Fizemos os motores de
cada moto roncar três vezes antes que dessem a largada e fazermos os pneus
cantarem rumo, a toda velocidade, a linha de chegada. Passei na frente, indo para o lado direito
da pista para bloquear uma tentativa de ultrapassagem logo de cara, e ela ficou
para trás. Conforme eu acelerava, mais adrenalina meu corpo liberava e eu
começava a me assustar com aquilo, por milésimos de segundo me senti perdendo o
controle da moto, mas então, mais adrenalina foi liberada correndo por todos os
cantos do meu corpo me deixando em êxtase. Meu sistema neuronal entrou em pane
total, não conseguia raciocinar, apenas agia por extinto – e pelo que notei, o
meu é muito bom por não ter me deixado ir ao encontro da primeira pilha de
pneus na terceira curva – e eu guiava bem assim, eram três voltas e já na
terceira eu continuava na frente. Olhei para trás e descobri que a minha
vantagem não era tão grande assim, então olhei para frente e fiz o que pude
para ir mais rápido e não perder o controle. Primeira, segunda e terceira
curva, eu ainda na frente, até que chegamos na última e daí vi um vulto amarelo
passar por mim passando pela linha de chegada primeiro.
Freei a moto quase em um
cavalo de pau, a parando de lado assim como a Lua também fez. Tirei o capacete
depressa e fiquei a olhando perplexo, ela tirou o capacete deixando o cabelo
cair sobre os ombros e olhou para mim com um sorrisinho com se quisesse dizer:
“Você realmente achava que iria ganhar de mim?” e por um instante, sim, eu
achei.
Ela veio até mim com uma postura vitoriosa e
eu continuei como um idiota encima da moto. Chegou sorrindo e com o capacete
debaixo do braço, e quando chegou mais perto riu, talvez pela cara de quem
tinha esperanças e elas se foram num piscar de olhos que eu fazia.
- Você realmente achava
que iria ganhar de mim Justin?
- Sim – respondi como se
fosse obvio.
- Esse tempo todo me
vendo dirigir e ainda achava que poderia ganhar?
- Bom, eu sabia que você
dirigia bem carro, nunca vi pilotando uma moto.
- Até que você tem
razão, mas para mim, o fato de você ainda achar que ia ganhar é bem besta.
- Ou! Como assim? Acha
que eu não posso? Afinal fiquei na sua frente por quase toda a corrida.
- Número um: Eu ganhei
de você. Número dois: Eu deixei você ficar na frente. Número três: de achar que
você pode, até acho, mas não contra mim – fiquei indignado com isso! Quando ela
aprendeu a se achar tanto?
- Por que você deixou
que eu ficasse na frente?
- Eram três voltas e eu
poderia te ultrapassar quando bem entendesse, seria mais divertido, e foi.
Detalhe: eu sei que você fica nervoso, não com a adrenalina em si, mas com a
alta velocidade, queria ver aonde você iria com tudo isso.
- Você está muito besta,
e metida. Em que momento passou a se achar tanto que eu não percebi? – ela riu.
- Basta colocar uma
corrida no meio, seja lá de qual tipo for, ou melhor, carro e moto, sou meio
sedentária – ri, mas assim que notei me contive, tentei voltar a minha cara de
“bravo”, mas não deu muito certo. – Ah! Qual é Justin! Essa era um resultado
que já era de se esperar, você e eu sabíamos quem iria ganhar. Posso fazer isso
de novo! É fácil.
- Tem certeza que pode
fazer isso de novo?
- Absoluta.
- Então que tal mais uma
corrida?
- Justin, você sabe
que...
- Está com medo?
- Não, é que...
- Está amarelando mesmo?
- Não! É outra corrida
que você quer? Então vamos – ela já ia colocar o capacete.
- Mas sem me deixar na
frente, a sensação de ter sido iludido não é a das melhores – ela deu de
ombros.
- Como quiser – e amarrou
o cabelo em um coque colocando o capacete logo em seguida e indo em direção a
sua moto.
Lá íamos nós de novo. Onde eu estava com a
cabeça? Eu tinha certeza que ela me ganharia de novo, mas agora já era. Pus meu
capacete e liguei a minha moto. Outra corrida, outra vitória dela, mas eu não
iria desistir fácil assim.
Motos lado a lado e foi dado o mesmo sinal,
acelerei na frente como da primeira vez, mas diferente do que já aconteceu, fui
ultrapassado logo na primeira volta, antes da primeira curva e não consegui
recuperar, fiquei comendo poeira, como dizem, todas as três voltas e já na
linha de chagada, tive que aguentar um sorrisinho de “Eu disse que iria ganhar
imbecil” da Lua ainda em cima da moto pouco depois da marca.
Parei minha moto de frente, enquanto ela
estava de lado e sem capacete. Tirei o meu também.
