas gritaram, o que fez ele sorrir mais e
lembrar que estávamos na escola, se dispersando e fazendo dançinhas pelo palco
durante o refrão.
So baby I know that you're cool with rocking with me
But
I can't have you telling everybody
Got
me all twisted with your lips like this so
Tell
me tell me are you gonna kiss,
Kiss
and tell
Tell
me are you gonna kiss,
Kiss
and tell
Tell
me are you gonna kiss me, then tell everybody
You
got me twisted with your lips girl
Are
you gonna kiss and tell?
Ele me
olhou como se esperasse que eu levantasse ali do meio e gritasse “Não!” e
quando não fiz isso, apenas assentiu discreto, como se quisesse dizer “Boa
garota, é disso que estou falando”. Isso não faz sentindo.
It's confidential
No
one has to do with it
But
you and me girl
Tell
and we'll ruin it
Don't
need that PMZ
All
in our privacy
Use
them lips for kissing, girl
If
you wanna ride with me
Estou gostando
disso, continue.
And
if you wanna tell somebody
Then
we can call the whole thing off
No
problem
You
can go your way and I'll go mine
But
I'd rather spend a little time with you, yeah
Hey
Justin! Por que olha tanto para mim? Se deixar perco a linha e faço o que a
música diz para não fazer. Ok, não vou enlouquecer a esse ponto, mas essa
canção não é para mim, você sabe que eu quero esse relacionamento no anonimato
total, não importa se somos namorados, amigos, ficantes, ou qualquer outra
coisa. Não quero que saibam sobre você e eu. Não quero que saibam sobre mim.
Don't tell your homies
Don't
tell your mama
Don't
tell your girlfriends
That'll
start some drama
Stay
off that Facebook
I'll
treat you real good
You
keep this private
And
you can get what I give
Tive
que rir dessa e não fui apenas eu, Luka, Karol, Hayley, todos rindo e quando
consegui controlar e olhar para frente, Chris estava com o corpo virado e com o
rosto vermelho, provavelmente de tanto rir, já que estava com um sorriso de
orelha a orelha. Como não ia contar para ninguém? Eu não preciso contar, meus
amigos, minha família, simplesmente sabem. E eu “desencadeio um drama” só de
dizer “oi” a ele, sendo que piora se me responde, o que sempre acontece.
Sem contar que não consigo não pensar besteira
com “E então você poderá ter o que eu tenho pra te dar” e sei que não sou a
única! Justin ria lá na frente.
Kiss
and tell,
wooahh
oooh
I'm
not about that
If
you're gonna kiss and tell
noo
no no,
If
you're gonna kiss and tell
If
you're gonna kiss and tell
That's not me
E lá estava eu, no final de mais uma
apresentação dele com um orgulho que mal cabia no peito. Era o sonho dele
cantar, não ser necessariamente famoso, mas poder mostrar seu trabalho e
talento, e, apesar de estamos apenas num show de talento da escola, eu sabia
que seu desempenho foi de profissional porque ele era um.
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