- Feliz agora?
- Não, mas aceito a
derrota.
- Parabéns! – Tom veio
até a gente, primeiro me cumprimentando. – A corrida de vocês foi muito
emocionante.
- Ah, super –
resmunguei, mas ele pareceu não ouvir.
- Você garoto, corre bem
para um famoso, eu não acreditava em você, ma me mostrou como eu estava errado
– por que as pessoas vivem reclamando por eu ser famoso? Como assim ele não
acreditava em mim? Eu faço sucesso, não tenho uma doença. – E você menina!
Haha! Você é incrível! Onde aprendeu a pilotar assim? – Lua soltou um sorrisinho
envergonhado quando Tom a abraçou sem jeito.
- Foram em situações, er...
inusitadas, eu acho – ela respondeu escolhendo bem as palavras, mas mesmo assim
não pareceu a verdade ou o que ela realmente quis dizer.
- Irão correr mais uma
vez? – ele me pareceu empolgado. Lua me olhou.
- Não, obrigado –
respondi.
- Johnny! – Tom chamou o
outro cara que olhou assustado na nossa direção, principalmente para mim,
talvez estivesse achando que eu criaria problema com o fato dele está com a
Caitlin. – Acho melhor se trocarem então, deixem a moto com a gente.
Nós dois assentimos e saímos das motos indo em
direção ao Chris para pegar nossas roupas.
- Cara, nunca vou me
acostumar com o calor dessas roupas – Lua foi abrindo o macacão e o tirou
deixando na cintura e mostrando uma regata branca.
- Quer dizer que já usou
essas coisas? – fiz o mesmo.
Lua pareceu empalidecer com a minha pergunta,
passou a língua nos lábios secos e pude jurar que a sua respiração estava
ofegante.
- Er... – ela engoliu
seco. – Já – e respondeu de uma vez.
- Posso saber onde?
- Acho melhor não – ela
andou na minha frente com pressa e falou com o Chris pegando a suas coisas e
indo em direção ao vestiário. O garoto estava empolgado em falar alguma coisa,
tanto que ficou resmungando alto algumas coisas como ela ser “mal agradecida”
ao sair de perto dele e não falar nada.
- Cara! A corrida foi
irada! Primeiro você zum! Aí no final ela zum! Aí na segunda vez ela zum, zum,
zum! – ele fazia gestos com as mãos como se fossem as nossas curvas, seu tom
era extremamente animado o que até um surdo notaria que ele estavam já que não
parava de pular.
- É.
- Que cara é essa?
- Lua está estranha.
- Lua sempre foi estranha,
dã.
- Não, não é isso. Por
exemplo, agora pouco ela disse que nunca iria acostumar com o calor que faz a
roupa de corrida – a roupa era realmente muito quente, só agora tinha notado
que o meu cabelo estava mais escuro e com pedaços colados na minha testa pelo
suor – e então perguntei se ela já tinha usado, ela respondeu “sim”, mas com
dificuldade, perguntei onde, mas ela disse que era melhor eu não saber, daí
correu para o banheiro. Acho que ela está escondendo alguma coisa.
- E você demorou esse
tempo todo para descobri isso?
- Que ele já tinha usado
o macacão?
- Não tapado, que ela
anda escondendo algumas coisas.
- Você notou?
- Há muito tempo! Isso é
tão obvio! Lua não fala muito do seu ano em Nova York e você nem mesmo imagina
porque, acertei?
- Não.
- Pois então, nem eu. Às
vezes ela quer contar algo, mas segura para si, como se, além disso, teria que
falar algo que não quer que saibamos – o que o Chris falava era verdade, eu
sabia poucas coisas de como foi a vida dela em Manhattan, e quando se tratava
de algo por lá ela sempre fugia do assunto, mas eu nunca tinha parado para
notar.
- É verdade...
- E depois o sonso sou
eu – Chris cruzou os braços emburrado. – Sou mais inteligente do que você.
- Só em sonhos
Christian. Só em sonhos.
- Ela pediu para você
esquecer de como ela era antes não foi?
- Foi, mas...
- E você esqueceu?
- Estou tentando, mas...
- Justin, se você não
parar com a imagem que tinha da Lua de antes, você nunca vai notar como ela
mudou, e não foi pouca coisa.
- Espera! Isso não está
certo, como você notou essas coisas e eu não?
- Simples! Como eu
passei menos tempo com ela, para mim foi mais fácil “enxergar” – ele fez as
aspas – uma nova garota, você ainda está cego pelo o que ela era.
- Ta bom então seu gênio
perceptivo, sabe dizer o que a Lua está escondendo então?
- Claro que não, se está
escondido é porque não foi achado oras! – tive que rir daquilo, ele falou com
uma tonalidade tão obvia e clara, como se eu tivesse feito a pergunta mais
estúpida do mundo e ele dissesse a resposta mais inteligente e simples que
poderia existir. – Falando nela – ela acenou a cabeça para trás e eu me virei a
tempo de a ver dando um tapa da cara do tal Johnny.
- Ui! – Chris e eu
dissemos em uníssono.
Ela veio caminhando até nós pesadamente, como
uma raiva transbordando pelos olhos, o carinha tinha pedido o telefone dela e
provavelmente disse alguma gracinha, só isso para ela está com raiva assim.
- Olha que cara de pau!
Aquele cara além de pedir meu telefone me chamou de “gostosa” – isso explica o
tapa caprichado. – Quem o deu esse direito? Ele pensa que eu sou o que? Uma
dessas californianas que anda de biquíni para cima e para baixo dando mole para
o primeiro que vê pela frente? – ela estava tão revoltada que chegava a ser
engraçado, então Chris e eu mordíamos os lábios tentando não ri, estava
difícil. Ela estava tão engraçada irritada, que um repentino ciúme que tinha
tomando conta de mim quando ela disse que ele o chamou de “gostosa” passou, não
era preciso eu tirar satisfações com ele, ela já tinha feito isso.
Ela bufou e cruzou os braços irritada, depois
olhou para nós dois e revirou os olhos.
- Podem rir – não aguentamos,
soltamos uma gargalhada alta que ecoou por todo o estabelecimento. – Agora
Bieber, vai tirar essa roupa, estou cansada e quero voltar para o hotel, por
favor – ela começou a frase irritada, mas depois deu um tom cansado.
- Tudo bem – respirei
fundo parando de ri e fui trocar de roupa.
Fui trocar de roupa e senti meu corpo ficar
mole, estava ficando cansado o que era estranho porque eu me sentia muito bem
até correr, daí me senti melhor e agora estou completamente cansado. Quando
voltei, vi Lua e Chris – extremamente animado – conversando, mas tinha algo de
“errado”, nem mesmo Christian estava tão animado como deveria.
- Oi de novo.
- Oi – apenas Lua me
respondeu, Chris estava ocupado bocejando.
- Eu estou com sono.
- Nem desconfiei –
murmurei, depois passei os olhos pelo lugar, mas não achei os caras
responsáveis e muito menos a Caitlin, o que era estranho já que nessas situações,
cuja Lua está por perto, ela sempre dá um jeito de ficar com os olhos em nós,
mas já que ela quis desaparecer, melhor. – Não estou vendo Tom e Johnny, onde
estão?
- Eles entraram lá – ela
acenou com a cabeça para o lugar no qual eles haviam saído quando chegamos. –
Logo em seguida que você foi para o vestiário, Tom parecia reclamar de alguma
coisa com o Johnny, deve ter ido tirar satisfações do tapa que eu dei nele, já
que veio aqui perguntar porque eu fiz isso antes de se enfiar lá.
- Justin, a cara do
cara...
- “A cara do cara”
Chris?
- É Justin, a cara do
cara – contive a risada e soltei um “Hum” para que ele continuasse. – Então, a
cara dele ficou vermelha com a exata marca dos cinco dedos.
- Cinco não, quatro, o dedão
ficou só um pedacinho – Lua confirmou.
- Me lembre de nunca
querer levar um tapa seu – disse e ela riu.
- Não é só porque não
quer, que não irá apanhar – ela fez uma expressão debochada – Mas pode deixar,
para você é com carinho – e depois sorriu.
- Senti que estou
sobrando – Chris começou a se afastar.
- Volta aqui Chris!
- Não Lua! Eu entendi,
estou sobrando!
- Chris! – ela correu
até aquela criatura dramática que já tinha se afastado bastante e o abraçou
fazendo cócegas.
- Ta bom, ta bom! – ele
ria. – Para! Para! – e ela parou.
- Vai parar de
palhaçada?
- Vou. Vou – nesse exato
momento ouvi uma porta se fechar e quando me virei era o Tom com uma aparência
aborrecida que tinha acabado de sair de onde estava.
- Eu já volto, e Lua,
por favor, não mate o Chris de cócegas você vai ser presa por isso – ela sorriu
e assentiu como se quisesse dizer “pode deixar” depois começou a correr atrás
dele feito criança.
Fui até o cara e disse que iríamos, estávamos
cansados e eu nem sabia de onde aqueles dois tiravam tanta energia para correr.
Ele então me agradeceu e disse para voltarmos sempre que estivéssemos em Los
Angeles, e que a Lua corria muito bem, gostaria de vê-la correndo com alguns
dos melhores pilotos que frequentavam ali. O agradeci e chamei os dois que
estavam apoiados um no outro, completamente ofegantes, depois as crianças da
história era Chris e eu, agora no meu lugar entrou a Lua.
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